Espírito Natalino

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Reyna.


Há um curto período de êxtase entre a inconsciência e o despertar, que se finaliza quando meus olhos se abrem com um sobressalto. Eu suspiro, puxando a maior lufada de ar que meus pulmões permitem, como se de repente atingisse a superfície depois de quase me afogar no mar aberto. Minha visão é inundada com imagens do quarto, e as engrenagens do meu cérebro trabalham de maneira rápida, me fazendo reconhecê-lo como o lugar onde senti as piores dores da minha vida.

Eu o percorro, vendo a bola de ginástica, o banquinho-penico e então a porta.

A mesma porta onde a imagem de Tom congelado permanece, os olhos arregalados vidrados na minha direção.

— Oi. — falo, mesmo que minha garganta arranhe tanto que tudo o que consigo produzir é um ruído apavorante.

Ele desaba.

Larga a porta e mal tenho tempo de vê-lo vir até a cama, já que se move tão rápido quanto um piscar de olhos. Não consigo deixar de notar quando a aflição se dissolve em alívio em seu rosto mais pálido que o normal, e seus olhos inchados transbordam assim que ele se inclina sobre a cama, os braços se jogando ao meu redor.

Solto um gemido com o latejar que o movimento provoca no meu abdômen, mas Tom não parece capaz de ouvir, já que seu corpo convulsiona com os soluços. Os sons cortam meu coração e forço meus braços a se esticarem, e mesmo ainda trêmula, o envolvo e o trago para mim, sentindo seu rosto molhado se esconder na curva do meu pescoço. Ele respira fundo, me provocando cócegas, e então me aperta mais forte.

— Obrigado. — ouço-o sussurrar, e franzo o cenho em confusão. Tom toca meus cabelos e beija minha cabeça várias vezes. — Obrigado, obrigado.

Me afasto para encará-lo e seguro seu rosto entre as mãos, notando a vermelhidão em seu olhar, destoando demais da pele opaca feito a de um fantasma. Uso os polegares para enxugar as lágrimas e sorrio de lado, vendo-o fazer o mesmo por trás do choro. Ele segura meus dedos e beija as palmas antes de se inclinar, pressionando os lábios contra os meus. Estão molhados e salgados, mas despertam o restante dos meus sentidos de imediato, provocando o anseio por mais.

Porém, um pensamento corta minha mente e faz com que eu me afaste bruscamente, o que causa uma forte pontada no ventre.

No meu ventre vazio.

— Onde eles estão?! — questiono, alarmada. Tom me empurra gentilmente para baixo, tentando me endireitar sobre a cama, mas estou desesperada demais enquanto olho para os lados, me perguntando se deixei escapar dois berços quando vasculhei o quarto. — Meu Deus! Um deles... Um deles...

Começo a hiperventilar, mas ele ri.

Ele ri!

Solta uma gargalhada tão verdadeira que acaba estreitando os olhos, deixando as lágrimas que restavam caírem.

— Eles são perfeitos. — diz, acenando com a cabeça. — Os dois.

— Os dois?! — digo, meu coração martelando tanto que o monitor cardíaco denuncia.

Tom lança uma olhada nervosa para o aparelho e depois volta para mim, alarmado. Infelizmente, estou ocupada demais com as minhas próprias lágrimas, que finalmente começam a brotar.

Abano meu rosto, mas as grossas gotas escorrem mesmo assim.

— Os dois estão bem? — repito, olhando-o por trás da careta de choro.

Seus ombros cedem e ele sorri, assentindo antes de me abraçar de novo. O abraço de volta, chorando em seu moletom enquanto seu corpo se move ligeiramente para frente e para trás, os lábios comprimidos contra a minha testa.

All My Life | Tom Holland ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora