O aroma de chuva entrava pela janela com o vento frio que acariciava meu rosto e me levava para além da inquietude dos meus pensamentos, então fiquei ali apenas sentindo e sentindo, sem me mover, encarando o teto.
Meus pensamentos então se acalmaram como uma tela em branco onde eu poderia criar o que quisesse, mas apenas me fiz uma pergunta, uma pergunta da qual por muitas vezes não quis aceitar que sabia a resposta.
Acordei num pulo e ao abrir os meus olhos notei que ainda era noite, por alguns instantes fiquei desnorteada sem saber se os dias haviam passado ou se apenas adormeci por alguns instantes.
Ainda deitada mirei a porta, a luz vindo da fina fresta que havia ao pé dela me dizia que lá fora todos ainda estavam acordados, e eu apenas observei.
Meu corpo estava pesado de mais e a mente aconselhava: "Durma, amanhã haverá tempo para viver."
E na manhã seguinte o sol veio dar seu bom dia, porém o corpo ainda pesava, meus olhos não queriam se abrir e a mente continuava a sussurrar: "Durma, amanha haverá tempo para viver."
Depois de alguns minutos, horas talvez , já não sabia mais, estava apenas parada acompanhando o dia ir embora e o cair da noite chegando para me fazer companhia novamente; ninguém me chamava, ninguém batia na porta, ninguém.
E novamente o sol veio me despertar e novamente pensamentos me acalmavam: "Durma, amanhã haverá tempo para viver."
Porém esse amanhã parecia nunca chegar, a porta nunca se abria e ninguém jamais chamava por mim.
Enfim levantei, o calendário colado no espelho da penteadeira juntamente com fotos alegres de pessoas as quais eu amava, não me dizia ao certo que dia era ou quantas horas haviam se passado e, ao sentar na penteadeira pude ver, mas o que eu estava realmente observando?
Esse rosto... não era o meu, bom, de fato não era o mesmo das fotografias, era pálido, sem expressões, sem vida, os olhos não brilhavam, o sorriso não existia mais e por fim, não era eu, não restará nada.
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O Ciclo Do Esquecimento
Short StoryOs dias se passaram ou o tempo apenas parou? É doce a ilusão de loucura e esquecimento, pois a linha é tênue, entre a verdade e a mentira, porém o ciclo do esquecimento se torna inevitável, quando a verdade da dor de se perder,te faz acreditar qu...