Stereotypes

Este não é o começo de um dos seus clichês

Chade estava caindo, tão rápido e vertiginosamente que não conseguia organizar os próprios pensamentos, seus cabelos negros chicoteavam seu rosto enquanto o vento cortava sua pele e arrancava seu ar fazendo seus pulmões arderem, suas mãos se abriam e fechavam na tentativa inútil de se agarrarem em algo e foi de repente que uma dor súbita foi de sua palma até seu ombro, sua queda foi interrompida abruptamente, o ardor se fez presente e a garota olhou a própria mão, fora salva por um grosso e forte fio negro de energia  a poucos metros do chão, um novo comichão acometeu sua mão e ela abriu os olhos em seu quarto iluminado por uma luz amarela e fraca. Encarou os olhos amarelo esverdeados de Chimbal que balançou o rabo metodicamente e mordeu sua mão, com um suspiro Chade recolheu o braço para cima da cama e esticou o outro pegando o celular e apertando o botão lateral com o polegar, viu a tela de acender e segurou um segundo suspiro, ainda eram quatro e meia da madrugada. Sério que seu gato lhe mordeu a olhando nos olhos naquela hora?
Se arrastou até a beira da cama e se sentou com os pés tocando o piso de madeira gelado, um arrepio subiu por sua coluna ao ter contato com o chão gelado.
Pegando seus óculos redondos com aro prateado Chade ficou, finalmente, de pé e foi caminhando na penumbra até a cozinha onde acendeu a luz e pegou um pote no armário abaixo da pia, dando passos largos chegou ao outro lado da cozinha e se abaixou colocando a ração no pote vazio de seu gato que miou indignado e virou as costas para ela.
_Eu sei que odiou essa, mas sua ração acabou, na volta compro mais, coma ou passe fome. _Chade disse e foi ao balcão pegando uma caneca e colocando abaixo da saída da cafeteira e enquanto programava a máquina cantarolava uma música.
Esperando seu café ficar pronto ficou evidente para ela que aquele dia faria um frio intenso, essa era a vantagem de se ter uma casa sem um sistema de proteção térmica ou piso aquecido, era possível saber como a temperatura estava sem colocar a mão para fora da janela ou ter uma surpresa desagradável quando abrisse a porta para sair.
A cafeteira apitou anunciando seu doce café e Chade se desencostou do balcão indo até a mesma, pegou sua caneca com uma mão e com a outra puxou o elástico da calcinha de algodão que usava, foi para a pequena mesa e se sentou sentindo o acolchoado da cadeira frio contra suas pernas nuas, finalmente sorveu um gole de sua bebida favorita.
_Ai! Puta merda! _E se arrependeu de sua pressa aí sentir o líquido queimar sua língua.
Dessa vez assoprou o conteúdo da caneca e após isso tomou um gole receoso, estava perfeito, sentir a cafeína entrando em contato com seu organismo era sempre um momento mágico, a deixava maravilhada, adorava café desde o gosto até o cheiro, para si uma boa xícara de um café bem feito poderia superar um orgasmo com facilidade, enquanto apreciava seu momento de paz seu gato subiu em suas pernas e se aconchegou ali, levou uma mão a cabeça do felino e acariciou atrás das orelhas sentindo o animal ronronar de modo reconfortante.
_Esta frio hoje então não fique andando pela vizinhança, se começar a nevar e você estiver fora de casa quando eu chegar não vou sair para procurá-lo. _Blefou e ouviu  miado indignado de Chimbal, é claro que iria atrás dele, seu gato era tudo o que tinha e que conhecia cada face sua, até as mais malucas.
O momento de carinhos mútuos durou pouco tempo e se acabou quando o gato de pelos rajados saiu de seu colo e foi para o quarto, poderia ter colocado a ração para ele e ter voltado para a cama, mas uma vez acordada não conseguiria dormir, então agora estava se acabando no café e pensando em que roupa usaria aquela noite, tinha muitas coisas para pensar, mas agora estava afim de organizar sua vida por isso resolveu adiantar algumas coisas.
Cansada e entediada Chade se levantou e pegou uma agenda sobre o balcão e uma caneta no pote de "objetos emergênciais" a primeira coisa que anotou na lista fora a ração de seu gato e após isso começou a abrir armários e anotar as coisas que precisava comprar, as classificando como urgentes e calmas, porta após porta foi aberta e fechada e coisas foram anotadas, cantarolando pela casa foi até a lavanderia e marcou os produtos que estavam por lá, indo ao pote O.E (Objetos Emergênciais) e anotando o que estava acabando daquela parte.
Quando acabou era por volta de seis da manhã e Chade deixou o caderno na bancada indo para seu banheiro, ali estava quentinho e não se arrependia de ter gastado dois salários para tornar o local isolado termicamente, tirou a camiseta a deixando no balcão da pia e deslizou a calcinha pelas pernas a jogando no cesto de roupas sujas, poderia tê-la lavado já, mas hoje estava com preguiça, prendeu os longos fios em um coque e foi para debaixo do chuveiro o abrindo e sentindo a água quentinha a molhando, passou a bucha por seu corpo e após o fim do banho desligou o chuveiro aproveitando para se secar ali e escovar seus dentes, foi para o quarto com a toalha presa em seu corpo.
Pegou uma calça jeans justa na pilha de calças reforçadas para o caso do tempo piorar, um suéter de tricô com aparência velha cor de baunilha, calçou seu all star converse amarelo chuck taylor e diante do espelho prendeu os cabelos ondulados em um coque bagunçado, porém firme, pegou sua mochila e colocou novamente os óculos indo pelo corredor e parando na cozinha para roubar um pedaço de bolo da geladeira e pegar a lista de compras, então passou pela sala e gritou tchau para seu gato antes de fechar a porta e descer as escadas do prédio.
_Bom dia Chade. _O porteiro disse de modo educado e bem humorado.
_Bom dia senhor Dudle. _A garota disse antes de sair para a rua.
Sua vizinha abanou a mão para si e correspondeu o aceno antes de caminhar algumas quadras e descer para o metrô, comprou sua passagem e após passar o cartão teve acesso as plataformas onde ajudou uma mãe com um carrinho de bebê e seguiu em frente, entrou em seu vagão e as portas se fecharam atrás de si, atravessou o vagão e se sentou em uma poltrona ao lado da porta pela qual desceria, tirou o celular do bolso e foi ver seus recados.
Riu de algo que Andrew mandou em um grupo e concordou com Peter outra pessoa do grupo, abriu a conversa com Lyan, seu melhor amigo nerd assim como si e é claro que ele mandou um áudio ao invés de digitar "Papai viajou, vou fazer uma noite especial para nós, o que sugere?".
Chade digitou uma resposta rapidamente e abriu outras redes sociais enquanto esperava o trem parar, após mais alguns minutos o mesmo parou em sua plataforma e logo desceu, era abençoada por descer na primeira plataforma logo após embarcar próxima de sua casa, atravessou a rua para a universidade e mais uma vez se sentia a favorita do universo.
_Não vai me obrigar a ir naquele lugar! _Lyan exclamou assim que Chade estava próxima o suficiente para ouvi-lo. _Lá tem bebidas, pessoas loucas por sexo e dizem que até algumas drogas.
_Não é assim. _Chade riu e abraçou o amigo. _Ah... Qual é? Vamos, por favor, você sabe que será uma noite especial.
O tom doce e suave de Chade fez o rapaz ceder, os olhos se fixaram nos castanhos da amiga que, sabendo que venceu abriu um sorriso imenso.
_Vamos para as aulas de hoje antes que eu mude de ideia. _Lyan suspirou e continuou seu caminho com a amiga.
_Vai que você encontra um belo cara lá! _Chade disse e recebeu um olhar de advertência do amigo que a fez rir.
Ao passar pelo prédio principal cada um seguiu para um lado e Chade entrou no prédio em que teria a primeira aula do dia, passando pelo corredor sempre cheio esbarrou em alguém da mecânica e sabia que derrubou algo, mas não parou para pedir desculpas, precisava chegar a sua sala rapidamente.
Ethan olhou na direção que a garota fora, ela derrubou seu projeto e nem se deu ao trabalho de se desculpar, estava furioso com uma nerd que só notou por causa de sua pressa, agora tinha que ver se o motor ainda funcionava, após recolher a peça do chão seguiu para sua sala e foi até a sua bancada, procurou por rachaduras, lascas ou trincados, mas não encontrou, não tinha como saber se estava perfeito por dentro já que soldou tudo durante a madrugada, com um suspiro resignado pegou o resto do projeto na mochila e conferiu novamente se o motor era forte o suficiente para fazer o braço robótico erguer seus livros, para a sorte daquela baixinha nerd estava tudo, aparentemente, bem.
_Espero que tenham executado seus projetos com perfeição. _A professora entrou na sala falando com seu modo firme e ríspido. _Desde que eles pelo menos façam o que está anotado em suas ideias iniciais já devem considerar um pequeno avanço. _Ela ergueu uma pilha dos projetos dos alunos e olhou de modo arrogante para Ethan que estava sentado de maneira desleixada em sua cadeira.
Um a um seus colegas foram se apresentando e sua vez chegou quase lá pelo final, vários de seus colegas conseguiram mostrar sua evolução diante dos projetos criados cinco meses atrás.
_Ethan Warcoock. _A professora chamou.
Ele se levantou e pegou ambas as peças sabia que o objeto talvez não fizesse tudo que havia aprimorado desde que esboçou o projeto pela primeira vez, mas tinha que tentar, estava com medo da queda ter comprometido todo o seu árduo trabalho, mas mesmo assim, foi até a mesa de apresentações e colocou o motor e o braço sobre ela, fora ao armário da sala e pegou duas peças aleatórias que tivessem o peso que precisava, conectou o motor ao braço e sobre a mão robótica colocou os objetos que pegou, apertou um botão azul do controle que estava preso por um fio ao motor e viu a mão erguer os objetos, a professora fez algumas anotações.
Ethan seguiu com sua apresentação mostrando o equilíbrio do braço ao colocar um copo com água na palma aberta, também mostrou a sensibilidade e a força o fazendo segurar sem amassar uma folha e após isso quebrar três canetas juntas, ao fim da apresentação a professora o mandou se sentar e disse que havia, visivelmente, uma melhoria, seus colegas deram-lhe tapinhas nas costas.
Em algum lugar do enorme campus, dentro de uma sala em um dos prédios Oliver estava fazendo uma simulação de primeiros socorros, por mais que sua mente estivesse voltada para o rapaz de pele negra que fazia uma prova no prédio ao lado do seu.