Dresden,1948

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Por Vitor dos Santos

- Avançou em alguma coisa, Klaus? - Um homenzarrão utilizando um longo jaleco e óculos fundo de garrafa disse apontado para seu estagiário.

- Não, senhor luke, continuamos na mesma, nada de novo.

- Ótimo, ótimo, temos tempo ainda. Me ajude anotando algumas das reações do nosso paciente. Quando estiver pronto é só falar, irei soltar o gás na câmara.

- Ok senhor, deixe-me só pegar algumas canetas e o bloco de notas.

- Rápido, Klaus, não vê que o que vamos fazer aqui vai mudar o mundo?

- Está bem, está bem, já estou pronto, não precisa se apressar.

Luke abriu a válvula que ficava à esquerda da mesa de análise hematológica, o gás amarelado rapidamente começou a subir. No meio da câmara havia o que parecia ser um ser humano, mas a pele estava em um tom muito pálido, olheiras bem fundas, com ausência de cabelo e o corpo bem fraco. Assim que o gás entrou pelas narinas do paciente ele levantou em um surto, os olhos se abriram revelando pupilas brancas e dilatadas. O homem que parecia estar delirando começou a balançar os braços freneticamente, olhar para todos os lados e mordiscar o ar, uma saliva enegrecida e espeça saia de sua boca.

- Está anotando, Klaus? Vamos ver se agora vai dar certo. – Luke disse isso com um olhar confiante, o olho poderia ter brilhado se fosse como nos desenhos animados.

- Claro que estou, até agora ele está agindo como antes, nada de diferente.

- Calma, ainda não colocamos o composto Z na mistura do gás, irei acionar ele agora.

Luke abriu a outra válvula e dessa vez saiu um gás avermelhado com cheiro e sabor de sangue. Os olhos do homem que estava dentro da câmara dilataram ainda mais, veias começaram a pulsar fortemente e a boca já estava envolta de saliva. A criatura agora se pós de pé, começou a correr e bater para todos os lados, era bestial, não exibia nenhum resquício de humanidade.

-Está anotando, Klaus? Agora está sendo diferente, dessa vez está dando certo.

-Cla..claro, não se preocupe, estou anotando tudo aqui, mas você acha que o que estamos fazendo é o certo?

-Klaus, meu bom moço, quem liga se é o certo, vamos todos morrer um dia, né? Por que não morrer rico? Agora cala a boca e faz o que eu mando, você é o estagiário aqui.

- Está certo, estou anotando tudo aqui. – Disse Klaus abaixando a cabeça por se sentir intimidado.

- Vou abrir a terceira válvula, agora você deve ficar bem atento. Essa é a válvula mais importante, já que é a da cobaia não contaminada, temos que ver como ela vai reagir. Mas primeiro você deve fechar as duas primeiras válvulas, ok?


-Ok. – Disse Klaus, ainda incerto do que iria fazer, mas como poderia contrariar seu chefe? Ainda mais que além de chefe era seu pai.

Klaus largou seu bloco de notas na mesa de centro, correu para a primeira válvula e a desligou, logo em seguida foi a segunda.

-Conseguimos, Klaus, o efeito está durando mesmo depois dos gases serem desligados.

- Sim, papa.. quer dizer, senhor Luke- Disse Klaus escondendo um sorriso de felicidade, pois o pai jamais estivera feliz com um feito do filho.

- Vou ligar a terceira, fique atento.

Assim que Luke abriu a terceira válvula uma porta dentro da câmara de gás se abriu, de lá saiu uma mulher que aparentava estar dopada, usando uma roupa típica de quando se vai realizar uma cirurgia. A mulher olhou atordoada para o ambiente, apenas viu luzes fortes, uma cama cirúrgica e paredes brancas. Ao caminhar um pouco mais para dentro da sala enxergou o que parecia ser um homem no canto, mas não conseguia discernir muito bem o que estava enxergando, já que sua visão estava turva. Ela olhou para o lado, mas apenas conseguiu ver seu próprio reflexo em uma enorme vidraça, estava horrível, parecia nada saudável.

- Onde estamos? Eu não estou muito legal, não sei como vim parar aqui.

- ARRRRGHHHH – Foi tudo que o homem respondeu.

- Moço, você ta bem? Parece um pouco abatido, você ta bêbado?

- ARRRRRRRRRGGGGGHHHHH

- Da para parar de brincar, eu não estou gostando disso, por favor! Alguém aí? Eu suplico por ajuda, por favor, o que é isso? – A mulher deixou-se cair de joelhos e começou a gritar em meio aos soluços.

A criatura começou a andar em meio aos tropeços e grunhir ainda mais. Caiu sobre a mesa cirúrgica e se revelou por completo sob a luza da câmara. Agora era possível notar que aquilo ali não era mais humano, sua alma já havia partido faz tempo. A mulher horrorizada se arrastou para trás com medo. Ela olhou de relance em uma fresta onde conseguiu ver dois homens. Um rapaz jovem e loiro, olhos castanhos e pele clara e um Homenzarrão, já esbanjava uma barba robusta. Naquele momento ela pediu desesperadamente por ajuda, mas o que recebeu foi um sorriso desumano de satisfação do senhor Luke. Já não havia mais o que fazer, Klaus tapou os olhos, mas Luke olhou cada momento de mutilação com fascínio, estava contente com sua nova ''invenção'', ainda mais que agora era transmissível.

- Nós conseguimos, Klaus, Conseguimos!

- Sim, pai- Klaus tinha um misto de emoções, não estava feliz com o que fez, mas se sentia feliz pelo pai finalmente aceitá-lo.

- Mas o que faremos agora?

- Não é claro? Nós iremos pegar uma amostra e produzir uma vacina.

- Mas por quê? Não faz sentido, você criou isso aí para curar?

-Não seja ingênuo, Klaus. Nós iremos produzir a vacina para vender ela. 

Fim.

DRESDEN, 1948| Sir FlautusOnde histórias criam vida. Descubra agora