Holofotes ( parte II)

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_ O que está acontecendo? Perguntou a senhora Regina ao se aproximar e ver a inquietação de Georgina. Logo, Julia também se aproximou, disse que estávamos começando a chamar atenção e que deveríamos ir ao jardim para resolver o que fosse, falou de um jeito autoritário e disfarçando um sorriso.

Eu não tinha nada a dizer e tive vontade de aproveitar a oportunidade para ir embora, mas eu sabia que se saísse passaria por culpada, por seja lá o que fosse que aquela bruxa estava me acusando.
***
_ O que está acontecendo Davi, e você Georgina por que está acusando a Professora ? Perguntou dona Regina alheia à história.
_ A senhora não sabia que seu filho está se separando por causa dessa aí. Disse ela arrogante e irritada, logo que chegamos à parte mais deserta do jardim.
_ Claro que não Georgina, você sabe que estou me divorciando de você porque nosso casamento sempre foi de aparências e porque você resolveu levar o seu personal para a sua cama enquanto nossa filha estava em casa. Davi estava muito irritado.
_ Você e essa aí inventaram essa história, aquilo era um exercício, você foi envenenado por essa gorda, pobretona. Disse ela, me olhando.
Aquelas palavras me subiram a temperatura, como pode mentir daquele jeito... Que safada! e eu quase não me controlei, eu queria quebrar a cara dela.
... Calma! respira fundo, não perca a razão, é isso que ela quer... Eu pensava com intensidade.
_ Se você pensa que me ofende por me chamar de gorda e pobre, saiba que em mim isso não altera nenhuma pequena célula do meu corpo, acho que você vai ter que ser mais esperta ao usar esse seu vocabulário de vadia. Falei encarando-a e ela enlouqueceu.
Quis vir para cima de mim, Davi a segurou e eu me afastei rapidamente.

_ Acho que Já me demorei demais aqui, ouvindo acusações das quais eu sou inocente, me perdoe por qualquer coisa dona Regina, sua festa está linda, parabéns e boa noite. Falei e sai.
Davi ainda ficou segurando-a, enquanto ela gritava vários palavrões possíveis.

Ao chegar no salão, percebi que senhor Ícaro estava dançando com Dona Ester, não quis incomodá-los, resolvi sair e avisar ao motorista que iria para casa sozinha.

_ Antoniete, o que houve? vai embora? Arthur estava no gramado com uma taça de champanhe aparentemente um pouco mais alcoolizado do que deveria.
... Patético.

_ Sim. O que você faz aqui? Onde está Carla? Perguntei quando me acompanhou.
_ Ela não me dá atenção, agora está lá com aqueles amigos chatos dela, na verdade ela só quer me exibir. Disse ele com a voz lenta e embargada.
_ Vocês dois se merecem. Falei e Continuei meu caminho.

Ele esbarrou em uma das luzes coloridas e derrubou a taça, eu continuei, ele me chamou, pediu que o esperasse, e que eu não fosse sozinha, eu só queria deixar tudo para trás.
Correu um pouco, pois viu que eu não lhe dei ouvidos
_ Você está louca?! Segurou forte meu braço e me puxou encostando o rosto no meu tentou me beijar, aquilo me deu nojo!
... Que cheiro horrível de bebida.
O empurrei com força, mas foi em vão, ele é muito forte e segurou meus ombros, tentei me soltar e virava o rosto com impaciência, nunca pensei que tentaria fugir daquele homem.

Arthur dizia que me queria, que eu o havia deixado louco de desejo, me abraçou quase me fazendo sufocar, tentou me beijar novamente, e eu não conseguia me soltar por mais que usasse toda minha força.

Foi então que algo o afastou de mim, algo que na verdade eu só percebi que era alguém quando também estava no chão depois de Arthur ter segurado em mim, para não cair. Quebrei um dos saltos do sapato de Dália... Ela vai me matar!! Aquele pensamento era trivial diante do fato de ter dois homens se esbofeteando no chão por mim, seria romântico se um não fosse casado e o outro tivesse acabado de tentar se aproveitar de mim. Me vi no chão, me senti infeliz, machuquei o joelho e as lágrimas desceram

Levantei em silêncio fui pela rua quase vazia e escura, chorava mancava, a dor do joelho não doía tanto quanto a dor da soma de erros que se sucederam até me levar aquele resultado.

***
_ Antoniete! Era a voz de Davi, ele vinha correndo atrás de mim e eu tentei correr dele, mas meu joelho ardia ao tocar no tecido do vestido, tirei os sapatos e as pedrinhas da rua machucavam meus pés.

_ Não chega perto de mim! A culpa de isso tudo é sua. Eu nunca quis beijar você, eu nunca quis... Eu nunca quis... falei.
...Eu estava mentindo eu quis beija-lo sim, mas não fui capaz de dizer não. Ele me alcançou.
_ Eu sei, eu tenho culpa, mas desde o dia que te vi dormindo no meu sofá ... Não sei, eu vi algo diferente em você, eu gostei de você, e ver como você gosta da minha filha e se preocupa com ela... me faz te amar ainda mais. Disse ele em agonia e passando a mão pelo cabelo.

Eu o observava e via sinceridade em seus olhos, mas tudo aquilo era loucura, minha mente reprovava, não era só mais um conflito dentro de mim, era uma guerra que me silenciou e fizeram as lágrimas lavar meu rosto. Diante do vestido, joelho e o coração rasgado eu não conseguia mais lutar.
_ Antoniete, minha menina o disse senhor Ícaro da janela do carro e abrindo a porta rapidamente, o que você fez com ela rapaz? Perguntava ele. O rosto amigo de senhor Ícaro me confortaram. Entrei no carro amparada por ele
Não olhei para trás, não conseguia olhar para Davi, que insistia em falar comigo.
_ Depois vocês conversam meu rapaz. Disse senhor Ícaro. E fomos embora.

***
No outro dia demorei a levantar da cama, não sei como pude suportar aquilo tudo.
Eu me achava uma idiota e me culpava por não ter feito diferente, sei lá, eu estava enlouquecendo.

Antecipei minha ida para Cactus, passar minha última semana de férias.
Estar com minha família, no aconchego da infância me fazia ter a sensação de segurança, era como se os problemas e desafios, não ultrapassassem o velho portão de madeira.
***

_ Antoniete que bom revê- la, faz bastante tempo desde que você terminou o ensino médio. Disse minha antiga Professora dona Mônica, quando em fim resolvi sair de casa e dar uma volta pela feirinha de Cactus.

A encontrei sentada embaixo de um dos pés de Jatobá que ficava na praça, estava descansando da caminhada.

_ Olá professora Mônica, verdade mesmo, muita coisa aconteceu. Falei sem conseguir esconder o desânimo.
_ Sente aqui! Me convidou a sentar ao seu lado.
_ Sabe porque estou aqui hoje Antoniete? Perguntou ela.
_ Não sei, acho que para descansar. Falei sorrindo.

_ Você e seu humor, sorriu ela, e continuou. Decidi que a partir dessa última semana de férias vou logo começar a me acostumar com meu novo estilo de vida, sei que quando as aulas recomeçarem vou me sentir perdida e triste por não ir mais à escola.
_ Por que a senhora não iria? Perguntei.
_ Eu me aposentei. Disse ela com um leve sorriso.
_ Nossa que bom Professora! A senhora deve ter um monte de histórias, para contar desse tempo todo ensinando. Falei feliz.
_ Sim, tenho mesmo, e pensar que no começo pensei em desistir, eu passei por muita dificuldade, mas também passei por muitas alegrias, e uma das minhas alegrias é ver meus ex alunos bem, como você, fiquei muito feliz quando soube que você havia se formado.
_ Oh, Professora eu nunca voltei para agradecer, me perdoa, hoje eu sou o que sou por causa da senhora e de todos os outros que me ensinaram. Falei beijando-lhe as mãos enrugadas.
_ Não se preocupe querida, vê-los bem já serve para nós. Disse ela.
_Durante esse tempo da minha vida, mais do que ensinar eu aprendi que temos que acreditar nas pessoas, perdoá-las, amá-las, mas nunca devemos esquecer de fazer o mesmo com nós mesmos, a maior tristeza que existe é você não ser capaz de se amar e se perdoar. Disse ela.

A Professora Mônica me inspirou em muitas coisas, eu gostava muito dela, parecia que tinha sido enviado por Deus para dizer aquilo. Além disso ela ainda me mandou ir a escola, pois a vaga dela ainda não havia sido preenchida. É de Deus, só pode ser.

Ficamos em silêncio vendo as pessoas passarem.

Um aMor Fora Do padRãoOnde histórias criam vida. Descubra agora