NATALIE NARRANDO...
Quando peguei aquele bicho de pelúcia e ouvi o coração do meu filho batendo, eu senti algo inexplicável. Um misto de dor, felicidade, tristeza e paz. Paz por saber que alguém estava com o coração dele e era feliz embora tenho passado por esse acidente recente. Triste, por não ter mais meu filho, não saber como ele seria hoje e felicidade por ter uma lembrança tão intima dele. O som do coração dele. Fui ver o menino com a autorização da mãe, depois fomos jantar e fui pra casa. Fui para a minha casa, eu precisava chorar e colocar tudo aquilo pra fora. Eu me senti como naquele dia que me despedi dele no corredor da cirurgia. Eu decidi dormir em casa aquela noite deixando as meninas sozinhas. De manhã passei e as peguei para deixar no colégio. Fui para a empresa, tinha reunião o dia todo. Na hora do almoço a Priscilla me mandou mensagem me chamando para almoçar com ela. Nos encontramos ali perto do hospital mesmo, ela tinha uma cirurgia as 13:30.
Eu: Você está bem?
Pri: Não muito.
Eu: O que houve?
Pri: Um paciente meu. Eu o atendo a 5 anos. Ele é paciente da oncologia, mas também era da cirurgia geral. Eu o operei 28 vezes nesses 5 anos e hoje é a nossa última tentativa.
Eu: E acha que não tem jeito né?
Pri: Pelos exames dele? Não. Não tem jeito algum. E é triste, porque ele ama viver, e ninguém pode fazer mais nada. Já espalhou para outros órgãos. Vamos tentar dar alguns meses a ele, mas as chances são mínimas.
Eu: Isso não te afeta? Tipo, você ficar pensando nisso para o resto da vida, quando perde pacientes.
Pri: Sim, afeta. Mas quando somos médicos, a gente aprende que a vida é isso. Ela tem começo e fim. Dar a notícia a um familiar é difícil, acho que pior que dar a noticia a algum familiar nosso. Não vamos falar disso não tá, é nosso almoço, a gente tá se vendo pouco e temos que aproveitar – beijou minha mão.
Eu: Estou pensando em vender minha casa.
Pri: É obvio, afinal vamos nos casar, e minha casa é maior que a sua. Alias, aquela casa também é sua. Você a desenhou, você mandou executar a obra, eu só fiquei com ela, por causa das meninas.
Eu: Eu sei. Eu vou chamar um corretor para avaliar a casa. – Logo nos despedimos. Eu fui para a empresa de novo, trabalhei o dia todo feito uma maluca. Fui pra minha casa, peguei umas coisas e fui pra casa da Pri. No dia seguinte levei as meninas ao colégio.
Alice: Mãe, hoje eu saio mais cedo. Saio as 11 horas.
Eu: Sim, eu venho te pegar. Te amo, bom dia.
Alice: Te amo bom dia – saiu do carro.
Eu: Júlia, tenta não ser expulsa tá? Por favor.
Júlia: Eu prometo tentar, só não sei se vou conseguir – riu. – Bom dia mama, te amo.
Eu: Eu também te amo, bom dia – sorri. Eram raros os "te amo" vindos dela. Muito raros. Cheguei na empresa tinha inúmeros problemas a resolver, falei com um corretor, ele iria no dia seguinte até minha casa. Sai para ver uma obra e no caminho senti uma pancada muito forte seguida de outras. Eu perdi a consciência por alguns segundos, quando voltei meu airbag estava aberto, eu tinha um corto no braço e um na testa que sangrava muito. Meu pescoço doía também, logo alguém chegou na janela do meu carro o vidro estava quebrado.
XX: Moça, você está bem?
Eu: Meu pescoço dói.
XX: Não mexe o pescoço, fica parada, por favor. Não se mexe, uma ambulância está vindo.
Eu: O que aconteceu? O sinal abriu e eu sai, o que houve? – estava um pouco confusa.
XX: Um carro ultrapassou o sinal vermelho bateu em você e vários outros carros bateram em você em seguida. Foi um engavetamento. A ambulância está vindo fica calma. Qual seu nome?
Eu: Natalie.
XX: Natalie o que? – eu não conseguia me lembrar.
Eu: Eu... Eu não consigo me lembrar.
XX: Ok... Eu sou médico tá, doutor Wilson, sou neurologista, você está confusa por conta da pancada. Daqui a pouco passa. – logo um bombeiro veio abriu a porta do meu carro e me tirou.
Eu: A minha bolsa.
XXX: Já pegamos senhora. Natalie Kate Smith né?
Eu: Sim. É... É isso eu não me lembrava agora me lembro.
XXX: É por causa da pancada. Quem é seu contato de emergência?
Eu: Minha mulher... Minha ex mulher...
XXX: Qual o nome dela?
Eu: Priscilla. Priscilla Pugliese. Ela é... Ela é médica no Barra Dor.
XXX: Estamos indo pra lá. As vezes ela está lá ainda.
Eu: Sim. Ela está de plantão, eu almocei com ela hoje. Não... Não... Eu almocei com ela ontem.
XXX: Ok. A gente já está chegando tá...
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NATIESE EM: A CULPA
FanfictionMeu nome é Priscilla Álvares Pugliese Felix, tenho 34 anos, sou médica cardiologista e cirurgiã geral, atualmente moro num condomínio na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Sou divorciada de Natalie Kate Smith de Almeida 35 anos arquiteta e engenheir...