Uma Noite de Natal

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24/25 de dezembro.


Querido Diário,

Não sei por que comecei assim, acho que por convenção, todo mundo começa com "Querido Diário" então vou começar também.

Ainda é noite de Natal, são 3:00 horas da madrugada e eu queria muito escrever isso antes de dormir.

Minha mãe é garçonete numa lanchonete e teve que trabalhar hoje para ganhar um extra, por esse motivo não tivemos ceia de Natal esse ano. Não que tivéssemos nos anos anteriores, geralmente sempre acontece um imprevisto e adiamos para o ano que vem.

Minha irmã tem 4 anos e acabou dormindo cedo na casa da vizinha, ela dorme lá em dias assim, então resolvi levar meu irmão (ele tem 12 anos) para ver um coral natalino no shopping no bairro vizinho.
Eu tinha pouco dinheiro, e ainda queria comprar um presente de natal para ele então fomos a pé. Atravessamos o bairro, que é tranquilo para nós pois moramos aqui e ninguém mexe com nós.

Quando chegamos no shopping o segurança não nos deixou entrar, ele disse que ali não era lugar para a gente, meu irmão não entendeu o que estava acontecendo mas eu sim, porém não queria estragar o natal dele, sentamos na calçada e eu fiquei pensando o que fazer, não fazia ideia mas eu queria muito proporcionar aquele momento para meu irmãozinho.

Parece que Deus ajudou, pois um instante depois chegou uma van escolar cheia de crianças, puxei meu irmão e entramos juntos com as outras crianças, como se fizéssemos parte da excursão.
Foi muito lindo, vimos o Papai Noel (eu sei que é só um ator fantasiado, mas o que importa é a magia do Natal) e assistimos um coral cantando músicas natalinas belíssimas. Meu irmãozinho estava encantado, seus olhinhos brilhavam, nessa hora todas as dores desaparecem, é o espirito do Natal que toma conta das pessoas.

Quando terminou o coral fomos nas Lojas Americanas, eu queria comprar algo para meu irmão, estava tudo muito caro, ou eu não tinha dinheiro suficiente, não dava para comprar nada. Páris pegou um panetone que estava em promoção e eu paguei. Ele ficou muito feliz, pela primeira vez íamos comer um panetone.

No caminho de volta para casa, já era tarde por volta de 11 horas da noite, viemos brincando e nos abraçando, estávamos muito feliz. De repente vi Páris parado, olhando fixamente para o outro lado da rua. Tinha duas crianças mas ou menos da nossa idade, sujas, cabelo bagunçado, a mais nova chorava no ombro da mais velha, ambas sentadas na calçada, sobre uns jornais e cobertas com uns cobertores sujos e rasgados.

Sem que eu tivesse tempo de reagir meu irmão atravessou a rua, parou em frente as crianças e entregou o panetone que acabara de ganhar. As crianças pareciam nem acreditar, mau agradeceram e já estavam comendo felizes e rindo. Ele voltou para onde eu estava e me abraçou, "desculpa" ele disse "aquelas crianças precisavam mais do que nós". Eu o abracei e caminhamos até nossa casa.

Passamos o Natal abraçados ouvindo as canções natalinas que vinham da rua e ele logo adormeceu no meu ombro. Antes de adormecer ele me abraçou e disse: "Esse foi o melhor Natal da minha vida". Agora já é 25 de dezembro, são exatamente 3 horas da manhã, ele está na cama dormindo como um anjo, e eu resolvi escrever esse diário apenas para registrar o quanto meu irmão é grande e como ele vai ser uma pessoa incrível . Um dia eu terei muito orgulho da pessoa que ele se tornará. Eu o amo muito e vou sempre protege-lo por que ele nasceu pra iluminar a nossa vida.
 
Feliz Natal!

Heitor

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