CAPÍTULO 01

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Estou tão atrasada para faculdade que nem consigo sequer notar que entrei em meu querido carro de pijama. Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Volto correndo para meu "apertamento", como gosto de chamar. Para variar o elevador está quebrado, então preciso ir voando até o 7° andar para não me atrasar ainda mais.

Acho que nunca corri tão rápido em toda minha vida. Finalmente cheguei no meu andar, preciso somente ir até o final do corredor e virar à esquerda. Esbarro com a senhora mais fofoqueira do prédio. Quer apostar quanto que ela vai falar da minha roupa? Dona Maria é a pessoa mais bem informada do prédio. Ela sabe de tudo e sobre todo mundo. Mas ela também é uma das pessoas mais gentis que já conheci, além disso já me salvou diversas vezes. Ela já entendeu que eu odeio fofoca, então não comenta nada comigo.

"Atrasada? Também chegando tão tarde como tem feito já era esperado que isso fosse acontecer né, minha filha. Você trabalha demais" - disse Dona Maria.

"Ah, eu sei, mas isso é temporário" - digo enquanto apoio a mão na parede para não cair durante a curva para esquerda.

''Eu sei. Minha filha, aproveitando, me ajuda aqui com esse maldito aparelho. Tô tentando entrar no zap mas aparece umas coisas nada a ver, acho que meu celular quebrou" - pede Dona Maria enquanto dá alguns passos tentando se aproximar.

Eu estou MUITO atrasada, mas não posso dizer não para ela. SIMPLESMENTE IMPOSSÍVEL.

"Ai, deixa eu ver Dona Maria" - Volto correndo para ajudá-la.

"Olha aí, minha filha" – diz a senhora enquanto avalia minha bela roupa de dormir.

"Mas dona Maria, a senhora tá na calculadora" - falo rindo. "Cadê seus óculos? A senhora precisa usá-lo para poder ver melhor as funções do celular e para não dar aquelas dores de cabeça que a senhora tanto reclama"

"Ah minha filha, aquela merda de óculos não funcionam. Eu não vejo nada com ele"

"E sem ele também não, né?" - olho de forma divertida para Dona Maria que me dá um peteleco na cabeça. "Aqui está, basta clicar nesse microfone e gravar o áudio. Depois clique em enviar. Vou passar no centro e agendar seu médico. Talvez o grau dos óculos esteja errado. Agora eu preciso ir"

"Obrigada Heleninha, só você pra me salvar".

Mal me afastei da porta e já ouço Dona Maria falar: "Alô! Zefinha? Sou eu, Maria. Quero saber quando você vai parar de frescura e vai vir aqui em casa pra gente assisti na novela e beber aquela bebidinha lá. Eu não tenho culpa se o Seu Zé quis o meu número e não o seu. A gente precisa colocar o papo em dia. Você não vai acreditar o que fiquei sabendo sobre o vizinho do 36A"

Me afasto rapidamente, mas não o suficiente, ainda consigo ouvir Dona Maria gritar:

"Helena, vê se coloca uma roupa bonita. Saindo de pijama você não vai arranjar um namorado tão cedo".

Rio e sigo em minha corrida. Quem diabos disse que eu quero um namorado? Não preciso de um para ser feliz. Eu preciso é de dinheiro. Ok, e de uma boa noite de sono, admito.

Graças à Deus achei a chave rapidamente e em um segundo estou dentro de casa. Jogo minha bolsa perto do sofá e corro para o quarto. Pego a primeira camiseta que encontro, uma saia jeans e colo meu tênis All Star. O coitado está tão velho que o apelidei de "Vitorioso".

Entro em meu carro e sigo em direção à faculdade. Normalmente gasto 20 minutos. Vai dar tempo, tem que dar tempo. É a primeira prova de Trigonometria, eu não posso em hipótese alguma faltar. Não depois daquele maldito professor ter me humilhado na frente da sala toda. Eu vou tirar 10, nem que seja na base do ódio. Meu nome é Helena e eu vou provar ao mundo que todos estão errados a respeito de mim.

O caminho para faculdade é normalmente tranquilo. Depois de 5 minutos dirigindo saio do centro da cidade e sigo na estrada sentido interior. Essa rota é a mais rápida e normalmente é super vazia, então vai dar tempo de chegar às 07h na aula. Tem que dar tempo. Quero só ver a cara dele quando ver minha linda nota.

Estou na metade do caminho quando avisto um carro parado na estrada. O capô está levantado, há um rapaz olhando para o carro como se aquilo fosse um quebra-cabeça gigante onde nunca sabemos por onde começar. Comparação tosca eu sei, mas eu amo quebra-cabeça, então sim eu fiz essa comparação. Gosto de jogos que desafiem meu cérebro.

Eu pretendia passar reto e seguir meu caminho, não posso me atrasar ainda mais. Mas quando olhei pelo retrovisor me vi naquela situação. Uma vez, há 3 anos atrás, assim que comprei meu Zé Bonitinho, fiquei 5h parada na estrada porque o motor do carro morreu. Nenhum indivíduo se quer parou para oferecer ajuda. Eu estava sozinha e não tinha com quem contar. Liguei para o reboque, mas o rapaz estava ajudando um motorista em outra cidade. Perdi uma entrevista e ainda fiquei com fome na estrada. Admito que a segunda questão mexeu mais comigo do que a primeira. Era um emprego de merda, penso que foi um livramento. Além disso, prometi a mim mesma sempre ajudar quando alguém precisasse. Sei o que é passar sufoco e ter que aguentar sozinha. Se eu puder aliviar o sofrimento de alguém, eu farei.

Mesmo sabendo que eu não deveria, até porque pode ser um louco fingindo precisar de ajuda para me matar, fiz o retorno e parei alguns metros à frente do carro. Se o homem tentasse algo, eu conseguiria correr rápido o suficiente para chegar em meu carro em pouco tempo.

Pensando bem, acho que eu deveria ligar o carro e voltar ao meu destino. O cara está em um carro chiquérrimo e tem cara de babaca. Certeza de que ele vai começar aquele discurso de que o papai rico já contratou o reboque e está mandando um helicóptero para salvar o filhinho desse sufoco e que a pobretona aqui não vai conseguir ajudar em nada. Mas enfim, vamos lá.

Dou alguns passos em sua direção, ele é alto, 1,80 talvez, pele clara, cabelo castanho, alguns fios estão presos em um coque frouxo. Meu Deus, ele faz um coque mais bonito do que eu. Está vestindo calça e camiseta preta. Celular no ouvido, aparentemente tentando fazer uma ligação. Está usando óculos de sol e possui várias tatuagens nos braços. Sim, eu sei, sou extremamente observadora. Se o cara tentar me matar, preciso de detalhes para polícia. Deus me proteja.

"Ei, tudo bem por aí? Precisa de ajuda?" – digo em um tom mais alto do que planejei.

Abaixando o celular do ouvido assim que ouviu minha voz, o cara virou em minha direção.

QUEM É ESSE HOMEM?!

HOJE É O MEU DIAOnde histórias criam vida. Descubra agora