22/11/2020
E o pequeno corpo franzino se agarrava ao seu como se estivesse em agonia constante. Sussurros quase inaudíveis escapavam de seus lábios, que agora experimentavam de um tom branco semelhante a cubos de açúcar refinado. Passou seus dedos delgados pela pele que estava descoberta pelos tecidos da roupa como se seus poros pudessem ser lidos como braile, onde em pequenas frases lhe diriam o que atormentava a carne e lhe tensionava os músculos.
— Eu finalmente encontrei você.
A voz sôfrega exprimiu em palavras abatidas, que foram interpretadas como lamúrias subentendidas entre as letras. A oração persistente bateu nas quatro paredes apenas para lhe atingir mais uma vez antes de se desfazer no nada e passar a existir apenas em sua lembrança. Ainda que estivesse condenada a ouvir apenas aqueles dizeres durante alguns breves minutos eternos, adotara uma personalidade irracional que a impedia de compreender com clareza os fatos que estavam diante de si.
Sem tempo para reaver seus sentidos, a jovem atracada ao seu corpo se dissolveu e embebeu ambas com suas lágrimas abundantes e extensas. A cabeça da mesma se afundou em seu tronco em busca de ocultar o rosto e camuflar seu constrangimento. Em resposta, firmou seus braços no trêmulo talhe latino como o imã se prende ao ferro. Enquanto estivesse ali, acolhida, não havia necessidade de ser mais forte do que realmente era.
A garota forcejou interromper o choro inúmeras vezes procurando se recompor de maneira instantânea, entretanto, tudo o que conseguira fora intensificar seu pranto a cada falha tentativa. Mesmo na eventualidade de que não houvesse de ter que ser breve, sentia-se na obrigação de cessar suas lamentações, pois, ainda que aparentassem ser infindas, estavam distantes de serem o suficiente para preencher as lacunas que deixara quando decidiu partir.
Haviam se passado quatro anos que se assemelhavam ao que se conhecia como intérmino. Lauren até este momento conseguia experienciar o gosto agro e amargo que visitou sua boca no momento que presenciou a ida da cubana. O doloroso som do fechar da porta lhe perturbou durante meses como se fosse o baque de sua cabeça em encontro a uma parede de metal. E, na medida que o tempo se ia passando, as cenas eram deturpadas em sua abalada mente. De repente, Camila não havia se retirado de uma sala de reuniões naquela manhã; conduziu-se para fora de seu peito, abandonando seu coração em uma lancinante dor.
No átimo em que a personificação da harmonia se ausentou da singela atmosfera familiar, construída afetuosamente com o passar dos anos, fora como se sua existência houvesse sido invalidada no interior das outras quatro integrantes que compunham a sinfonia. Evitava-se a todo custo pronunciar o nome desleal daquela que, em um ilusório momento de epifania, compactuou com sua ambição em um ato profano contra o espaço sagrado de apego que compartilhavam. Todavia, independentemente do recente desamparo, era semeado nos íntimos individuais a esperança, corolário de um inestimável apreço que expectava indulgências da agente de todo o dano.
Ali, diante daquela que regressava em consequência do que demasiado almejou, entrevou-se. Havia tanto a manifestar e as queixas sobejavam, não obstante, na ocasião presente que se encontrava, seus futuros dizeres não já não apresentavam peso expressivo algum. Em verdade, Lauren havia de querer confessar que a compunção vinha a lhe deteriorar nesses últimos anos. Não poderia sentenciar a cubana quando também tinha crimes cometidos.
Se inibiu ao memorar sua falha passada. Recordou de imediato a cena que transcorreu no quarto de Dinah, onde em um equívoco caiu nas tentações de consumar uma ação que não lhe pertencia. Não deveria ter feito, mas leu a carta que Camila enviara à loira em virtude do ciúmes e invídia que lhe invadiram a mente. Em seus escritos, padeceu na compreensão do amargor declamado nas curvas hediondas da letra cursiva, visto que a de tamanho ínfero ao seu unicamente ambicionava estar melhor.
Seu interior estrondeava em malevolência a si própria desde o acontecido, uma vez que poderia ter ligado, contudo nunca houve manifesto algum de sua parte para tal ato. Agarrada em penitências, tomou como seu compromisso a proporcionar todos os prazeres que fossem fazíveis no presente, conquanto a Cabello fosse afamada por transmudar suas preferências como o clima de Santa Ana.
— Eu ia eu ligar, juro que ia. Eu quis tanto...
A sentença faleceu. Tamanho era seu opróbrio para que sequer pudesse finalizar seu discurso.
— Essa batalha acaba se você realmente escolher ficar comigo agora.
Entre tanto suplício e aflição, floreou-se um sorriso genuíno apto de afugentar os traços que a amargura havia abandonado.
Ela havia retornado.
Porque mesmo sem nada ter sido dito, Camila sabia que era à Califórnia que deveria voltar.
