Prólogo.

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   Caminho até o banheiro do meu quarto assim que pude ver o enorme relógio na lateral do ambiente, anunciando o horário ainda cedo naquele exato momento, mas que poderia facilmente me ocasionar um atraso. Pensando assim, desperto meu lado racional em questão de alguns segundos.

   Não é como se meu atraso fosse frequente, apenas.. às vezes — sempre — acabo perdendo a noção do tempo. Eu não costumo me acordar com alarme ou qualquer outro eletrônico gritante. Acordo com a luz do dia espelhando em minhas janelas e apesar de isso ser muito bom em partes, também é muito ruim, pois eu realmente não sei ao certo o horário o qual estou acordando — visto que também não costumo ficar presa a meu celular. Não é atoa que ele sempre está no modo silencioso, e muitos dos meus amigos me chamam a atenção por isso.

   Em minha defesa não acho saudável acordar e ir direto vasculhar o celular. E sim, eu poderia ao menos ver o horário, mas esqueço, dado que sempre há algo mais interessante que meu celular me chamando a atenção — meus livros, por exemplo.

   Até minha mãe vive me sacaneando por conta disso e outras coisas específicas, alegando que eu pareço ser a mãe e ela a filha. E sem ofensas, Deus que me livre criar uma filha como a minha mãe.

   Tracie é o tipo de mãe que vive querendo ser a filha e talvez seja por isso toda a sua felicidade e prazer em me dizer essas baboseiras. Eu não ligo tanto, apenas ignoro e me faço firme na minha própria linha, respirando fundo e repetindo para mim mesma os poucos dias que faltam para que eu possa sair de casa.

   Espreguiço meu corpo, esticando meus braços em direções contrárias enquanto encaro meu reflexo no espelho. Felizmente, nenhum sinal de orelheiras. Nada contra, claro, entretanto trato de dormir o mais cedo possível para que isso não me ocorra.

   Girei o registro do chuveiro, embatendo estupidamente contra o box numa tentativa de desviar da água gelada. Já deveria ter me acostumado. Não é como se fosse uma novidade.

Suspirando fundo, me enrolei de volta na toalha e me retirei do box.

   Sento no vaso sanitário de acrílico a alguns passos de distância do box, espalmando minhas mãos na pia a minha frente, procurando meu celular. Assim que o encontrei, abri na câmera, ignorando totalmente as incontáveis mensagens na barra de notificações. E após mudar da câmera traseira para a frontal, cliquei num botão vermelho, acompanhando a contagem regressiva até que estivesse oficialmente sendo gravada.

   — I never thought that it'd be easy, 'cause we're both so distant now — Soltei minha voz de forma baixa, fechando meus olhos e sorrindo fraco assim que comecei a sentir meu peito queimar em chamas, batendo mais forte. — and the walls are closing in on us, and we're wondering how no one has a solid answer..

   — Uau, você é realmente patética. — Sobressaltei ao escutar a voz da minha mãe, sendo rápida em esticar a mão e encerrar a gravação em vídeo. — Anda Elle, aposto que a maldita água já esquentou.

   Concordei com a cabeça, indicando com a mão para que ela saísse do banheiro e se possível do meu quarto também.

   A mulher se desencostou da batente, ainda rindo. Empurrei a porta com um de meus pés e caminhei lentamente, sem ânimo algum até o box, me colocando debaixo da água ainda um tanto quanto fria. Diante da situação e sem ter muito o que fazer, apertei meus punhos, respirando profundamente antes de me colocar completamente debaixo d'água.

   Quase perdi o ar.

   Às 06:30 terminei meu banho. Saí do box já com uma outra toalha enrolada em meu corpo e a anterior em meu cabelo, ainda assim tremendo dos pés a cabeça por conta do frio que misteriosamente faz hoje em Los Angeles.

   Fecho a porta atrás de mim, andando normalmente de encontro ao meu guarda-roupa. Vesti uma lingerie preta, acompanhada de uma blusa pequena e um tanto quanto apertada na cor amarela, alguns detalhes digitados nela são na cor vermelha e preta. Coloquei também uma calça jeans clara e por fim vesti minhas meias brancas — da mesma cor que meu tênis companheiro de todas as horas, Air Force One. Para finalizar coloquei um relógio que está quase perdendo a cor, assim como minhas duas pulseiras, todas as peças douradas.

   Fiz trancinhas em meus cabelos — duas na verdade, uma de cada lado. Em minha franja. Me perfumei e passei, de maquiagem, máscara de cílios e nada mais. Tenho preguiça de usá-las numa hora dessas. Mas gostaria de ter a disposição, admito.

   Me jogo em minha cama com cuidado para não acabar caindo em falso, não só por ela ser muito baixa — no chão, literalmente — mas também pela minha miopia. Tanto, mas tanto, que já perdi as contas de quantas vezes dei com o rosto em placas no meio da rua.

   Peguei meu celular novamente, vendo que ele está somente com cinco por cento de bateria. Dei de ombros, adentrando a galeria do mesmo e revisando o vídeo que gravei há alguns minutos. Cortei a parte a qual minha mãe aparece, revisando mais umas quatro vezes. Só então fui até meu twitter, clicando algumas vezes no vídeo e acabando por o salvar em meus rascunhos, sem coragem para o postar.

   — Como se muita gente fosse ver — resmunguei para mim mesma, rindo de modo nervoso.

   Bem, não muita, mas o bastante para cavarem a minha cova caso não gostem do vídeo. Eu não sou nenhuma líder do torcida, ou então nenhuma nerd — quem me dera. Sou mediana, eu acho. Não tenho inimizades com absolutamente ninguém por aqui — não que eu saiba. E se alguém tem comigo, não estou sabendo. Novamente, não me considero uma pessoa popular, apenas uma pessoa com bastante colegas. Eu tento controlar minha timidez, e quando consigo, resulta em novas amizades ou fortalece ainda mais as quais tenho.

   Down To Earth me lembra o meu pai, com certeza é uma das minhas músicas favoritas do Bieber, por este motivo. Vivo cantando-a pelos cantos e Tracie odeia isso.

   Bloqueio meu celular, o embolsando e em seguida me levantando. Ajeito meus fios uma última vez, procurando pela chave do quarto de meu irmão e por fim saindo de meu quarto — após o trancar também.

   Paro em frente ao quarto de Ryder, segurando na maçaneta velha da porta de entrada de modo firme para poder então enfiar a chave no buraco dela. Ela não entraria normalmente, está definitivamente apenas faltando se decompor, esperando o momento dela do mesmo jeito que toda essa casa.

   — O que quer comer? — Perguntei a Ryder assim que consegui abrir a porta.

   Ele arqueou as sobrancelhas com ironia, eu sabia o que viria a seguir, mas queria ouvir seu tom irônico para saber que ele está bem. Graças a Deus meu irmão não é do tipo de pessoa que esconde suas emoções através de ironia e barababa de síndrome de Chandler Bing. Quando Ryder está chateado, ele está chateado e ponto final. Não sei se por não saber esconder bem, ou por simplesmente eu o conhecer melhor ainda.

   — Quais as opções? Bolacha de sal e bolacha de maisena? — murmurou ele, sorrindo de lado.

   — Tem gente que — comecei e ele resolveu me acompanhar. — nem água tem para tomar!

   Soltei uma risadinha, enrolando um de meus braços em sua cintura quando jogou seu braço para cima de meus ombros, me abraçando. Ele não para de crescer, e com apenas quinze anos de idade, já me ultrapassou no quesito altura — e em algumas outras coisas que não valem a pena serem mencionadas.

   Fomos abraçados até a cozinha e Tracie já não estava mais lá. Presumo que tenha ido para seu trabalho.

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⏰ Última atualização: Apr 17 ⏰

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