Capítulo 40

56 16 2
                                    

Al-Andalus — Outono, Novembro de 835 d.C.

As tropas do exército do Emir se posicionaram fora do alcance dos arqueiros nos muros. Cercaram o castelo e começaram a cavar um fosso, mal haviam descarregado as mulas com as provisões para um demorado cerco, quando os portões duplos foram abertos e a batalha começou.

Jamila cavalgava ao lado de Suleymán na vanguarda da cavalaria, se chocaram contra os soldados assustados na infantaria que não imaginavam que os situados ofereceriam combate, se em Mérida a diferença superioridade de Emir era de três para um, naquele momento aumentara para cinco contra um.

Jamila desferia golpes com sua cimitarra à direita e esquerda, maioria visava os pescoços expostos dos soldados que fugiam aterrorizados.

Em volta dela suas escudeiras e sua tropa de cavalaria lutavam bravamente lideradas por Brunilde que parecia gargalhar enquanto descia seu machado rachando cabeças e elmos.

Os gritos de pânico e de batalha encheram o ar daquela tarde, o sol já começava a descer no oeste, e não teriam mais do que duas horas de claridade. O plano era simples, matar o máximo de soldados do Emir e fugir na direção da serra de Santa Cruz, onde Mahmud estava acantonado.

A infantaria que seguira atrás da cavalaria entrou na luta ampliando a brecha no cerco, que naquele momento já não existia mais em razão da debandada geral.

Galopando desenfreadamente desceram o monte e ganharam a planície, o caminho estava livre e Suleymán fez um sinal ordenando que a cavalaria se detivesse. Caberia a ela permitir que a infantaria se espalhasse pelos pequenos montes da região, aproveitando a chegada da noite para se esconderem e depois irem até o ponto de encontro na região onde o irmão de Jamila estava.

— O plano deu certo! – gritou Suleymán animado, aproximando sua montaria da de Jamila. Sua túnica e cimitarra estavam cobertas de sangue.

A jovem olhou em volta, os infantes corriam se espalhando na direção norte, o sol estava quase se pondo.

— Acho que comemoramos cedo demais! – disse Jamila apontando para a direção sul de onde vinha uma grande tropa de cavalaria.

— Eles estão em maior número! – gritou Brunilde.

— Temos que segurá-los para dar tempo de nossos soldados escaparem! – respondeu Jamila.

— Avançar! – ordenou Suleymán se decidindo, apontando a cimitarra para frente e golpeando com força o flanco de sua montaria.

Jamila o seguiu logo atrás, juntamente com sua tropa composta de mulheres e as escudeiras nórdicas.

Os demais cavaleiros também avançaram gritando seu desafio aos homens do Emir.

As duas tropas se chocaram com um estrondo, gritos de guerra e de dor, relinchos raivosos, o tinir de aço contra aço. Jamila se envolveu em um combate contra dois cavaleiros ao mesmo tempo, enquanto se defendia de um com seu escudo atacava o outro, sentiu que não conseguiria vencer a ambos, mas nesse momento Brunilde passou galopando ao seu lado, a lâmina de seu machado brilhou golpeou de forma circular um dos atacantes, decepando sua cabeça.

Jamila aproveitou e enfiou sua cimitarra no peito do outro cavaleiro, a lâmina o transfixando. Os cavalos pareciam querer combater também, pois tentavam se morder e se escoicear, enquanto seus cavaleiros travavam uma luta mortal.

De repente a jovem avistou Jamal, o traidor que causara a morte de seu amado pai.

— Cão maldito! – gritou e avançou com sua montaria.

Entretanto ela foi interceptada por outro cavaleiro e teve que travar uma luta contra ele. De soslaio percebeu que Suleymán também o vira e avançara com a cimitarra em riste.

Os cavalos se chocaram e ambos entraram em uma dança mortal, suas cimitarras se golpeando e produzindo faíscas. Jamila conseguiu matar seu adversário, mas no momento em que tentou avançar, para seu horror, percebeu que durante a refrega entre seu marido e Jamal, o primeiro caiu da sela do cavalo, atingido no escudo pela lança de um cavaleiro que combatia a pé.

Jamal aproveitou para fazer seu garanhão avançar contra a montaria do muladi, que assustada recuou pisoteando– o. Jamila ouviu seu grito de dor e desesperadamente forçou passagem pelos inúmeros cavaleiros, com Brunilde e algumas de suas guerreiras a apoiando.

Mas a superioridade numérica das tropas do Emir fez a balança da luta pender contra ela, fazendo– a recuar lutando. Um soldado enfiou a lança no abdômen de Suleymán, que mesmo caído continuava brandindo sua cimitarra. Outro se aproximou e o atingiu no elmo com sua espada.

— Não! – gritou Jamila desesperada decepando o braço de um atacante, o sangue dele esguichando do corte e respingando nela.

Ela percebeu que Suleymán lhe ouvira e sorrira, no mesmo instante em que Jamal de aproximou e com um golpe violento lhe decepou a cabeça.

— Recuem! Recuem! – ela ouviu oficiais do muladi ordenando a retirada.

Por mais um instante ela lutou para tentar alcançar Jamal, mas cada vez mais cavaleiros avançavam contra ela e suas guerreiras, em breve estariam cercadas.

— Recuar! – ordenou por fim sentindo-se a pior das mulheres por não ter conseguido recuperar o corpo de seu esposo para lhe proporcionar um funeral digno.

O sol mergulhou no horizonte e a escuridão começou a aumentar o que possibilitou que ela e sua tropa de cavalaria fugissem do campo de batalha.

Enquanto galopava sentindo as lágrimas sendo secadas pelo vento que batia em seu rosto, jurou por Alá que ainda teria sua vingança contra Jamal. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora