o pjkiribaku postou no spirit e eu já corri pra cá, amohh
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Amar parecia-me aterrorizante. Como eu poderia saber o que era amor, se nunca o tinha sentido? Como poderia dizer que o amava, com a mesma certeza que ele, quando nem mesmo eu saberia?
O olhar indagativo de Eijirou, ao me perguntar se eu o amava, ainda pairava em minha mente enquanto eu distribuía cobertores para os anciões e cafunés para as crianças da tribo. Como sucessor da liderança era meu dever cuidar de todos, acalentar seus corações e ajudá-los. No entanto, eu estava devastado. Sabia que, em pouco tempo, Eijirou voltaria, mas e se não voltasse? E se suas últimas palavras tenham sido na pergunta que ainda pairava em minha mente, e eu não soube responder? E se, além de tudo isso, eu já soubesse a resposta, e ela me dedicasse o cúmulo da perturbação ao descobrir que meu amado partira junto com à guerra? Meus olhos deveriam estar pedindo por um acalento, pois, ao passar pelo ancião mais velho dentre nós, o homem moreno com setas pintadas pelo seu pescoço e um arco em seu nariz, chamou-me com a mão. Me aproximei, relutante, abaixando e pedindo sua benção quando o ancião tocou minha fronte.
— Ancião, em que posso ajudar? — perguntei com devoção, guardando toda a minha angústia e raiva em minha garganta perante o mais velho. Este sorriu, passando sua mão suja de terra-vermelha molhada em meus cabelos loiros e rebeldes, respondendo-me em um sussurro:
— Eu estou bem, meu querido. Mas o velho aqui sabe reconhecer quando um jovem como você precisa de orientação, e leio em seu olhar que não se trata da guerra. — Abaixei os olhos, condenando-me mentalmente por deixar transparecer preocupações que se prendiam somente a mim, e, talvez, a um certo ruivo em batalha. — Agora, conte o que aconteceu, Katsuki. Mitsuki te deixou em minhas mãos quando você era um bebê rebelde, e ainda posso ajudá-lo no que quiser.
Contemplei sua dedicação à minha mãe, uma guerreira que liderou o povo e morreu em batalha, e pensei em suas palavras. Era preferível que eu desabafasse — embora não tenha o costume de fazer com alguém senão Eijirou —, o que me fez respirar fundo e cruzar as pernas ao sentar na sua frente.
— O que é o amor, ancião? — comecei com uma pergunta boba, mas que me aterrorizava. Lembrei de quando eu era uma criança e ouvi tantas e tantos dizerem frases indefinidas sobre o amor, mas nunca interligadas ao que eu queria saber. O velho sorriu, obviamente sabendo que, em minha arrogância, eu nunca havia parado para meditar.
— O amor não é um sentimento ou uma pessoa, somente. O amor é Universo, é criação, destino e acaso; o amor é caminho. — Bufei ao ouvir suas palavras poéticas, pensando no quanto eu desejava que ele usasse algo mais literal. — Percebo que não é isso que queria ouvir. Então, me diga você, o que é o amor?
Ora, essas! Como eu iria responder tal coisa, se a dúvida era minha? Impaciente, me preparei para levantar quando sua voz, agora firme, chamou-me a atenção:
— Não se deixa seu ancião a la vontê, responda-me.
— Bem, senhor, essa pergunta era minha. O que é o amor? — perguntei ríspido, respirando fundo ao pensar na pessoa que despertava tempestades em mim. — Sempre me disseram que o amor era aquilo que Mitsuki fizera em nosso nome; que era o que unia os casais e desfazia nós. Para mim, o amor é complicação. Ele vem em forma de um sorriso pontiagudo e cabelos ruivos, vestes desleixadas, pinturas sobre todo o tórax e veracidade nas ações. Para mim, o amor não passa de algo bobo, que me desorienta e me deixa sem palavras nos momentos que mais necessito delas. Para mim, o amor é, nada mais, nada menos, do que o meu abismo. — Minhas palavras se tornam mais baixas ao lembrar de que, há poucas semanas, eu não dissera que amava Eijirou. O ruivo declarou o seu amor debaixo de uma macieira e, enquanto eu olhava-o sem nem mesmo reagir, a guerra chegava e o convocava à luta. Me peguei pensando que quando e se ele voltasse, eu saberia responder se o amava ou não. — E, apesar de tudo, eu não sei o que é amar.
— Pelo que vejo, sua dúvida está totalmente errada. Você sabe o que é o amor, mas agora que me respondeu, eu irei fazê-lo por ti. Ao meu ver, o amor chegou em muitas formas e arranjos, mas, acima de tudo, o amor é venenoso, instável e complacente. Nunca se sabe quando te dará flores ou espinhos, contudo, é verdadeiro que sempre será intenso. Amar é se arriscar à sua intensidade e a calmaria na mesma proporção. É precisar de sorte ao mesmo que pede azar. É dormir abraçado e acordar pensando no que perdeu. Amar é ganhar e perder; ter e doar; ser e sentir; e, acima de tudo, amar é se jogar de um abismo sem saber o que lhe espera no final.
As palavras do ancião me fizeram lembrar dos tempos em que Kirishima e eu corríamos pelos campos floridos, empunhando gravetos como espadas e brincando de lutar. Me fizeram recordar das noites primaveris em que, sendo mais velho que eu, o ruivo me ajudava a colorir a história de nossa tribo — em minhas costas — para eu assumir a maioridade. Suas frases me levaram de volta à macieira onde Eijirou acariciava meu rosto enquanto fugíamos de obrigações, antes que elas chegassem até nós em forma de sangue e obscuridade.
Lágrimas molharam minhas bochechas quando me dei conta que, de alguma forma, estava aliviado. Aliviado por saber que amava; porém, também, ainda mais perdido. Perdido com o medo e a incerteza do amanhã; sem saber se Eijirou retornaria com vida; da incógnita que era pensar se ele conseguiria me perdoar. Perdoar por não retribuir enquanto ainda me era tempo. Como se lesse meus pensamentos, o velho ergueu meu queixo ao finalizar, em um breve sussurro de cansaço pela dedicação de ficar acordado por tanto tempo.
— Amar também é perdoar. Ao próximo, e a si mesmo. Saiba disso: o amor carece de renovações; de crescimento. — Acenei, sem palavras para agradecer, enquanto beijava suas mãos e saía para refletir.
Diferente dos dias anteriores, não rodei todo o esconderijo para ocupar minha mente, mas sentei sob o pequeno espaço aberto que dava entrada aos primeiros raios solares daquele dia. Não tinha certeza de nada, além de que eu havia amado alguém, e ao ver uma cabeleira avermelhada cambalear de volta ao encontro de nossa tribo — junto de outros milhares, em uma outra e distante manhã qualquer —, eu tive a confirmação de que não me permitiria perder a minha única certeza sobre amar. Nunca mais.
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Agradecimentos á @CecySazs pela betagem divina e à @Didinggs pelas capinhas lindas!
Ao projeto como um todo, também, e é claro, à vcs por lerem! Até mais <3
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O que é o amor, ancião?
FanfictionKatsuki estava totalmente desorientado e, como todas as outras pessoas da tribo, fora falar com o ancião. Não imaginava, porém, que ele teria tantas frases para acalentar o teu coração, e muito menos que ele o faria ainda mais pensar no que estava g...