· Perspectiva de Rafaella
A grande noite do evento de apresentação do novo projeto tinha chegado, Rafaella encontrava-se tensa com a chegada da data. Depois da visita de Luiza no apartamento de Gizelly, Rafaella começou se sentir insegura com a ideia da mulher ter retornado para a vida de Gizelly.
Por mais que as duas tenham conversado a respeito naquela noite, logo após o jantar, sobre a visita e o que foi dito por Luiza, Rafaella ainda sentia o desconforto e insegurança tomar conta de si.
Ela já estava morando com Gizelly um pouco mais de um mês, este mesmo período marcava o tempo em que não via Bianca. As noticias que recebia dela era através da enfermeira responsável por seus cuidados, mas o contato se limitava a isto. Bianca estava no se recuperando com uma velocidade satisfatória, apesar de ter sido necessário que um fisioterapeuta ajudasse para que ela voltasse a ter forças no braço depois de retirar o gesso.
Rafaella sentia que algo ainda estava pendente entre elas. O fato de Bianca ter armado contra o seu relacionamento, e mais uma vez ter quebrado a sua confiança, era algo que a incomodava. Por mais que tenha seguido os conselhos de Gizelly, sentia que um confronto era necessário. Precisava olhar dentro dos olhos de Bianca e confronta-la sobre os seus atos. Mas decidiu esperar o momento adequado.
Gizelly estava com os nervos a flor da pele com o novo projeto, tinha revertido a festa para um evento beneficente tornando o evento ainda maior. Rafaella sabia que ela estava fazendo o impossível para sempre tirar um momento a sós com ela, e que isto lhe custava um aumento na tensão no projeto. Pois o tempo que seria utilizado para se dedicar a ele, usava para estar com Rafaella. E ela a amava por isto, tornando o impossível alcançável. Rafaella a cada dia se via perdidamente apaixonada por aquela mulher, por sua bondade e garra. Quanto mais a conhecia, mais admirava. Gizelly estava não só envolvida com projetos que visavam lucro, mas principalmente em projetos beneficentes em que a preocupação maior era o publico alvo, crianças e adolescentes carentes.
Então ela decidiu que só iria fazer uma visita a Bianca depois que passasse o evento, assim não daria mais motivos para Gizelly se preocupar e perder o foco de algo tão importante para ela quanto a realização deste projeto.
Eleita pelos paulistanos como um dos marcos culturais mais famosos da cidade de São Paulo, a Casa das Rosas é um dos prédios mais admirados e conhecidos na avenida Paulista. A mansão construída em 1935, já abrigou em seus mais de 30 cômodos os mais diversos tipos de pessoas, de barões a mendigos, de presidenciáveis a estudantes, de evangélicos a feministas, qualquer pessoa que estivesse disposta a buscar por cultura fora de seu ambiente. Mas apesar de ser de tamanha referência para algumas pessoas, a maioria dos transeuntes passam diante do seu jardim suntuoso desapercebidas, a mente imersa em seus problemas rotineiros ou, talvez, os olhos perdidos nas conversas ou aplicativos do celular.
Mas para Rafaella e Gizelly, naquela noite, a Casa das Rosas se tornou o ambiente perfeito para o lançamento do Projeto. Com canhões de holofote cercando a casa e violinistas recepcionando os convidados na entrada, o centro cultural parecia resgatar o seu antigo glamour e elegância de outras épocas, pronta para receber o top of the top, um publico selecionado não só nas áreas econômicas, mas também nas áreas culturais e politicas. Quem passava pela porta e observava os elegantes veículos pararem em frente à entrada principal, iluminados pelos flashes das maquinas fotográficas e constantes indagações dos jornalistas, acharia que estava diante da entrega de um prêmio de cinema, e não de um evento beneficente.
Sim, o poder exige luxo. E este evento demonstrava isto, seja na esfera social ou aquisitiva. Rafaella pôde entender o motivo de existir pessoas obcecadas por revistas, vídeos e qualquer noticia sobre celebridades e subcelebridades. Aquele mundo eram deslumbrante, repleto de excesso e glamour.
Assim que o carro parou em frente a entrada do evento, Rafaella sentiu o nervosismo tomar conta de si. Gizelly estava acostumada com tudo aquilo, ela permanecia calma, absorta em seus próprios pensamentos. O manobrista dar a volta no carro se posicionando ao lado d porta do motorista. Antes de Gizelly abrir a porta, se vira para Rafaella.
- Está pronta? – Pergunta ao segurar sua mão.
- Sinceramente, não. – Respondi Rafaella, num tom suave.
- Entendo, quando passarmos por ali. – Disse Gizelly apontando para a entrada do evento, onde vários fotógrafos aguardavam atrás da grade de proteção. – Finja que estamos caminhando por um lugar deserto, imagine que os flashes são apenas luzes de relâmpagos, os ignore. Não precisa se preocupar, estarei ao seu lado por toda a noite. Tudo bem?
- Tudo. – Respondeu Rafaella.
- Aguarde aqui, irei sair primeiro e abrir a porta para você. Quando eu segurar a sua mão, vamos ser bombardeadas pelos flashes, então ponha em pratica o que eu te disse. Ignore. – Disse Gizelly.
Assim que ela saiu, deu a volta no carro, abriu a porta do passageiro e estendeu a mão para dar apoio a Rafaella. Os flashes foram instantâneos. Alguns jornalistas perguntam sobre a importância daquela mulher na vida de Gizelly, outros a questionavam sobre o projeto. Gizelly ignorou todas as perguntas.
Tudo estava ocorrendo como o planejado. Gizelly estava suntuosa, o vestido verde escuro, liso e discreto, descia até os pés. Um fino bordado em prata subia pelo seu colo em direção ao pescoço, transformando-se em um delicado colar que se fechava em sua nuca e descia pelas costas lisas, uma pequena esmeralda a brilhar no final do fio, em contraste com sua pele morena. Nada de anéis ou colares, além de um par de brincos prateados, com pequenos diamantes. Rafaella chegou ao seu lado vestida com um lindo Valentino, escolhido por Gizelly. Era um longo simples, preto, com pescoço alto, mangas cumpridas e costas drapeadas. Sensual e sutil ao mesmo tempo, mas nem um pouco óbvio. Rafaella tinha puxado os seus cabelos para trás em um coque chingon elegante e pôs uma maquiagem mínima. A única joia que usava e o colar com pérola que Gizelly lhe presenteou e os pequenos brincos de pérola.
Em pouco tempo foram engolidas pela multidão, Gizelly destinada a cumprir a sua cota de convenções sociais, conversas enfadonhas e solicitações de apoio a determinadas causas. Rafaella permaneceu ao seu lado, distribuindo sorrisos tímidos e as vezes arriscando alguns assuntos. Ela agradecia internamente, por Gizelly nunca ter deixado se sentir deslocada ali.
Pouco tempo depois, Rafaella pôde ver a chegada de Marcella e Luiza, que não demoraram a vim cumprimenta-las. Ambas vestidas elegantemente.
- Boa noite, meninas! – Disse Marcela assim que se aproximou.
- Boa noite! – Disse Luiza, simples.
Rafaella apenas acenou com a cabeça.
- O seu dia chegou, preparada para subir ali e brilhar? – Perguntou Gizelly a Marcela, apontando para o palanque.
- Espero não estragar esta noite, ainda penso que a melhor escolha seria você ir la e falar. Você tem uma vasta experiência. – Disse Marcela, demonstrando o seu nervosismo.
- Confie mais em si. Você é capaz! – Respondeu Gizelly.
Enquanto Gizelly e Marcela conversavam, Rafaella retribuirá o olhar inquisitivo de Luiza. Ela a media da cabeça aos pés, como se estivesse julgando se Rafaella seria digna de estar ali. De fazer parte do mundo de Gizelly. Ela não se sentiu ameaçada pelo olhar que recebia, ao contrario, aquilo só mostrava que suas desconfianças estavam certas. Que ela deveria ficar com os olhos abertos e não confiar naquela mulher.
Após o jantar, que foi servido no jardim, em meio às belas luminárias e um excelente quarteto de jazz, Marcela aproveitou para ocupar o seu lugar como protagonista. Subiu em um palanque, construído perto de um dos conhecidos roseirais que dão nome à casa, e começou a falar, após cessarem as palmas.
Seu rosto relaxou assim que as luzes a alcançaram e, com confiança no olhar, começou a se fazer ouvir.
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Era você
FanfictionUma romântica incurável que não consegue manter um relacionamento, mas que sonha muito viver um clichê digno dos livros de Jane Austen. Uma Solteira convicta, em quer sua felicidade estar em não manter laços afetivos com suas companheiras de cama. ...