Capítulo I (Problemas Políticos) - 1

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No primeiro dia do ano de 2010, milhões de brasileiros tiveram o mesmo sonho: imagens de escândalos políticos envolvendo corrupção, seguidas de desastres naturais, violência, fome, miséria e, por fim, o Congresso Nacional em chamas, acompanhado de perto de um povo em gozo, celebrando. Ao final, a silhueta negra de uma figura indecifrável.

Obviamente, uma intervenção dessas proporções não demorou para ser percebida. Por volta da metade do dia o fato já era comunicado com alarde pelos portais de notícias, potencializando o medo gerado pelo o que foi classificado de psicoterrorismo. Neste primeiro momento, como é de praxe, muita especulação, mas ninguém discordava que o acontecido só poderia ser obra de algum indivíduo dotado de supra-habilidades, comumente chamados de supradotados.

Debates antigos voltaram à tona, como a possibilidade de ter sido um erro não revisarem o papel da Guarda Nacional na formulação da Constituição Federal de 1988, no seu Título V, como centralizadora do policiamento, investigação e julgamento de supracriminosos, o que já era o caso há praticamente dois séculos. Estas responsabilidades cabem exclusivamente a ela não só na esfera federal, como também na estadual e municipal. Assim sendo, a eficiência da Guarda Nacional é de suma importância e neste caso estava sendo posta em cheque mais uma vez.

A Guarda, como não estava dando conta do crescente número de super crimes a cada ano, muitos perpetrados por estrangeiros, acabava por nem investiga-los, deixando-os sem solução, impunes. Sem mencionar a corrupção que corroía a corporação, o que estava se tornando inadmissível, ainda mais em um momento como esse em que “apesar do Brasil ter acabado de ser escolhido como sede de dois grandes eventos mundiais, o país, além de já ser refém da suprabandidagem, agora encontra-se à mercê de ‘psicoterroristas’ de mesmo nível de periculosidade”, conforme ataca a mídia.

A clássica desqualificação e minimização do problema por parte do Governo se faz presente. O “sonho em massa”, como já é chamado, poderia não passar de uma “brincadeira de mau gosto de algum desocupado” ou, até mesmo, “coincidência”. Seja como for, os brasileiros ouvem a promessa que o crime será investigado e solucionado aplicando-se todo o rigor das leis.

Mais de um mês depois, nada.

Já é Fevereiro e os parlamentares ainda não retornaram de suas férias, a não ser por um senador do Rio Grande do Sul. Ele convoca uma sessão extraordinária, a qual nenhum outro colega comparece. A sessão não deveria ocorrer por falta de quórum mas, ainda assim, o senador seguiu adiante. Com a cobertura de algumas poucas emissoras, por conta da situação inusitada, o senador subiu na tribuna, ajustou seus papéis, o microfone, e se pôs a falar:

– Senhoras e senhores, venho aqui diante dos estimados e das estimadas colegas, com uma postura inédita: venho declarar-me culpado de crimes contra a nossa estimada República, desviando verbas da saúde e educação do estado ao qual represento, em comum acordo com ministros e diversas entidades do poder público e nomes importantes da iniciativa privada, prestadores de serviço por licitações fraudulentas firmadas conosco. Todos os detalhes, todos os pormenores do nosso esquema encontram-se neste envelope! – bradou o senador, levantando o objeto em questão. – Que todos os envolvidos encarem uma punição exemplar por parte da Justiça, visto que meu fim será outro.

Neste momento as quinze pessoas, talvez vinte, presentes na sessão já faziam um pequeno reboliço, chocadas com a situação, que ainda não havia sequer terminado. O senador continua:

– A bem da verdade é que marquei encontro com meu destino aqui, hoje, nesta casa, nesta tribuna. Meu destino, meu último ato, é uma tentativa de redenção pelas décadas de mau uso da máquina pública.

E foi com um tiro na boca que o senador se matou.

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