Capítulo 5

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A partir do momento que Léo disse aquelas palavras, meu mundo tornou-se nublado e abafado. Eu podia ouvir a sua voz, mas não entendia uma única palavra. Os lugares por onde passávamos eram estranhos para mim, mesmo tendo vivido naquela cidade desde sempre.

Quando chegamos em casa, saí do carro automaticamente. Eu só enxergava meu quarto e minha cama. Atravessei a porta, subi as escadas... tudo isso sem notar absolutamente nada ao meu redor.

Eu podia ouvir vozes, sentir mãos me tocando, alguém falando comigo, mas era como se eu estivesse no fundo de uma piscina e toda aquela água abafasse o som e deixasse as outras coisas turvas aos meus olhos.

Ouvi uma voz alterada quando alcancei a porta do meu quarto. A abri, fechei e fui até acama. Não me importei em me trocar, em tirar sapatos, muito menos em limpar a maquiagem do rosto, simplesmente me lancei sobre acama e chorei até as lágrimas secarem ou o sono me vencer, não sei bem o que veio primeiro.

Havia dormido muito bem naquela noite, não era um cansaço físico, mas outro tipo de cansaço. Aquele cansaço de tudo, de todos e até de mim. Dormi o dia todo, e acordei com uma mão acariciando meus cabelos. Tratei de me afastar do toque, só conseguia me lembrar de Léo, do dia maravilhoso que ele me proporcionou com minha família, do jantar e da noite romântica, tudo isso com o propósito de me acalmar pra jogar a bomba no final.

Mas não era ele quem acariciava meus cabelos, era minha filha, mas ainda estava tão distante que mal ouvia sua voz. Ela me fez olhar em seus olhos e ver quem estava ali, então eu relaxei e permiti o carinho. Não demorou muito e meu filho também entrou no quarto, ele carregava a Lu. Lisa tinha mandado uma mensagem avisando que eu despertara. Fabrício colocou a gata ao meu lado, que tratou imediatamente de se acomodar.

Poucos minutos depois, Jô entra no quarto carregando uma bandeja.

— A senhora precisa comer. Não comeu nada o dia todo e se continuar assim vai adoecer. – Ouvi meio distante a voz da minha ajudante.

Eu não estava com fome. Na verdade, só queria a companhia de meus filhos e dormir mais. Virei-me novamente na cama, abraçando a gata que se esticou e fugiu do meu abraço, mas ficou esfregando a cabeça em meu braço.

Meus filhos insistiram para que eu comece, mas não comi. Como comeria se não tinha vontade?

Acabei adormecendo novamente. Quando abri meus olhos a luz do Sol entrava pela janela. Elisa estava aninhada ao meu lado vestindo uma camisola de algodão. Não resisti ao instinto de tocar seus cabelos, e enrolar seus cachos nos dedos. Ela abriu os olhos e quando me viu abriu um sorriso.

— Mãe, está melhor?

— Não. – Disse sendo sincera.

— Está sim. Ontem você passou todo o dia em choque. Não ouvia nem olhava para ninguém, dizia palavras sem sentido. Eu tive medo, não sabia como lidar com aquilo.

— Então devo estar melhor. – Forcei um sorriso para tranquilizar minha filha, mas não estava me sentindo melhor, apenas a sensação de que tudo estava abafado e sem forma ao meu redor havia passado, a dor era a mesma. – E seu pai?

— Dormiu no quarto de hóspedes. Quer falar com ele?

— Não.

— Mas mãe, logo ele vai embora...

— Shhh... por favor, esquece ele. Está tão bom aqui com minha filhinha.

Ela sorriu e me abraçou. Encaixou a cabeça em meu peito como fazia quando era criança e acho que cochilei.

— Mãe! – Abri os olhos ao som da voz de meu filho. – Trouxe o café da manhã, precisa comer. – Sorri para meu Fabrício e me movi para sentar quando senti o peso da cabeça de Elisa sobre mim, ela também tinha dormido naquela posição, e acabou despertando com meu movimento.

Nem tudo são joias (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora