A três anos atrás, meus dias eram uma rotina chata e cansativa. Eu não tinha nada de novo em minha vida, era tudo tão previsível. Até que eu engravidei, e tudo mudou. Meus pais me colocaram para fora, dizendo que era errado ter uma filha fora do casamento, meu namorado, e pai dela, me deixou e fui obrigada a arrumar um trabalho aos dezoito apenas para conseguir pagar um apartamento de quinta no subúrbio. A únicas pessoa que esteve lá para mim, foi a minha melhor amiga,April. Ela é o que chamo de família.
Grace, esse é o seu nome. O nome do pequeno ser que vive comigo e faz meus dias valerem, eu faria qualquer coisa por ela. Minha filha é a cópia fiel da minha pessoa, cabelos e olhos castanhos e covinhas. Não tem como dizer que ela não é minha.
“Mamãe, eu vou voar?” a garotinha me perguntou pela quinta vez. Estávamos atravessando a sala de embarque do aeroporto, preparando-nos para ir para Londres. Isso mesmo, Londres. Eu havia conseguido um trabalho em uma empresa de publicação lá, e teria que deixar Nova Iorque.
“Sim, queria, nós vamos voar” entreguei as passagens para a moça que sorriu ao ver Grace, e a mesma abanou a mão. Uma coisa que Grace não é, é tímida. Ela fala com todos, brinca com todos e sorri para qualquer um.
“Eu vou ser uma borboleta? Uma borboleta rosa?” arregalou os olhos.
“Nós vamos entrar em uma borboleta gigante, e ela vai levar a gente para a casa nova” peguei-a em meu colo e arrumei seu moletom suéter marinho com corações vermelhos, que estava completamente amassado.
“Legal” guinchou e eu gargalhei com sua animação. Minha filha começou a cantar a música da Dora, A Aventureira, que era um de seus desenhos preferidos enquanto procurávamos nossos assentos na primeira classe “Quero a janela” pediu. Eu arrumei-a na poltrona e coloquei seu cinto.
“Gracie, nada de chorar ou fazer birra, entendido?” eu já havia pedido isso quando entramos no aeroporto, mas nunca é demais.
“Sim” balançou a cabeça repetidamente, soltando alguns fios de cabelo do seu rabo “Quero tirar” antes que eu pudesse falar algo, ela levou sua mão ao elástico azulado e o puxou do cabelo, fazendo o mesmo armar em seus ombros.
“Deixe-me arrumar” penteei cuidadosamente seu cabelo ondulado, até conseguir abaixá-lo um pouco. Ela havia tirado a touca no táxi e agora o elástico, ela odeia ter qualquer coisa em sua cabeça.
“Mamãe, onde está a Bombom?” peguei a mochila que trouxe comigo e peguei a tartaruga verde de dentro da mesma.
Comprei esse bicho de pelúcia para ela quando tinha apenas um ano, e agora ela o leva para todos os lugares.
O avião começou a encher. As pessoas iam sentando em todas as poltronas, e no fim, quando anunciaram que as portas iriam fechar, a cadeira ao meu lado estava vazia.
“Balinha” minha filha exaltou-se ao ver a aeromoça passando com um pote de balas de caramelo. Peguei quatro cubinhos da bala e agradeci a moça “Mas eu quero mais” choramingou Grace.
“Pode pegar querida” a empregada encheu a mão de balas e colocou no porta copos da minha poltrona. Agora Grace iria se entupir de açúcar e não dormiria um segundo. Ótimo.
“Obrigada” murmurei para a mulher que sorriu e continuou a passar com o pote.
“Quanta balinha” a garotinha guinchou e se esticou para pegar os cubos marrons, mas eu a puxei para o seu lugar.
“Você não vai comer todas elas” avisei “Aqui” descasquei uma e coloquei em sua boca, repetindo a ação, mas desta vez para mim.
A voz avisando que era para colocar os cintos soou pelo local, e travei o mesmo, esperando para levantar voo.
Alguns segundos depois de pedirem para desligar os aparelhos, minha filha pediu para ver Dora, e eu demorei alguns minutos para explicar que teria que esperar.
“Quero mais balinha” pediu e eu neguei “Eu quero mais balinha” repetiu, dessa vez com uma voz manhosa.
“Eu falei sem birra, Grace. Eu te dou mais balinha daqui a pouco” ela cruzou os braços e fez bico e eu não pude evitar de sorrir. Apirl iria adorar ver isso.
Eu já não via minha melhor amiga a semanas, pois ela conseguiu um trabalho em um dos hospitais de Londres e se mudou antes de mim, mas graças a ela, temos um apartamento para morarmos nos próximos anos.
Quando o avião estava no ar e foi liberado o uso dos aparelhos, peguei rapidamente meu celular e liguei na Netflix, selecionando o desenho para minha filha.
“Aqui, segura e não deixe cair” abaixei o volume o suficiente para não incomodar os outros.
“E a minha balinha?” Deus, que menina persistente. Descasquei outro caramelo e ela o enfiou na boca antes que eu pudesse fazer “Obrigada” disse enquanto mascava.
“De nada” beijei-lhe a testa e procurei pelo meu IPod dentro da mochila. Coloquei apenas um dos fones e encostei-me na cadeira, olhando par a Grace enquanto uma nova música começava.
“Mamãe” a garota sussurrou e eu ergui as sobrancelhas “Eu quero fazer xixi” falou em um fio de voz e eu suspirei.
“Tudo bem, vamos lá” tirei nossos cintos e coloquei os aparelhos na poltrona vazia, que agora tinha um travesseiro para Grace.
A garota segurou minha mão enquanto andávamos pelo corredor, e ia dizendo ‘oi’ para todos que a olhavam. Puxei a porta do banheiro e coloquei-nos dentro do cubículo.
“Uau, que pequeninho” ela abriu a boca e eu abaixei sua calça jeans e a calcinha de estrelinhas. Ajudei-a a subir no vaso e ela começou a cantar a música do penico, que foi inventada por April para me ajudar a ensiná-la “Acabei” cantarolou e eu a limpei, vestindo-a novamente.
“Vamos” destranquei a porta cinzenta e voltamos para nossos lugares. Devolvi o celular para minha filha, que continuou entretida por uma hora, quando se cansou de ver desenho.
“Por que ainda não chegamos?” perguntou “Eu quero ver a tia Pri” fomos obrigadas a achar um diminuitivo para o nome da minha melhor amiga, já que ela não conseguia pronunciá-lo.
“Ainda temos algumas horas pela frente Grace, tente dormir” eu estava rezando que uma onde de sono viesse e a fizesse dormir por mais cinco horas, que era tempo o suficiente para chegarmos em Londres.
“Não estou com sono” resmungou e começou a empurrar o banco da frente.
“Grace, para com isso” puxei suas pernas para baixo, mas ela tornou a levantá-las “Grace, vou te colocar de castigo” e ela continuou, até que eu vi a cabeça da pessoa virar para trás e nos encarar, com uma expressão ensonada.
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E foi assim que tudo começou.
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