Doze

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- Lis! Volte aqui! O que está acontecendo?

A garota andava rápido pelos corredores da escola, quase começando uma corrida.

- Não pode correr! Devagar! – Ouviu a voz do segurança atrás dela, provavelmente direcionada para Benjamin.

Lis aproveitou que ele precisou reduzir os passos para andar ainda mais rápido, alcançando o portão de saída do colégio.

Sabia que era questão de tempo para Ben a alcançasse, mas o quanto pudesse dificultar para ele, melhor. Vê-lo correr atrás dela dava a garota uma estranha sensação de satisfação.

- Elisabete! – O chamado veio acompanhado de Benjamin, que já estava quase emparelhado a ela.

- Me deixe! – Sem olhar para ele, ela continuou a andar, mas já não ia tão rápido quanto antes.

- Desculpe, Lis. Mas, o que está acontecendo? O que foi que eu fiz? Só me explique, por favor!

Elisabete não parou de andar, e continuou sem responder nada. Sentia-se mal por estar tão brava por algo que talvez ele nem tivesse culpa. Como poderia culpa-lo por não se sentir da mesma forma em relação a ela?

- Lis... – Benjamin chamou, impaciente.

- Não é nada! Só não estou em um bom dia. – A resposta dela não convenceria ninguém, muito menos o garoto que conviveu com ela todos os dias durante anos.

- Lis, estava tudo bem até uns minutos antes de você me ver estudando com a Carla.

- Estudando... – Ela resmungou, baixinho. Querendo que ele ouvisse, mesmo que negasse isso até a morte.

- Sim, o Pablo precisou ir embora e a Carla estava com algumas dúvidas também, não fazia sentido não ajuda-la e... Lis? – Ben parou por um instante, como se uma ideia o tivesse atingido de repente? - Você está com ciúmes?

- Óbvio que não! – A voz de Lis falhou e ele teve mais certeza que estava perto da verdade. - Você pode estudar com quem quiser...

- Ah... Lis, ninguém vai ocupar o espaço que você tem na minha vida. Não importa com quem eu estude, que bobeira! Você sempre vai ser minha melhor amiga! – Benjamin estava exasperado, como Lis podia pensar que alguém chegaria perto do que ela significava para ele?

Mas, quando ele disse isso, Lis parou de andar. Nunca imaginou que ser chamada de melhor amiga por alguém a machucaria tanto. A vontade de chorar voltou e quando ela respondeu, não pode esconder as lágrimas em seus olhos mais uma vez.

- Claro... Serei sempre sua melhor amiga, não é, Ben?

Benjamin não soube o que pensar da resposta de Lis. Será que estava acontecendo o que ele achava que estava?

Viu como a expressão dela se tornou de completa tristeza quando a chamou de melhor amiga e, o pior, havia lágrimas em seus olhos, além da raiva que era visível até mesmo há quilômetros de distância.

Só havia um jeito de descobrir, e era o que Ben vinha evitando durante muito tempo.

Lis já voltava a se afastar e o garoto torceu para não estar errado quando a segurou pela mão e puxou, virando-a para si. Não deu tempo para que ela falasse qualquer coisa, porque perderia a coragem, e a beijou.

Ainda que fosse tudo que Lis queria, o beijo a pegou de surpresa. Por um segundo ela paralisou, mas então suas mãos subiram e se fecharam no pescoço de Ben, que a segurou firmemente pela cintura.

O beijo começou tímido e se aprofundou conforme Ben a apertava junto a si. Quando se separaram, Lis estava ruborizada e um sorriso tímido escapava dela.

- O que foi isso, Ben?

- Me diga que eu não entendi tudo errado, por favor... – Ele suplicou, enquanto suspirava com medo de ter dado uma bola fora com a pessoa mais importante de sua vida.

Achando que se faria entender melhor sem palavras, Lis apenas o beijou mais uma vez.

- Eu acho – ela disse, quando se se pararam mais uma vez – que você acertou em cheio.

- Se você tivesse me dado um sinal, Lis, unzinho ao menos, nós já teríamos feito isso antes. – Benjamin fingiu estar magoado com o tempo perdido, fazendo Lis rir da expressão de filhotinho abandonado dele.

- Você também? – Ela questionou, surpresa por ele também ter sentimentos por ela há tempos.

- Sim... Há algum tempo.

- Por que você nunca me disse nada?

- Talvez pelo mesmo motivo que você. Eram só nós dois e eu não recebia um sinal bom o bastante para me sentir seguro quanto a não estragar tudo.

- Somos dois idiotas. – A garota concluiu.

- Completamente.

- E Carla? – O ciúme e a raiva voltaram com tudo, apenas de se lembrar da cena que tinha visto pouco antes.

- Você está brincando?

- Não! Você estava bem animado com ela...

- Se eu soubesse que isso iria adiantar as coisas para mim, teria me aproximado dela antes... Ei! Não me bata!

- Ben, volte aqui!

Lis correu atrás dele e ele a beijou com entusiasmo quando ela o alcançou.

- Você sempre será a número um para mim, e não só minha melhor amiga, Lis. Há um laço entre nós, e nunca será desfeito.

Rindo como a adolescente boba e apaixonada que era, Lis não podia desejar nada mais do que isso e concordou. O laço entre eles nunca seria quebrado.

Os dois percorreram as ruas, entre beijos e brincadeiras, até chegarem à porta da casa de Lis.

- Vai, entre, você precisa descansar para amanhã. – Ben disse, mas continuou beijando-a.

Lis sabia que ele tinha razão. O jogo seria logo pela manhã e ela precisava dormir cedo. Agora, estava ainda mais ansiosa pelas férias que se aproximavam.

- Sim... Então, tchau, Ben.

- Tchau, Lis. Amanhã comemoraremos a vitória em grande estilo.

- Deus te ouça. – Ela respondeu, rindo. – Vá, antes que eu te segure aqui pelo resto do dia!

Ele começou a se afastar, mas Lis o puxou novamente, beijando-o pela última vez.

- Suma daqui! – Disse, entre risos, e o assistiu se afastar enquanto entrava para sua casa. Radiante como se tivesse ganho na loteria.



Quando se deitou para dormir, sentia-se tão ansiosa e empolgada com tudo que estava acontecendo que teve dificuldades para pegar no sono.

Seus pensamentos giravam entre ter beijado Benjamin, descobrir que ele sentia o mesmo por ela e o jogo que se aproximava.

Saber que o teria só para si amenizava o pensamento de uma possível derrota. Pelo menos poderia chorar abraçada a ele.

Não, não achava que iria perder. Estava confiante. Na verdade, agora pensava que poderia conquistar qualquer coisa que quisesse. Nada a poderia parar.

Ou quase nada.

Ou quase nada

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Cartas entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora