Pétala um: Ao perder-se, ache um castelo em ruínas

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Capítulo narrado pelo Changkyun. Boa leitura! ❤️
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Não consigo lembrar exatamente o que aconteceu para que eu acordasse aqui nesse lugar. Só recordo de muita neve e do vento forte tentando arrastar meu corpo. Talvez tenha obtido êxito, porque tudo dói. Seria cômico se eu não tivesse essa sensação trágica enquanto olho o que parece ser a ruína de um castelo antigo demais para suportar tamanha tempestade. Algo me diz para afastar-me desse lugar imediatamente, um sexto sentido, intuição, mecanismo de defesa ou sei lá o quê. Mas, todavia, enquanto parte do meu cérebro tenta me proteger, há uma parte que gosta de aventuras com um quê de mistério. Certamente eu deveria pensar melhor, ser racional, só que... quem sabe o que posso encontrar?

Exatamente, quem sabe o que posso encontrar? Esse questionamento deveria me afastar, então por que meu corpo se arrasta em meio aos escombros cobertos de neve? Eu deveria ir embora, mas preciso mesmo de abrigo em meio a tempestade. Se esse lugar não caiu ainda, não será agora que vai cair. A não ser que eu seja a pessoa mais sem sorte da terra.

Me aproximando da entrada do castelo em ruínas, vejo que o portão de ferro encontra-se quase fechado. Precisarei me arrastar nesse chão gelado em minhas condições decadentes. Tudo bem, lá dentro pode ter coisas aproveitáveis. Quem sabe uma cama e algo que dê para fazer fogo. É com esse pensamento que deito-me próximo às travas pontudas do enorme portão e respiro fundo antes de arrastar-me lentamente, não por vontade própria, mas pelo frio congelante. Se eu não morrer de hipotermia hoje, acredite em mim, não morrerei nunca mais.

Ao passar pelo portão à picolé, eu observo ao redor. A neve cobre quase tudo, mas lá ao longe, pertinho da porta velha demais para ainda estar inteira, há resquícios do que me lembra uma passarela de pedras mal cuidada. Juntei toda a coragem existente em mim para abrir a velha porta de madeira com o pensamento de que ela desabaria em minha face no momento em que seu alto rangido ecoou pelo ambiente. Tudo bem, nada aconteceu.

Estranho... esse local...

-- Olá? Tem alguém aqui?

Pergunto, pois o que me parece uma enorme sala de estar encontra-se bem arrumada e eu diria que até arejada. A lareira tem bastante lenha, mas não está acesa. Não há resquícios de pó em lugar nenhum. Com certeza alguém vive aqui. O estilo vitoriano beirando ao viking me chama atenção. É uma boa estrutura e não parece em nada com a parte exterior. Nem sequer imagino que haja goteiras aqui, impossível o desabamento que pensei lá fora. Bem... eu deveria procurar alguém? Tudo bem, posso fazer isso quando não estiver tremendo.

Ao pouco procurar visualmente, encontro uma caixa de madeira contendo pequenos gravetos. É a única coisa capaz de acender essa lareira, imagino. Por isso risco vários gravetos, quase sem sucesso, até que um deles resolve cooperar comigo.
Ah, que falta faz o calor. Não sei o que é isso desde o dia em que saí da cidade à procura da feira de ciências. Meu pai estará lá e resolvi lhe fazer uma surpresa ao aparecer para apoiá-lo, coisa que ele diz nunca querer que eu faça. No fundo sei que apenas não quer que se repita o cenário passado onde eu, criança tola, estraguei tudo. Mas, bem, não vem ao caso e não sou mais aquela criança. A questão é que me perdi no caminho e não faço ideia de onde esteja. Meu cavalo correu na direção oposta quando caí e certamente não voltará. Agora cabe a mim conseguir ajuda e voltar para casa, porque não posso ir até a feira nesse estado.

Libertando-me de meus devaneios, ouço o cair de algo. Um barulho seco, talvez um livro. Com certeza há alguém aqui. Será que notou minha presença enquanto me aquecia na lareira?

-- Olá? Desculpe invadir sua casa... eu... eu me chamo Changkyun e estou perdido. Meu celular ficou sem bateria e a comida acabou. - tem mesmo alguém aqui? ou estou alucinando pela fome? - Oi...?

Se eu subir as escadas posso encontrar algo mais. Talvez alguém, talvez comida (o que seria muito melhor). Espero que ao menos não seja uma armadilha estilo João e Maria.

Já no andar de cima, me deparo com uma enorme cozinha. Quão rico é o morador desse lugar?
A louça está lavada, mas não há comida em lugar algum. Devo vasculhar os armários. Bingo! Frutas, grãos e vinhos! Que fome!

-- Por favor não se importe, não vai te fazer falta.

Eu acho.

Deve ser rico demais, podre de rico. Não vai se importar com um vinho, cinco maçãs, um cacho de uvas e alguns moranguinhos. Devo guardar na mochila também, certo? Certo! Não pegarei os grãos, não sei para quê servem já que estão todos em vidros. Mas essas suculentas belas frutas... elas me darão energia para voltar. Em meio ao meu processo de armazenamento, me embaralho, não vi que havia panelas tão próximas a mim. Aposto que o barulho imenso ecoou em todo o castelo. Assim me apresso a comer tudo o que peguei, quem sabe dá tempo de pegar algumas roupas quentes depois e sair sem ser visto por alguém.

Hoje é meu dia de sorte. Estava apenas procurando água quando achei... tantandandam! Carnes! Isso mesmo, há uma freezer cheia de carnes! Eu preciso fazer alguma coisa.
Aquela panela que derrubei antes serve perfeitamente para um robusto pedaço. Eu faço isso mesmo, vou jogar aqueles grãos aqui e-

-- O que está fazendo aqui?! Quem é você?!

Meu. Deus. Eu. Estou. Ferrado.

Aquela voz era grave demais e raivosa demais para ser amigável. De repente meu corpo começou a tremer novamente, mas eu já não estou mais com frio. Acho que estou hiperventilando. Se eu não morrer hoje, acredite em mim, não morrerei nunca mais.

-- Eu perguntei quem é você e o que está fazendo aqui. Ande, responda!

Decido virar para encarar o dono daquela voz. Eu deveria sorrir, sim, mostrar que posso ser uma boa companhia. Mas o que é isso que meus olhos vêem?! Eu falhei no sorriso porque estou espantado demais. Não é alguém... não, isso é impossível. Parece alguém, mas definitivamente não é alguém. Seus chifres pretos e pontudos contrastam com suas orbes vermelhas e pele extremamente clara. Ele sorri em meu espanto, posso ver suas presas enormes e afiadas reluzindo na luz. Suas unhas em garras marcam seus braços cruzados e ele parece brincar com a língua na boca enquanto me observa sucumbir ao chão.

-- Por favor, me perdoe! Por favor, eu imploro que não me mate!

Sinto seus passos, estou abaixado, eu ouço sua risada digna de um filme sobre psicopatia. Quando levanto a cabeça, ele está em minha frente, exatamente em minha frente, de pé. Estica-se todo, alcança o fogão e o desliga. Nem percebi como o cheiro de queimado começou, mas agora é forte demais.

-- Me diga, forasteiro, por que eu deveria ter misericórdia de você?

Meu deus! Meu deus! Meu deus! Ele com certeza vai me matar em um jogo sádico, sim, vai me torturar e me abater em uma caça animalesca depois de comer a minha alma.

-- Por favor, eu só estou perdido. Eu não vou te atrapalhar, vou embora assim que me deixar ir. Você nem vai notar que estive aqui.

-- Levante-se.

Deus, se você existe, por favor me ajude.

Não tive outra escolha. Meu corpo quase se recusou, mas levantei. Em um súbito ato de loucura meu braço agiu sozinho, eu juro. Ele agarrou a panela pesada no fogão e atirou ela contra o sei lá o quê na minha frente. Ele gritou um palavrão qualquer e cambaleou, o que foi tempo suficiente para que eu corresse em direção ao andar de onde vim. Meu coração está acelerado, sério, se eu não morrer hoje... vocês já sabem.
Eu sei que ele está atrás de mim rindo como um psicopata americano, dexter me salve, porque ele quer me matar.

Estou quase alcançando a porta, mas algo em minhas costas me leva ao chão. É agora, é o meu fim. Quem diria Im Changkyun, você acabará pelas mãos de uma besta.

Rosas e Ruínas [Changki]Onde histórias criam vida. Descubra agora