𝒓𝒆𝒈𝒖𝒍𝒖𝒔

266 34 22
                                    

Ele fecha os olhos, não há luz, e quando os abre, é exatamente igual. Ele troca os pés titubeando. Em Regulus não há sol, nunca houve. Mesmo assim, Lee Felix brilha.

O cosmos carrega a grandeza da via láctea. Ele tenta tocar o céu, não consegue, está acima das nuvens. Nunca sentiu tamanha imensidão dentro de si mesmo, seu corpo era sugado pelo chão quando tentava correr. A escuridão não lhe sustenta, não pode ver o que está a sua frente, mas não se sente sozinho. Em Regulus, não há solidão.

Estava acima de tudo, planetas giravam abaixo dos seus pés. A terra carrega aquele pelo qual sente tanta falta, o motivo que faz lágrimas brilhantes escorrerem por seu rosto de porcelana. Todas as noites Lee Felix chora.

Seu coração de vento as vezes é um vendaval, outrora é uma brisa fresca. Era apenas uma alma flutuando sozinha, e sabia que seus pés nunca tocariam o chão novamente, mas ainda era capaz de sentir. Sentia saudades e sentia amor, isso ninguém poderia tirar de dentro de si. A morte não resseca a alma. Se em Regulus há vida, Felix seria eterno.

Entre vários meteoros que percorriam a galáxia, haviam flores nas estrelas. Algumas desabrochavam, outras morriam, mas em meio a todas elas havia uma que se assemelhava a ele.

As pétalas macias e brancas, os detalhes amarelos e o caule esverdeado. Se parecia com Han Jisung, tão brilhante que o cegava. Felix sentia o coração se esfarelar feito poeira de estrelas. Ao contrário dele, sua flor havia ressecado. Jisung vivia, Felix brilhava no céu.

As constelações se formavam na noite escura. Quando a noite chegava, não podia evitar em colorir sua alma de azul. Queria estar perto dele de novo, ou fugir para uma ilha distante se não estivessem separados pelo mesmo céu. Ele tocou o peito, nenhum batimento. Como poderia amar alguém sem um coração?

Podia vê-lo. Os olhos de noite estrelada observavam o céu e a lua, tão perto e tão distante. Estaria de mãos dadas com outra pessoa, aproveitando o tempo que lhe resta antes que toda a areia passe pela ampulheta. Felix não se sentia triste ao vê-lo feliz, pois quando olhava para a flor lhe fazendo companhia, tinha a certeza absoluta de que ainda havia amor dentro de Han Jisung.

Ele correu pra beira, já se acostumara que jamais poderia cair. Estava preso, mas não se importava. Regulus é seu lar, mesmo que ainda falte alguma coisa. Felix esperava que a flor de Jisung não secasse tão rápido como a dele. Não queria ter se tornado uma estrela sem ter tempo de apreciar o céu.

Os olhos de noite estrelada procuravam por alguma coisa a sua frente. Felix esticou os dedos, Jisung não podia vê-lo, mas podia senti-lo.

A ponta de seus dedos se tocaram. Felix sentiu como se fosse a estrela cadente mais brilhante da galáxia. Jisung sorriu fraco, não sentia muita coisa. Era distante, quase como se estivesse alucinando. Ele virou as costas, cansado de sentir saudades de alguém que estava desaparecendo. A alma de Felix perdeu o brilho por um instante, mas logo voltou a iluminar o céu. Jisung ainda o amava, e sempre ia amar, mas é difícil amar alguém que está indo embora. Está tudo bem, foi o que ele pensou. Um dia Jisung também seria uma estrela.

Ele olhou para a flor, aquela que lhe faz companhia, e que agora tinha algumas pétalas caindo. Partes de Jisung que ele guardava pra si, esperando que um dia pudesse devolver. Felix não podia.

Estava desaparecendo. Seus dedos brilhavam e se transformavam pouco a pouco em poeira. Talvez se esqueceria de Jisung e ia embora com o vento, seu brilho seria apagado pra sempre e se tornaria parte de Regulus. Não sabia ao certo. Não podia mudar as constelações das coisas.

Não queria que Jisung esquecesse, e desejava com todo o brilho de sua alma que ele fosse o único a saber, e que todas as noites que estrelas cadentes passassem pelo céu estrelado dos olhos dele, o garoto soubesse que Lee Felix o amou até o último grão de poeira.

Desejava por todas as estrelas do horizonte, que suas pétalas pudessem crescer novamente. Jamais queria ver Jisung murchar, e mesmo que desejasse estar perto dele antes de desaparecer, desejava que sua flor germinasse eternamente, e que ele nunca conhecesse Regulus.

Seria ele capaz de sentir? Quando Felix brilhasse mais do que a lua e caísse em queda livre, Jisung murcharia? Se esqueceria dele pra sempre? Não conseguia parar de pensar, mas não havia nenhum resquício de desespero. Felix sabia que as memórias permaneceriam, e que nem todos os anos-luz de distância poderiam acabar com o que é eterno. Se Jisung o ama, não há fim. Estava certo disso.

A lua brilhará no céu que o protege, e os planetas que respira vão girar em sua órbita. Ele viverá feliz, sem arrependimentos ou lágrimas, e toda vez que olhar pro céu, verá uma estrela brilhar mais que as outras.

Então, Felix desaparecera. Todas as suas pétalas voaram com o vento, todo o seu universo se misturou com a galáxia e se tornaram parte de Regulus, e a única pessoa que se lembrou antes de partir ainda era ele.

Jisung fecha a janela com um suspiro, sente falta de alguém, mas se sente aliviado. Seu coração está leve, ainda carregando todo o amor dentro de si, mas não se sentindo triste e incompleto como antes.

Uma estrela cadente passa no céu estrelado, Jisung sorri antes de fechar a janela e se lembrar de um grande amor antigo. Quando faz um pedido, deseja apenas que viva uma vida longa e feliz, como alguém um dia desejou que fosse.

🎉 Você terminou a leitura de - 𝙍𝙀𝙂𝙐𝙇𝙐𝙎; (𝘩𝘢𝘯𝘭𝘪𝘹) 🎉
- 𝙍𝙀𝙂𝙐𝙇𝙐𝙎; (𝘩𝘢𝘯𝘭𝘪𝘹)Onde histórias criam vida. Descubra agora