piloto

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Entre garrafas vazias e a alma cheia de angústias, acendo um cigarro, entre os tragos e a fumaça que invade meus pulmões, absorvo junto à ela anestesía, ela que me cura, a quase seis anos!
Eu não vou narrar o fundo do poço o qual me encontro agora, nem sobre o câncer de pulmão que eu estou prestes a desenvolver, isso seria fácil. Eu irei narrar especificamente desde o primeiro dia que à vi até os milésimos de segundos antes da sua partida. ( escrevo agora do lado ao rádio, onde está tocando "Ela partiu" do Tim Maia. Música essa que não me faz ter piedade do cara que escreve algo que diz que não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher. Mas convenhamos que é hipoteticamente engraçado ela começar grinir bem quando estou prestes a descrever com riqueza de detalhes o dia que ela chegou)
Eu não me lembro o mês, mas fazia frio (talvez eu peque na riqueza dos detalhes) talvez entre junho e outubro, ou pode ter acontecido em janeiro, já que chovia de forma desordenada, de fato eu não sei ao certo a data, nunca fui boa com números, a contra partida eu sempre me dei bem com pessoas, mas com ela foi diferente. O mundo tava acabando, eram 18h no horário de Brasília, meus óculos estavam encharcados, eu mal podia enxergar um palmo a minha frente, então eu não à vi de imediato, só notei que estava ali quando resolveu mexer em sua bolsa para pegar um pano de limpar as lentes do óculos e me estendeu, só aí eu tirei-o e pude ver sua bolsa de uma cor escura, não chegava a ser preta, talvez roxa ou azul, talvez. Depois de agradecer, me vestir e agradecer (mais uma vez) pela ajuda meu coração parou, foi como se Borboletas entrassem em mim e me fizessem vomitar de desespero (um desespero bom), eu já não tinha palavras pra puxar qualquer assunto, (pensando com mais calma, agora eu vejo que poderia ter falado do tempo) propício pra inundar as áreas mais bsixas da cidade, ou sobre como a cerveja tinha gosto de barata quando se bebia naquele bar, mas eu não disse, até hoje me culpo, ela simplismente se virou e entrou para o pequeno e sujo estabelecimento, o qual estava na porta em baixo de um temporal a espera de um amigo, e agora de um milagre também, já que teria que beijar aquela mulher nem que fosse a última coisa que  fizesse na vida. Só de escrever me lembro do cabelo liso e negro como um corvo, a boca preenchida naturalmente, os olhos que me soavam medo e liberdade, aquele castanho claro nunca mais saiu da  minha cabeça, nunca! Naquele dia eu não à reencontrei, talvez se eu tivesse como tirar seus malditos olhos da minha cabeça, talvez o destino não teria colocado ela novamente na minha vida, talvez eu não tivesse me entregado de tal maneira e me machucado com o fim. Tudo na vida acaba e não cabe a nós decidir como será nossas últimas atitudes e palavras, mas se eu soubesse que aquele era nosso último adeus eu certamente não teria deixado ela embarcar naquele maldito ônibus com uma maldita passagem só de ida, pra bem longe de mim. Pra tão tão distante!
Na hora eu quis gritar mais o medo do que iriam pensar me tomou em seus braços, agora eu sei, que se dane o que iriam pensar, que se dane! Entretanto eu não consegui conter as lágrimas, eu não consegui segurar o oceano que em tão pouco tempo já escorria dos meus olhos com tanta naturalidade, na hora eu me lembro de ter pensado QUE DROGA É O AMOR, eu teria gritado se não fosse tão acostumada a seguir as regras de convívio coletivo.
Eu sei, eu sei, você deve estar pensando o quão dramática eu sou, ou como eu sou exageradamente intensa, mas essa sou eu, com tudo que eu sou, ou era, quando ela estava aqui, e deitava no meu peito pra se sentir segura e só. Por Deus, só isso já era tanto!

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⏰ Última atualização: Nov 25, 2020 ⏰

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