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Alexandra Donnelly

Fim.

Eu leio a palavra no final da página. Nada faz sentido, então li de novo. Estreitei os olhos e voltei algumas páginas, conferindo se não pulei nenhuma. Não, eu não pulei.

Passei a manhã debruçada na cama, devorando os capítulos do livro, sabendo que o Lorde ia morrer, mas queria descobrir como. Mas o livro acabou e ele sobreviveu, então o que faço é encarar a parede do meu quarto, confusa, como se o papel de parede pudesse me dar uma explicação coerente. Talvez Alden tenha confundido os autores, mas isso soa improvável. E que eu saiba, existe apenas uma versão desse livro, e afinal, por que diabos a autora escreveria uma segunda versão onde o Lorde morre?!

Penso em um milhão de possibilidades, quando um fio se conecta ao outro e uma faísca de entendimento ilumina o meu cérebro. Alden me enganou e eu caí como um patinho. Joguei o livro para o lado e afundei o rosto no travesseiro, sufocando um resmungo de frustração e me sentindo a pessoa mais estúpida do Império.

Como eu pude cair nessa piada idiota? Pelos Céus, eu sou mais inteligente que isso!

Ergui a cabeça e meu cabelo caiu sobre o rosto, me deixando com a aparência ainda mais derrotada. Então senti um impulso nos cantos da boca e não consegui conter o sorriso. Sou obrigada a admitir que a piada foi... criativa, no mínimo. E pelo menos me forçou a terminar o livro.

Me arrastei para fora da cama e andei descalça no piso frio de madeira até a escrivaninha e abri a segunda gaveta, onde guardo minha caderneta para anotações de livros que li. No topo da página, escrevi a data que terminei de ler e o nome do livro, e embaixo, desenhei cinco estrelinhas. Costumo fazer um resumo sobre o que achei da leitura, mas farei isso mais tarde.

Enfim, encaixei o livro em um espaço livre na estante. Agora, li tudo o que eu tenho e isso me deixa sem muitas opções de passatempos, além de caminhar pelo jardim, tomar chá com Sra.Reed — o que eu definitivamente não quero fazer — ou bordar, mas não consigo terminar uma peça sem espetar os dedos. Nada parece bom. Suspirei e olhei pela janela, e me lembrei que a biblioteca do bairro fica na rua de trás de Saint Lloyd. Se eu tiver sorte e papai ainda estiver de bom humor, consigo a permissão para ir até lá.

Coloquei a saia azul de sempre, uma camisa branca, um colete marrom por cima, e ao puxar minhas botas para fora do esconderijo embaixo da cama, vi uma parte da sola descolando. Agora que o casamento se aproxima, não vou ganhar botas novas de caminhada, então vou ter que me esgueirar até a cabana de ferramentas dos jardineiros nos fundos e surrupiar uma cola. Mas isso fica para outra hora e essas botas vão ter que aguentar mais essa jornada.

Andei reto pelo corredor dos dormitórios até uma curva, e no final do novo corredor, a porta de madeira entalhada com a figura de um cavalo sobre as duas patas, a crina esculpida no carvalho para parecer voar ao vento de uma tempestade. O cavalo é o símbolo da família Donnelly. Minha entrada no escritório é estritamente proibida, então eu paro e ergo a mão para bater.

— Nós acabamos com eles. — De dentro do escritório, meu pai diz. — Há mais de vinte anos.

Minha mão ficou no alto, mas não encostei na porta. Nunca o vi falando em um tom tão soturno.

— De algum modo, eles sabem das coisas. Não de tudo, mas conseguiram fragmentos da história.

A voz que respondeu tem um chiado eletrônico. Está saindo de um rádio, ou de um telefone em viva-voz, e pertence a um homem.

Umedeci os lábios, tentada pela ideia de continuar escutando, mas o perigo de ser pega bisbilhotando fez um arrepio percorrer a minha nuca. Mas eu não me movi e escutei quando meu pai voltou a falar.

Espectros [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora