Único

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O céu estava caindo.

Aquela expressão nunca parecera tão literal para Soobin. Ali, sentado no chão de uma loja de conveniências, agradecia aos céus pela boa vontade do balconista que até agora não tinha expulsado ele e o garoto de fios tingidos de rosa. Ele também se segurava para não chorar.

A forma pela qual havia conhecido o mais velho fora um tanto quanto desagradável. Era uma tarde de domingo quando percebeu que havia um contato salvo como Jjunie hyung, acompanhado de uma carinha apaixonada, no celular de seu namorado, Choi Beomgyu. E, quando leu as conversas que os dois tinham, soube que estava sendo traído. Ele pensou em confrontar o namorado, principalmente quando percebeu que o outro não fazia ideia de que não Beomgyu não era exclusivamente seu, entretanto, apenas salvou o número do rapaz com o qual compartilhava o namorado, pensando em como se vingar.

Tudo só piorou quando, no mesmo dia, o mais novo terminou consigo, sem dar explicações concretas. Ora, ele já tinha as explicações que precisava, Beomgyu havia escolhido Yeonjun, certo?

Errado.

Soobin contatou o rapaz para alertá-lo e como resposta, soube que também havia terminado seu relacionamento. E, juntos, Yeonjun e Soobin buscaram entender o motivo do Choi mais novo ter terminado com ambos. Não tardou até que descobrissem que ele estava com outro garoto. Seria um choque, se já não soubéssemos da fidelidade movediça de Beomgyu.

E, assim, os dois terminaram, naquela tarde chuvosa, em uma loja tão vazia quanto seus corações, afogando as lágrimas em cerveja barata.

- Acho que nunca mais vou me apaixonar por ninguém. - Soobin disse, dando um bom gole de sua lata de cerveja.

- Eu diria o mesmo, - Yeonjun suspirou - mas no fim, nós sempre vamos atrás de alguém para partir nosso coração outra vez, não é mesmo?

- Por que diabos fazemos isso?

- Talvez seja carência, talvez a sociedade imponha tanto que tenhamos alguém que isso se torna um objetivo inerente.

Soobin sabia que o mais velho estava certo, mas tudo o que ele desejava era esquecer tudo aquilo que aconteceu. Destruir cada sentimento, cada momento de felicidade ilusória. Ele queria apagar Choi Beomgyu de sua memória, junto a toda dor que sentia em seu coração. Naquele momento, romance e amor não passavam de uma grande armadilha, na qual havia se envolvido com um bobo.

Yeonjun, por outro lado, se sentia decepcionado. Sua vida romântica estava marcada por relacionamentos catastróficos. Tantas juras de amor haviam sido jogadas ao vento, tantos sentimentos falsos, tudo isso deveria contribuir para uma percepção negativa do amor, mas tudo o que ele pensava era em como seria sua próxima história de amor.

Sem que conseguisse mais se conter, Soobin deixou suas lágrimas escaparem torrencialmente. Isso não passou despercebido pelo mais velho, que rapidamente abraçou o outro rapaz e disse, com um sorriso amarelo:

- Não chore, o céu já está fazendo isso por nós dois.

Mesmo assim, o mais alto chorou até que seus olhos se fechassem e ele dormisse, cansado de tanto chorar, no ombro do outro rapaz.

- Ei, seus dois vagabundos, saiam do meu estabelecimento. - Os dois rapazes acordaram ao ouvir o homem de meia-idade gritar.

O olhar que o balconista lançava para os dois ainda era de pena, mas seu chefe não compartilhava do mesmo sentimento. Yeonjun lançou um sorriso de agradecimento ao rapaz que havia os recebido bem por tanto tempo e saiu da loja, sendo seguido por Soobin. Os dois andaram alguns metros até pararem em um ponto de ônibus, onde estariam protegidos da chuva.

- E agora, o que faremos? - o mais novo perguntou, apertando a barra de seu moletom.

- O que você quer fazer?

A pergunta se repetiu várias vezes na mente de Soobin. O que ele queria fazer? Ele queria seguir em frente? Queria chorar mais? Ele estava confuso.

- Soobin? Por que está parecendo que eu acabei de te perguntar se você quer matar um animal fofo ou empurrar uma senhora no meio da rua?

- Eu não sei o que fazer - disse, cabisbaixos.

- Você quer voltar para casa? Eu te levo. - Yeonjun perguntou.

- Para ser sincero, não.

Tudo na casa de Soobin o lembrava seu ex. Todas as noites que passaram na varanda observando a vista incrível da cidade ou assistindo filmes até cair no sono sem se preocupar em desligar a televisão, cada metro quadrado continha alguma lembrança que se tornara dolorosa aos seus olhos.

- Somos dois, vamos ficar aqui, quando a chuva passar nós pensamos no que fazer.

- Você é uma pessoa muito boa, Yeonjun-ssi. - O mais alto sorriu, sem mostrar os dentes. - Obrigado, você sabe, por me consolar mais cedo. Eu sei que não deve estar sendo fácil para você também, gostaria de ter feito o mesmo por você.

- Você está fazendo, ficar sozinho seria pior. Mas confesso que seria melhor ter te conhecido em outra situação, nós poderíamos ser amigos.

- Ei! Isso não impede que sejamos amigos, nenhum de nós tem culpa disso.

- Você tem razão, nós podemos ser amigos.

- Só vamos fingir que não nos conhecemos por causa de um chifre compartilhado, podemos esquecer esse detalhe.

- Você realmente acha que vamos esquecer de tudo? - Perguntou, retoricamente. - Nós não precisamos esquecer, só tentar tirar alguma lição dessa experiência e usá-la no futuro.

- Sim, eu vou usá-la para ter certeza de que nunca mais vou me apaixonar.

- Você já teve algum relacionamento amoroso antes de Beomgyu?

- Sim, tive um igualmente catastrófico. É por isso que eu digo que não irei me apaixonar outra vez, eu estou cansado disso.

Yeonjun sorriu, assim como o outro rapaz, também se sentia cansado de tudo isso e sugeriu:

- Vamos ver até onde vamos com essa sua ideia de nunca mais se apaixonar.

Aos poucos a intensidade da chuva diminuiu, até que todas as nuvens cinzas que cobriam o céu se dissiparam, dando lugar ao sol e a iluminação característica dos dias de verão. E, como sempre ocorria quando os raios de sol se encontravam com a água presente no ar, um arco-íris enfeitou o céu. De uma forma um tanto cômica se considerar a situação em que os dois se encontravam. Mas, por outro lado, ao olharem para aquele lindo fenômeno físico, os dois rapazes sentiram algo que não parecia ser possível naquela tarde melancólica: esperança.

Semanas após, os dois rapazes continuaram se encontrando, de forma que a lembrança do acontecimento trágico que havia originado aquela amizade se tornasse insignificante. Ela ainda estava ali, mas nenhum dos dois se importavam, como se todas as engrenagens de seus sentimentos tivessem voltado ao seu devido lugar e, talvez, estivesse tudo pronto para funcionar, como antes, outra vez.

Dessa vez, eles estavam assistindo um filme de super heróis na casa do mais velho e, como no dia em que tal amizade se iniciara, chovia muito. Até que, como se o universo conspirasse para que os planos dos dois para aquela noite não dessem certo, a tela da televisão ficasse preta e todas as luzes se apagassem.

- Droga, estava na melhor parte - Yeonjun reclamou, ligando a lanterna de seu celular. - E agora?

- Vamos esperar?

O mais velho concordou, procurando algum assunto aleatório para iniciar uma conversa com o mais novo.

- Você viu que o Beomgyu atualizou o instagram hoje? - o mais novo perguntou, antes que Yeonjun conseguisse pensar concretamente. - Ele postou uma foto com o novo namorado.

- E isso importa?

Soobin pensou um pouco. Se isso tivesse ocorrido alguns dias antes, sim, importaria e muito. Mas hoje não havia dor e nenhuma lágrima seria derramada.

- Para ser sincero, - fez uma pequena pausa, podendo observar a expressão de desgosto do outro rapaz antes de sorrir  completar sua resposta. - eu não me importo mais.

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⏰ Última atualização: Dec 24, 2020 ⏰

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