A fuga

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Eu não havia desmaiado, mas bem que poderia. Estávamos então Daymon (meu noivo), o gato e eu fora da PEG.

— Suma com essa coisa do meu santuário! Não ouse pisar os pés aqui! Os outros pelo menos foram educados. Eu devia mandá-lo pro abismo do esquecimento!

— Qual é a sua? O que quer? Por que tem tanta repulsa ao Prior?! — Daymon perguntou, parando entre o gato e eu. — Responda ou eu...

O gato, de repente, parou de vociferar e riu. Uma risada longa que estendeu-se de ponta a ponta e parecia que seus dentes iam saltar pelas laterais. Ele precisava urgentemente de uma consulta com a dentista. Além de que seu bafo era quente demais para aquele deserto gelado.

— Daymon, tenho quase certeza que essa bola de pelos deformada disse algo sobre outros, poderia ser Marjorie e Melanie?

O gato, ao me ouvir falar, esboçou uma reação (tremeliques, o olho esquerdo esbugalhou e voltou ao "normal) e disse:

— Morte aos traidores!

Daí tudo virou uma loucura, o chão de areia-rala-fofa começou a endurecer e junto a ele os nossos pés. Daymon saltou e me puxou junto, usando um último impulso antes que o solo se transformasse em terra batida. Pousou e rapidamente me pôs de volta no chão, pronto para lutar.

O gato aumentou o seu tamanho ficando da mesma altura que a PEG e num impulso violento moveu sua pata peluda em nossa direção. Fechei os olhos instintivamente percebendo a sombra se formar e a luz do sol se esvai e, quando os abri, Daymon estava a minha frente segurando a pata do felino.

Ele não precisava fisicamente tocar a pata para impedir o avanço, bastou mover-se contra ela. O animal não cedeu, continuou fazendo força até que foi lançado pelos ares.

Daymon, para o meu azar, saltou atrás da criatura também pegando impulso. Primeiro dobrou os joelhos e depois lançou o corpo para cima — Alçou voo. A uma distância consideravelmente alta, até para mim, ele pegou outro impulso, agora no ar, e avançou em direção do gato golpeando-o na barriga.

O impacto causou uma forte lufada de vento que trouxe consigo uma densa tempestade de areia, não mais tão fofa! Me perdi procurando por Daymon e não sabia como poderia alcançá-lo. Tudo que senti foi algo tocando a minha cintura e, novamente, aquela sensação de supetão no pé de ouvido.

— Segura nos meus braços — A voz era de Daymon — Vamos voar para longe daqui.

Segurei o mais forte que pude, a velocidade que Daymon estava cortando o ar tão deliberadamente era rápida demais para poder assimilar alguma coisa. Meus pés balançavam para cima e para baixo. Pude sentir a areia pinicando a pele diversas vezes até pararmos.

Logo Daymon parou: Ou seja, rolamos numa estrutura sólida metálica até pararmos próximo a um desfiladeiro. Meu braço pendia para a queda livre. Fitei lá embaixo e senti vertigem, parecia que a fatiga veio a tona de uma vez.

Acho que vou vomitar.

E foi o que fiz, joguei tudo para fora ali no Canyon mesmo. Daymon não tardou.

Eca, vômito de casal.

— Isso foi, demais! Day, não sabia que podia voar assim e socar com tanta força, você foi tão... tão, maneiro!

Daymon não respondeu. Aproximei dele e notei que respirava com dificuldade.

Tudo bem, Prior. Hora de ficar quietinho.

Sentei-me ao lado dele e escorei a cabeça em seu ombro. Nossos pés pendiam para baixo e ficavam livres. Um tempo depois, ele me envolveu num abraço e ainda sem dizer nada me beijou na cabeça.

Primon:  Uma Odisséia no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora