Prólogo

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Evan Cel Tradet

Existem três tipos de ideias. As primeiras, são as ideias boas, aquelas que olhamos e pensamos "vai dar certo!", e não temos medo de colocar em prática. Em segundo, tem as ideias arriscadas. As chances de dar tudo errado são evidentes, mas não parece tão ruim ao ponto de precisar descartar, então cedemos e vemos no que dá. O terceiro tipo são as ideias insanas. São aquelas que soam ruins e de fato são. Esquecê-las é a melhor coisa a se fazer.

E sentado nesta sala escura com cheiro de poeira, a ideia que estão me apresentando agora com certeza é uma ideia insana. Boquiaberto, encaro as outras três pessoas na minha frente.

— Vocês perderam o juízo?!

Os três pares de olhos continuam fixos em mim, vívidos com a esperança de que vou aceitar a proposta ridícula.

— Não, esquece, não vou fazer isso.

Adrian revira os olhos acinzentados e leva o cigarro à boca, puxando uma longa tragada, o odor defumado se misturando ao de poeira. No fim, é Elind que quebra o silêncio, a voz num tom muito próximo de um sussurro:

— Eu falei que ele não ia querer.

— É um bom plano — Adrian segura o cigarro entre os dedos e apoia o braço no encosto da cadeira de Elind.

— Se é tão bom, por que você não vai?! — rebati.

— Vai ver por que eu sou procurado por uns três crimes diferentes?

Talassa ri pelo nariz. É um risinho curto e cheio de escárnio, mas essa mulher raramente ri, então vale a consideração.

— Além disso, olha pra cara dele. Você confiaria num sujeito desses?

Encaro Adrian e ele ergue uma das sobrancelhas grossas, quase como se me desafiasse.

— Tem razão. Não confiaria, não.

— Vão se ferrar, os dois.

— Chega — Talassa eleva a voz daquele jeito mandão que só ela sabe fazer, e me encara — Escuta, eu também não gosto da ideia, mas é a única forma de nos aproximarmos deles. Pense no efeito que ia causar!

Para a minha desgraça, ela tem um bom argumento. É um plano insano? Sim. Mas, se der certo, os holofotes do país vão se virar para nós e não haverá censura capaz de nos deter. Respiro fundo. Não acredito que estou considerando embarcar nessa maluquice, principalmente relevando tudo o que penso sobre ideias insanas.

Inferno.

— Tem que ser você — Adrian ressalta — Você é invisível pra eles.

— Prefiro dizer que tô morto pra eles.

— Cala a boca e me escuta. É fácil te colocar lá dentro. A gente te arruma um nome falso, falsifica os registros e mexe uns pauzinhos. Pronto!

— Fora que a Elind vai estar por perto. Se algo der errado, ela vai saber — Talassa emenda.

Olho para os três, um de cada vez, e todas as situações mortalmente perigosas que já enfrentamos juntos passam na minha mente como um filme de ação exageradamente cômico e trágico. Saímos vivos de todas essas encrencas. Talvez com alguns ossos quebrados, feridas para medicar e cicatrizes, mas vivos.

— Eu não vou aguentar. Não dou meia hora para eu mandar ela ir à merda.

— Você não precisa gostar dela de verdade, é só fingir.

Dou risada de Adrian. Claro, é muito fácil fingir que gosta de alguém. Quer dizer, algumas pessoas podem fazer isso. Ele pode fazer isso. Mas eu não.

— Vai acabar rápido — Elind insiste.

Agora eles me encaram como se fossem um bando de crianças insistentes com olhos gigantes, brilhantes e esperançosos. Jogo a cabeça para trás e bufo.

— Tá! Eu vou!

Adrian, Elind e Talassa se entreolham, a vitória nítida em seus olhares, até mesmo nos tímidos olhos castanhos-claros de Elind. Mas eles voltam a ficar sérios quando ergo a mão, levantando mais uma questão.

— O que vamos fazer com o cara que está lá agora? O Cadman?

Adrian termina o cigarro e sorri. E eu não gosto quando ele sorri desse jeito, porque é o sorriso que dá quando está com uma ideia estúpida na cabeça. Considerando o cenário atual, tudo o que eu não preciso é de mais uma ideia idiota.

— Deixa comigo.

Ele levanta da cadeira e caminha até a saída da sala. O acompanho com o olhar.

— Aquele velho vai ter o que merece.

Então, ele atravessa a porta e fecha com um baque. Eu apoio o cotovelo na mesa e massageio a ponte do nariz. Surpreendentemente, estou tão acostumado em me meter em problemas que não me preocupo tanto com a possibilidade de ser executado em público caso algo dê errado.

O que mais me incomoda, é que meu disfarce vai exigir que eu corte o cabelo. 

Espectros [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora