CAPÍTULO ÚNICO.

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Silêncio.

Louise lentamente coloca a taça de champanhe na mesinha de carvalho da sala de estar enquanto termina de lamber os lábios escarlate, contemplando o cômodo ao redor. As decorações alegres de Natal pouco fazem para dissipar a angústia que envolve todas as fibras de seu corpo, a magia do que seria um feriado tranquilo cortada rudemente pela tensão espessa no ar. Ela parece serena, mas há um olhar faminto nos olhos que faz o interior dos amigos estremecer.

As vozes não param de sussurrar, ecoando na mente dela, todas elas dizendo para não confiar neles.

— Qual de vocês desapareceu Scarlet?

A sala permanece em silêncio.

Ninguém reage de imediato — nada de olhos arregalados, exclamações surpresas ou ofensas —, mas Louise sente em sua própria pele que eles se arrepiam, como se a brisa de uma baía ricocheteasse nos pelos dos braços e da nuca.

Louise conhece todas aquelas pessoas — talvez até mais que a si mesma —, então não deixa a falta de afronta desmoronar sua determinação. As vozes continuam a dizer "um traidor", e a ideia se apegou como cola.

— Scarlet não aparece desde quarta-feira — ela continua, a voz baixa e calma. — Hoje é sábado. Ela saiu e não disse para onde foi, e depois nem voltou para nós. Ela está desaparecida e nenhum de vocês se preocupou com ela. Então eu quero saber: qual de vocês desapareceu Scarlet?

O silêncio preenche os ouvidos de Louise mais uma vez.

O coração dela bate freneticamente no peito e as mãos tremem de antecipação. Finalmente, segundos depois, Michael toma as rédeas e recebe atenção quando pigarreia timidamente.

O pobrezinho sempre tinha vergonha de falar, mesmo que todos se conhecessem a tantos anos.

— Talvez ela só tenha ido embora...

Louise ri amargamente, voz estridente cortando a linha tênue entre a sanidade e a loucura. Ela sente os outros estremecerem mais uma vez.

— Você sabe que não é assim, querido — diz, tentando ser um pouco mais gentil para não deixá-lo mais desconfortável, apesar de também desconfiar dele. — Ela não pode simplesmente ir embora.

— E por que não? — retruca Amanda, mais do que um pouco irritada com a forma como Louise se comportava. — Ela tem todos os motivos para ir embora.

— E você tem todos os motivos para dar um sumiço nela, né? Afinal, ela quem transou com o seu namorado.

Amanda não morde a isca. — Sim, e agora ela está escondida dentro da minha saia, quer dar uma olhada?

— Garotas — interrompe Nathan, que desde o começo da ceia havia sido o mais silencioso da casa. — Se controlem, por favor. Isso é um assunto sério.

— Ah, jura? — ironiza Amanda. — Você não parece tão preocupado. Parece suspeito para mim, né, Lou?

Louise sente o próprio sangue ferver, raiva surgindo de algum lugar que não sabia identificar. Ela respira uma, duas, três vezes, até conseguir manter a calma.

Você precisa trazer Scarlet de volta, é o que a consciência dela diz.

— Chega — diz entredentes, tanto para sua própria mente quanto para Amanda. — Nossa amiga está desaparecida. Ela adora o Natal, caramba. Ela nunca perde o Natal.

A sala cai em outro silêncio tortuoso, mas agora expectante.

 Michael pega a própria taça de champanhe da mesinha e gira em seus dedos longos, olhando pensativamente para os padrões de espuma que o líquido forma. A mente dele cai no inevitável limbo obscuro de depreciação, inevitavelmente pensando que havia sido por ele mesmo que Scarlet tivesse ido embora. Ele sempre teve uma tendência a afastar as pessoas, mesmo que não quisesse, e era só uma questão de tempo para que o resto fizesse o mesmo.

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