Capítulo 10

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Tínhamos chego na casa de Paul, estava mais iluminada do que da última vez. A casa estava silenciosa, assim como o quintal lá fora. Nada de fãs, isso só podia ser um milagre de Natal, um tanto fora de época.
   A casa de Paul era um tanto confusa, entre muitos quadros, livros e porta-retratos estava também diversos papéis e bolinhas do que foram papéis, espalhados por todos os cantos. Era um cenário interessante. Paul era interessante. Ele de fato não era um homem de muitas explicações, apenas fazia o que dava na telha. Ou era tudo minuciosamente calculado ? Isso eu ainda não tinha certeza. De fato eu tinha certeza de pouquíssimas coisas a essa altura: 1/ os Beatles eram amigáveis, embora suas namoradas fossem um pouco hostis. 2/ John Lennon, para minha surpresa e de muitas fãs, era pai de família, embora as fãs ainda não soubessem. 3/ Paul McCartney gostava de tudo feito na hora e pra ontem, esperar não era o ponto forte dele.
   O que eu fazia naquela casa e ainda tão cedo naquela dia, eu não tinha ideia. Mas o cheiro estava bom, sim o doce cheiro de torta. Estava definitivamente cedo para uma torta, mas o cheiro era tão bom que eu não me importaria nem um pouco de apreciar um grande pedaço. A verdade era que nem café da manhã eu tinha tomado direito, e agora meu almoço grátis tinha ido pro brejo. Torta, eu precisava de torta. Mas é claro que eu não poderia simplesmente pedir um pedaço para o Paul fucking McCartney, muito constrangedor.

   - Você deve estar se perguntando porquê eu te trouxe aqui, não é mesmo?
   - Na verdade sim.
   - Quero te mostrar uma letra.

   Apressadamente Paul me alcança uma folha gasta e escrito em uma letra bagunçada e obviamente escrita às pressas, estava uma linda canção de amor. Ou o que viria a se tornar uma canção de amor. Ela tinha todas as qualidades, falava diretamente as palavras 'amor', falava em como não se pode comprar o amor e em anéis de diamante.

  - Isso é uma canção?
  - Ainda não, mas provavelmente vai se tornar. Você gostou?
 
  Ele parecia ansioso por algum tipo de aprovação. Eu podia ver em seus olhos, em suas mãos, a maneira que ele apertava levemente suas mãos, protegendo uma e deixando a outra exposta.

- Eu não conheço muitas músicas, nem nunca vi uma letra pessoalmente antes. Mas posso dizer com certeza que essa letra é a mais doce.

  Ele pareceu pensativo e vacilou por um momento ao olhar para os pés.

- Não era para parecer doce, era para ser sensual.

- Oh, sério? Bom, ela pode ser sensual também, eu não entendo muito de letras, sabe?

   Paul estava doido se pensava que aquilo poderia em alguma hipótese soar sensual, mas eu nunca diria isso para ele. Primeiro porque ele era meu chefe e segundo porque a música seria gravada por meus outros 3 chefes. Ou 5, dependendo da sua perspectiva.

- Não, tudo bem. Eu tinha cismado com essa letra mesmo. Só queria a opinião de alguém de fora, sabe ? Sem um olhar técnico, nem profissional.

- Ahn, claro.

- Não que você não seja profissional, não quis dizer isso. Apenas precisava de um não-musico pra ajudar.

- Entendo, entendo.

  Um silêncio constrangedor se instalou na sala de estar. Paul foi lentamente - e talvez até meio sem jeito - se sentar no sofá de cor verde musgo.

- Então Margot, você deve estar com fome? O idiota do John deveria alimentar você, mas eu nunca permitiria, você é legal de mais. Vamos deixá-lo bem longe de você, está bem? Eu tenho duas tortas lá na cozinha. Venha.

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