Minha Doce Angel

Piloto

Rio de Janeiro – Brasil, 2021

— Eu nem sei porquê tenho que ficar aqui... – a voz da moça de cabelo castanho claro ecoou pela sala praticamente vazia. — Tem idéia do que você obrigou a fazer? – suas mãos trêmulas encontraram a quina da mesa marrom.

— Ah, para de drama, nem foi tão difícil assim... – o rapaz de cabelo mediano respondeu enquanto puxava a cadeira pra sentar. Seus olhos percorreram as costas da garota parando em seu bumbum. — Tô pensando em te incluir na gangue, você é bem flexível.

— Entrar pra sua gangue? Você enlouqueceu? Você me tirou tudo que eu tinha, Felipe. Tudo!

— Fala sério, Angelina... Você só teve que apagar ele! – Felipe jogou a cabeça para trás após soltar a fumaça do charuto. — Não venha me dizer que você é tão inocente assim, eu soube o que fez com a Stephanie da rua treze.

— Eu me defendi e defendi minha mãe, foi só isso, Felipe. Você quer comparar uma coisa dessas com o que rolou entre eu e a Stephanie?

— Com licença chefe... – um homem alto e moreno adentrou a sala tirando a concentração de Felipe em Angelina. — Ele está aqui!

— Por favor Felipe, por favor... Não machuque ele! Eu te imploro! Faço qualquer coisa. – Angelina acelerou seus passos em direção ao chefe da maior gangue brasileira.

— Sei que você vai fazer tudo que eu quero, minha Angel, mas por hora, você não me serve mais.

Felipe deu um sorriso de canto para Angelina, enquanto encostava a ponta de seu dedão nos lábios da garota, deslizando para a ponta do queixo e se voltando para seu capanga.

Por longos instantes, Angelina se perguntou como sua vida seria diferente se tivesse feito outras escolhas. Seu coração estava acelerado, seus olhos marejados, suas mãos permaneciam trêmulas e suadas.

𝗙𝗹𝗮𝘀𝗵𝗯𝗮𝗰𝗸 𝗼𝗳𝗳

Londres – Reino Unido, 2019

— Parabéns, Edlynne, você está contratada. – a voz suave e delicada combinava com sua dona. Poloma era a governanta da casa da família Murphy, uma das famílias com grande importância na história da Inglaterra. Ian Murphy, avô da Sra Murphy, fundou pelo menos cinco dos hospitais mais importantes espalhados por Londres, depois, a família continuou seu importantíssimo legado. — Você começa amanhã mesmo.

— Obrigada, muito obrigada Poloma! – Edlynne respondeu com animação.

— Não agradeça a mim... Na verdade, o Sr e a Sra Murphy gostaram do seu perfil, e eu como governanta, apenas aceitei com fervor o pedido deles. – Poloma respondeu de forma direta. Edlynne observou detalhadamente cada traço da mulher que estava a sua frente, Poloma tinha estatura mediana, cabelos grisalhos revelando brevemente sua possível idade. — Bom... – ela continuou enquanto se levantava. — Nos vemos amanhã, Edlynne. – a governanta estendeu a mão, apertando levemente a mão de Edlynne.

𝗠𝗮𝗶𝘀 𝘁𝗮𝗿𝗱𝗲...

Horas mais tarde Edlynne chegou em sua casa mas não antes de tomar uma boa parte da chuva que caiu na cidade. Ela entrou rapidamente onde costumava chamar de “melhor lugar do mundo”, tirou o casaco ensopado e foi correndo em direção do banheiro para colocar o mesmo na máquina de lavar.

— Angelina? – ela gritou do banheiro. — Angelina? – continuou.

— Oi mãe! – Angelina gritou de volta. — Estou na cozinha.