capítulo onze

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A CORTE BRINDA NO FIM DO BANQUETE erguendo as taças na direção da mesa real. Aqui estão
eles: grandes senhores e senhoras tentando arrancar algum favor do rei. Logo terei de saber
identificar cada um deles, associar cada cor a uma Casa e cada Casa a seus membros. Bailey
me sopra seus nomes, embora eu não vá me lembrar de nada amanhã. É chato no começo, mas
logo me pego curiosa para ouvir.
Lord Samos é o último a levantar. Quando o faz, o silêncio toma conta do ambiente. Esse
homem é respeitado mesmo entre os titãs. Apesar de seu traje preto ser simples, costurado em
seda comum, e de não carregar grandes insígnias ou joias, ele exala um inegável ar de poder.
Não preciso que Bailey me conte nada para saber que Lord Samos chefia a mais elevada de
todas as Casas, e é um homem para ser temido acima de todos os outros.
- Volo Samos - sussurra Bailey . - Chefe da Casa Samos. Possui e administra minas de
ferro. Cada uma das armas usadas na guerra sai das suas terras.
Então ele não é apenas nobre. Sua importância vai além do título.
O brinde de Volo é curto e direto.
- À minha filha - troveja em voz forte, grave e firme. - À futura rainha.
- A Sabina! - grita Ptolemus, erguendo-se de um salto para ficar ao lado do pai.
Seus olhos varrem o salão desafiando alguém a se opor a ele. Alguns parecem
incomodados, irritados até, mas erguem a taça como os demais para saudar a nova princesa.
As taças refletem a luz como se fossem pequenas estrelas na mão de deuses.
Quando terminam, a rainha Elara e o rei Tiberias levantam, ambos sorrindo para os
convidados. Noah também fica de pé, seguido por Sabina, Bailey e, após um segundo de
distração, me junto a eles. As muitas Casas fazem o mesmo em suas mesas. E o arrastar das
cadeiras sobre o mármore soa como alguém cravando pregos numa pedra. Graças aos céus, o
rei e a rainha simplesmente fazem uma reverência e descem os poucos degraus rumo à saída
da mesa principal. Acabou. Sobrevivi à primeira noite.
Noah toma Sabina pela mão e ambos seguem atrás do casal real. Bailey e eu vamos na
retaguarda. Quando toco sua pele, sinto um frio impressionante.
Os prateados nos cercam. Um silêncio carregado domina o ambiente. Rostos curiosos,
ardilosos e cruéis nos observam - e por trás de cada sorriso educado, um lembrete: estamos
de olho. Cada par de olhos me estuda dos pés à cabeça em busca de falhas, defeitos. Vacilo,
mas não posso cair.
Não posso dar um escorregão sequer. Nem agora nem nunca. Sou especial. Sou um
acidente. Uma mentira. E minha vida depende simplesmente de sustentar a ilusão.
Maven aperta minha mão, um estímulo para seguirmos em frente.
- Está quase acabando - cochicha à medida que nos aproximamos do fim do corredor. -
Quase lá.
O sufoco passa quando deixamos o banquete para trás, mas as câmeras ainda nos seguem
com seus olhos pesados e elétricos. Quanto mais penso nelas, mais forte fica seu olhar, ao
ponto de conseguir saber onde estão antes de vê-las. Talvez seja um efeito colateral da minha
"situação". Talvez todos se sintam assim, só que eu nunca tinha sido rodeada por tanta
eletricidade. Ou talvez eu seja uma aberração.De volta a uma das passagens do castelo, um grupo de sentinelas aguarda para nos escoltar


até o andar de cima. Mas que tipo de ameaça pode existir para gente assim? Noah, Bailey e o


rei Tiberias controlam o fogo. Elara controla a mente. O que podem temer?


E nós vamos nos levantar. Vermelhos como a aurora. A voz de Gabrielly , as palavras de meu


irmão, o credo da Guarda Escarlate: tudo volta à minha cabeça. Já atacaram a capital, aqui


facilmente pode ser seu próximo alvo. Eu posso ser um alvo. Gabrielly pode me desmascarar na


próxima transmissão pirata para sabotar os prateados. Vejam as mentiras deles, vejam esta

A Rainha Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora