Sete

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Eu estava na sala de jantar terminando de arrumar a mesa para o almoço de Sarada quando Karin apareceu, observando minimamente cada detalhe que eu fazia. Era a primeira vez que eu a via hoje, ela andou sumida a manhã inteira, trancada no escritório do mestre Uchiha, como assim ela o chamava.

- Boa tarde, senhorita Haruno.

- Boa tarde, Karin.

- Tudo bem por aqui?

Ajeitei o garfo que estava torto na mesa e virei toda a minha atenção para ela.

- Sim. Só estou terminando de arrumar a mesa para a pequena Sarada almoçar daqui a pouco.

Karin apenas assentiu levemente com a cabeça.

Era estranho estar perto de Karin, era desconfortável. Apesar de sermos empregadas daquela casa, eu tinha consciência de nosso nível de cargo, e ela fazia questão de deixar claro quem mandava e quem obedecia. Não deixava brechas para uma pequena troca de palavras fora do contexto robótico profissional. Eu me sentia sozinha naquela casa, quase duas semanas ali e a única pessoa que eu tinha um pouco mais de diálogo era uma criança de sete anos. Sentia falta de minhas amigas, de nossas conversas malucas e de sair um pouco para espairecer a mente. Também sentia saudades de meus pais, da minha cidade, da minha vida anterior...

Mas eu estava ali para fugir de tudo aquilo, de tentar me reencontrar e preencher o buraco em meu peito e colar os pedaços quebrado de mim mesma. O fato era que eu queria desesperadamente desabafar com alguém, resmungar minhas lamentações e receber como resposta algo que me confortasse um pouco e aliviasse a pressão duvidosa de que eu não estava fazendo besteiras. E por um segundo eu pensei na possibilidade de que Karin podia de alguma forma tomar o papel de uma... amiga. E com esse tipo de pensamento eu cometi o erro de fazer a pergunta, que logo em seguida eu me arrependi:

- Karin, posso fazer uma pergunta?

- Prossiga.

Seus olhos âmbar focados em mim, observando cada detalhe de minha expressão. Foi um erro. Foi tudo o que pensei quando percebi que não podia existir amizade entre nós duas, a barreira de gelo era dura demais, meu desconforto perante seus olhos capturadores era grande demais. Havia sido um erro tentar um diálogo para promover uma aproximação amigável.

Mordi a língua, e procurei internamente algo que poderia contornar aquela situação, e não demorei para achar, e foi algo que atiçava minha curiosidade.

- O que há detrás daquela porta que tem na cozinha... quer dizer, esse foi um dos cômodos que você não me mostrou.

Sua sobrancelha ruiva ergueu-se para cima.

- Creio que isso não seja da sua conta, senhorita Haruno.

Sim, ela tinha razão, não era de minha conta e eu tinha consciência de que eu mereci aquele tipo de resposta.

Seus olhos ainda me avaliando disse:

– Mas pelo pouco que a conheço, percebi que é dada pela curiosidade, e não tardará para que me aborde sobre isso novamente.

Franzi o cenho. Não havia gostado de sua resposta. Eu tinha vergonha na cara e sabia me por em meu lugar depois de uma patada daquelas.

- Fique tranquila, pois eu sempre aprendo depois do primeiro corte.

- Bom saber – respondeu, nem um pouco abalada com minha ironia. - Mas respondendo sua pergunta, é um refrigerador, vamos dizer assim.

- Refrigerador?

- O mestre Uchiha tem um gosto muito peculiar quando o assunto é a alimentação. Alguns alimentos vêm de muito longe e... precisam de uma atenção especial.

The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora