[79] Decisões.

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| A d a m |
Em janeiro

É verão em Gaya e estamos nas breves férias de natal. Natalie está em meus ombros, tentando derrubar Anna dos ombros de Max. Nina foi buscar refrigerante e sorvete. Anna consegue derrubar Natalie e nos dois afundamos na água do lago.
Quando venho a emergir, vejo que Nina  vem vindo segurando um pote de sorvete e colheres nas mãos. Mal consigo prestar atenção em qualquer coisa senão a forma como o maiô azul escuro que usa marca bem cada curva de seu corpo e ressalta seus seios. Natalie me dá um tapa no pescoço e recobro a sobriedade.

— O que foi? — Bufo.

— Você vai comer a menina com os olhos. Pelo menos disfarça.

Eu rio e empurro Natalie sem muita força. Ela me lança um olhar metralhador, mas em nada me intimida.
Quando Nina chega ao fim do pier, já estou sentado ali. Ela apoia o pote de flocos na madeira e se senta ao meu lado, com os pés na água.

— Esqueci o refrigerante. — Revira os olhos.

O carro de Tori invade à propriedade. Ela sai segurando alguns envelopes que deve ter pego no correio e folheando-os. Então ela para em uma delas e desvia seu olhar para mim imediatamente. Eu sei o que é. Eu sei.

— Eu pego. — Levanto-me.

Corro até Tori. Ela me entrega a carta sutilmente e entro para casa.
Vou para a cozinha e coloco o envelope com marcas de água pelas mãos molhadas sobre a ilha. Encaro-o. Universidade de Verisya.
Abro a carta com certo medo e raiva. Desdobro o papel e leio as primeiras linhas.

Merda.

Perco a noção do tempo olhando aquelas palavras. O tempo se esvai e eu só o percebo partindo quando ouço pés vindo em minha direção.
Ergo a cabeça imaginando que é Tori, mas o cabelo negro molhado denuncia sua filha. Antes mesmo que eu possa esconder a carta, ela já está lendo por cima do meu ombro.

— Adam, você... — Engole a seco. — Você passou! — Grita.

A princípio, ela não percebe o que carrega o fato de eu ter sido aprovado. Ela pula em meu colo e entrelaça suas pernas e braços ao redor de mim para me abraçar. Agarra-me tão forte, que perco o fôlego por uns instantes. Até me deixo ficar feliz.
Sento-a no balcão, por mais que ela não me largue.

— Você passou! Você passou! Você entrou, Adam! — Continua gritante, infinitamente mais feliz que imaginei. Será que ela quer se livrar de mim? — Eu estou tão orgulhosa. Você tá em uma das melhores faculdades do país!

Sorrio para ela quando ela se afasta. Beijo-a. Sua energia me faz sentir minimamente feliz sobre isso. Ela é mesmo o amor da minha vida.
Ouço meu tio limpar a garganta ao entrar. Afasto meus lábios de Nina. Ela não hesita em saltar do balcão e olhar para ele.

— Ele passou, Cody. O Adam passou! — Continua gritando freneticamente.

Enquanto meu tio me abraça e diz coisas gentis, Nina corre para fora e eu posso ouví-la gritar que fui aprovado para a Universidade de Verisya para que todos ouçam. Uma cerimônia de abraços e uma série de parabéns se seguem com meus amigos e, logo, Tori.
 
 

(...)
 


 
— Eu devia entrar para a faculdade mais vezes. Devia ter me inscrito para outras. — Digo ofegante quando Nina sai de cima de mim e se deita ao meu lado no colchão velho da caminhonete.

— Oh, sim. Claro. — Ela ri, também ofegante.

Nossa forma de comemorar minha aprovação foi pegar minha caminhonete, comprar champanhe e hambúrgueres na estrada e sair até o campo onde levei Nina para o primeiro encontro. Onde viemos várias vezes por, principalmente, descobrir que as estrelas daqui são lindas demais e que não há uma viva alma, o que significa que o colchão velho na caçamba é bem usado.

— Eu concordo. — Ela conclui. — Você não parecia feliz.

— O quê?

— Quando recebeu a carta.

Puxo-a para o meu lado, tirando-a de cima de mim. Arrumo a manta sobre nossos corpos, mesmo querendo vê-la completamente sobre a luz da lua.

— Eu vou pra longe, Nina. Não é tão divertido assim.

Ela desvia o olhar.

— Eu sei. Acredite, eu sei. — Murmura. — Mas seu futuro todo depende disso.

— Ou não. Estive pensando sobre música. — Dou os ombros.

As aulas com a srta. Larson têm sido muito boas. As memórias que tenho tido do piano com a minha mãe reforçaram que eu amo tocar e que, bem, eu sou bom nisso. Nina disse que eu sou melhor que ela, mas não acredito nisso. Ninguém é melhor que ela.

— Música?

— Eu posso fazer música. Aqui em Gaya.

— Você está doido. Seu futuro é como o do Cody e o da minha mãe, não como o meu. Eu nem tenho futuro como artista.

— Você tem, sim. — Reviro os olhos. — Eu sei que o prazo de inscrição acabou, mas eu posso me inscrever para o ano que vem. O que acha?

Ela hesita. Parece nervosa. Seu peito sobe e desce sob a manta colorida.

— Só se você experimentar Verisya e ver se gosta, antes.

Parece justo. Parece muito justo. Um ano longe de Nina é bem menos que quatro anos. Ainda é muito, mas menos. Muito menos.

— Só se você prometer não se apaixonar por um idiota do último ano.

— Não dá. Já me apaixonei por um idiota do último ano. — Ela olha para mim com um sorriso adorável. — Adam, ninguém me tira de você. Devia saber disso.

— Não sei, vai que você cai na lábia de um marmanjo além de mim. — Sorrio para ela. — Um ano. É o que precisamos, não é?

— Sim. Tudo isso.

— Eu te amo. Estarei aqui em um ano.

— Sei que vai gostar de Verisya.

— Posso gostar de Verisya, mas amo você. Não tem comparação, Davis. Não tem jeito, estamos presos um ao outro.
 
 
Um ano pode mudar muita coisa, só espero que não mude a nos e ao que sentimos.

=

O primeiro livro está acabando! Faltam poucos capítulos para chegarmos ao final. O próximo livro se chamará "A Distância Entre Nós" e eu espero que vocês gostem. Vamos acompanhar NADAM pra mais uma aventura logo, logo.

O Silêncio Entre Nós Onde histórias criam vida. Descubra agora