Parte 1

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Isso não pode ser real. Não pode. Não é.

Eda procurava ar onde não existia.

Ele não poderia ter feito isso. Por quê? POR QUÊ?

O carro parecia distante. Ela continuava as passadas, mas parecia não haver solo sob seus pés.

Não pode ser. O responsável por isso tudo é Alptekin?!

Não adiantava negar. Não havia como. As provas estavam em suas mãos. Serkan acabara de lhe entregar o dossiê.

Se ainda vale, eu continuo te amando como no primeiro dia”.

Ah, essas palavras...

Tudo doía, ela só tinha que sair dali. Ela precisava de um refúgio. Seu carro não a decepcionou e a levou para casa.

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Era difícil. Tudo era difícil. Respirar, andar, pensar. Tudo era confuso. Os pensamentos, os sentimentos.

Raiva, dor, medo, angústia...

Amor. Saudade.

Era assim pra ela.

Era assim pra ele.

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Serkan viu Eda partir no velho carro. Tudo o que ele queria evitar estava acontecendo. Todavia, ele constata, tudo se tornou pior.

Se você tivesse me contado...”

Como ele se arrepende de suas decisões.

“...eu teria te perdoado...”

A angústia profunda em seu peito só evidencia que se equivocou. As palavras dela, sua reação a tudo...

“...eu teria dito que não é sua culpa. Que vamos passar por isso juntos”.

Eu não acredito mais em você”.

Como doeu. Como dói.

Mas ela tem todo o direito. Ela tem toda a razão.

De estar zangada, frustrada. De odiá-lo pelo resto da vida...

Ele já pediu perdão. Não mais nada que possa fazer.

Então ele não quer nada. Não tem vontade de nada. Nada além de Eda. E isso, ele sabe que não pode ter.

Ele vai pra casa. Fome? Não. Apetite zero.

Banho? Talvez. Suéter vermelho, calça cáqui, tênis preto. Sim, tênis.

Vontade nenhuma para qualquer atividade.

Ele não sai. Ele não trabalha. Ele só sente.

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Eda não consegue ficar ali. Ela não se sente confortável em canto algum.

As meninas chegam e percebem a situação. Eda não fala nada. Só pede pra saírem dali, as quatro.

As meninas a levam para uma cidade do interior, à beira mar.

Elas queimam os papéis do dossiê ali, sentadas na areia. É como uma terapia para Eda, uma chance de tornar pó aquilo que a consome.

Não funciona tanto, mas ajuda.

A fumaça sobe, o calor que emana das pequenas chamas envolve-as. Uma sensação estranha ainda permanece em seu coração.

A chama da pequena fogueira se esvai lentamente, mas para Eda ainda há uma chama viva e crescente em seu peito.

- Eu sofri muito com aquele acidente, sabe? Mas aprendi a conviver com a minha tristeza... Agora é como se tudo acontecesse de novo...

Mas não importa... ela não consegue separar, não consegue vislumbrar um certo sentimento longe de si.

- Não importa o quão partido está meu coração... o quão decepcionada eu estou... Esse amor... Não vai embora.

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Já se foram dois dias.

Dois dias trancado em casa.

Dois dias longe de tudo com as meninas no litoral.

Já chega.

É hora de encarar o mundo e as consequências de suas escolhas, Serkan Bolat.

É tempo de tomar as rédeas da situação, Eda Yildiz.

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É o primeiro dia de volta à empresa depois de chafurdar* em casa. A ArtLife está um caos completo.

Mas a tempestade o distrai. É perfeita. Só não mais perfeita que ela.

Seu cérebro volta a funcionar, agora que foca no trabalho.

Contudo, seus circuitos rapidamente entram em pane. É um som que ele não pode desconsiderar. Estes saltos, estas botas.

É Eda Yildiz na sua frente.

Agora vamos jogar as minhas regras”, ela diz.

Ele está paralisado, mal forma pensamentos coerentes. Que dirá palavras!

Ela está aqui agora? Como? Por quê? Estou tendo alucinações novamente?

Antes que ele possa responder, ela põe firmemente sobre a mesa um contrato.

Sim. Um contrato.

NE??**

“Contrato de relacionamento, Eda Yildiz ve Serkan Bolat”.

- Eda, eu- Serkan é interrompido pelo toque do celular dela.

É a mãe dele. Aparentemente, agora elas são “melhores amigas pra sempre”. Uff.

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- Estou de saída – ela diz, ao terminar a ligação. - Você já assinou?

Ela o encara com aquele olhar, o mesmo olhar sobre as escadas, sobre a trilha, sobre as algemas, sobre o casamento fake... Ele não tinha chance.

- Eu estava apenas procurando uma caneta.

Ela responde com um “hm”, o analisando de cima a baixo.

Ele estremece.

Em baixo, principalmente.

Ela chega mais perto. Muito perto.

Seus olhos encaram sua boca e vice-versa.

Ela desvia o olhar, foca no local onde seus dedos se espalham.
No peitoral dele, por sua camisa, por baixo do terno.

Ainda bem que ele não está com aquele relógio hoje.

Eles estão nariz com nariz.

Ele não pode respirar.

- Aqui está a sua caneta. – ela diz e se afasta, dando um passo atrás, com a mão esquerda entre eles, segurando a caneta que pegou do bolso do paletó.

Ele definitivamente não sabe respirar mais.

Mas não é louco. Ele assina o contrato.

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Obs.: *Chafurdar significa render-se à indignidade, afundar-se na lama. Nesse caso, ele estava sofrendo sozinho em casa, afundado no próprio sofrimento.

**NE?? = O QUÊ??

Caso haja algum erro, me avise por favor.
Há uma parte dois, vcs querem?
É a minha primeira fic solo, peguem leve comigo. Haha bjos.

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