Prólogo;

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Todos nós temos medos de que não falamos.

Alguns são bobos e simples como o medo de aranhas ou ratos, bichos e insetos pequenos com aparências esquisitas. Outros são grandes e tenebrosos como de lugares assustadores ou daqueles que não estão mais entre nós. Independente do grau, todos sempre tem medo de algo.

No entanto, no pequeno vilarejo de Yeoleum Falls os medos se escondem atrás do desconhecido. No alto da colina, há um enorme e belo casarão que por anos está abandonado. Lendas rodam por todas as bocas da vila de como aquela casa se mantém tão bem conservada, mesmo que ninguém se atreva a pisar naquele lugar. O jardim que rodeava a mansão crescia os mais lindos brotos de rosas vermelhas e a pintura da casa nunca perdia a sua cor. Alguns poucos diziam ter visto algum caseiro circulando o local durante a noite, outros acreditavam que a casa era amaldiçoada por ter sido construída sobre um cemitério.

O mais estranho era que ninguém sabia mais quem havia sido o seu primeiro morador, ela estava ali por tanto tempo que até mesmo os homens mais velhos do vilarejo não se lembravam. Os nomes dos últimos moradores, porém, nunca foram esquecidos. Seus nomes são usados para assustar as crianças mal-criadas que se recusam a dormir cedo e negados entre os aventureiros da densa floresta em uma roda com fogueira.

Todos nós temos medos e Park Jimin estava vivenciando o seu naquele momento.

Podre Jimin. Ele apenas cobiçava por sair da grande bolha que sua vila parecia ser. Era um lugar quente demais e esquecido no mapa. As pessoas só sabem fofocar umas sobre as outras, visto que não se tem nada para os entreter no vilarejo. Seus (poucos) amigos todos com preconceitos e línguas afiadas demais para seu gosto, não sabiam o que era uma noite sem roubar a picape velha dos pais e fazer apostas de quem transava melhor com tal garota da região.

Jimin nasceu e cresceu no vilarejo de Yeoleum Falls, mas não sentia que pertencia ali. Além de cobiçar a vida maravilhosa na cidade grande, ele era o “único” que não acreditava nas lendas que lhe diziam sobre o casarão. Para ele, ela não passava apenas de uma estrutura antiga que aguentou muitos anos. Foi por isso que ele aceitou o desafio de seus amigos de passar uma noite lá.

Ele não deveria ter feito isso.

Sua mãe sempre o alertou sobre como algumas pessoas são traiçoeiras e oportunistas. Isso sempre aparecia em sua mente quando estava com seus colegas. No entanto, ele se atreveu ignorar desta vez para provar um ponto.

Park Jimin deveria ter escutado sua mãe, afinal.

Naquele momento, ele estava escondido dentro de um enorme guarda-roupas velho. Sua mão trêmula pressionando sua boca com força segurava os gritos que queriam escapar. Suor e medo corriam pelo seu corpo enquanto ouvia os passos de um ser sobrenatural se aproximando cada vez mais do quarto onde ele se escondia. Ele conseguia ouvir o estalar de cada articulação do corpo da criatura mais alto que seus próprios batimentos. Jimin queria gritar por ajuda, clamar por alguma salvação mas sabia que estava perdido, preso em um pesadelo que não poderia acordar.

Os sons dos passos cessaram, deixando uma massa de ar frio chegar até os ossos do jovem garoto. Pela a fenda das portas, Jimin se atreveu a olhar pelo o quarto em busca da criatura. O quarto estava vagamente escuro, não se podia ver muita coisa e sua visão estava levemente embaçada pelas lágrimas enquanto procurava por algum sinal da Fera, sem encontrar nada. Ele aguardou alguns longos segundos em meio ao silêncio, esperando alguma prova de que realmente estava só. Talvez ela tivesse o deixado.

Então ele ouviu um barulho novamente, desta vez, no alto do guarda-roupa.

Quando olhou para cima, se deparou com os olhos de uma outra criatura, agora ruiva, pairando sobre si. Brevemente, passou pela cabeça de Jimin o quanto fascinante e bonita ela era. Nunca tinha visto aquela mulher pelo o vilarejo antes, certamente teria notado os cabelos vermelhos flamejantes e se apaixonado instantaneamente.

O fascínio foi tomado rapidamente por medo quando olhou para a mão dela.

Ela portava uma arma prateada e mirava diretamente em Jimin. Seu rosto esboçou um sorriso ao ver o medo nos olhos do garoto e sussurrou algo que a mente adormecida do Park nunca iria esquecer. O som do disparo ecoou por toda a casa e adentrou na floresta. O grito foi ouvido logo em seguida mas morreu tão rápido quanto surgiu, sendo levado pelo o vento e deixando para trás o silêncio da noite.

No vilarejo de Yeoleum Falls, os medos se escondem atrás do desconhecido. As pessoas fofocavam uma das outras por falta de entretenimento junto com adolescentes preconceituosos que gostam de desafiar seus colegas a fazerem loucuras por diversão, enquanto jovens sonhadores eram atraídos pela bela mansão no alto da colina e tinham pesadelos com os rostos de duas feras à noite.

As lendas que eram contadas sobre a casa eram consideradas apenas ficção dentro de mentiras que se sustentaram durante os anos, mas havia uma verdade nessas histórias que sempre é dita e temida: Os monstros vivem para sempre.

Feitiço PerversoOnde histórias criam vida. Descubra agora