Quando minha mãe finalmente recebeu alta do hospital, tudo mudou em sua perspectiva. Definitivamente, ela tornou-se uma outra mulher. O ensandecido rancor que fazia com que me fuzilasse ao som da simples menção do senhor Raymond pareceu desvanecer dos seus olhos. E até mesmo o papai passou a conter-se depois que soube que foi Enzo — aquele em que machucou, acusou e ameaçou, o responsável por salvar Lúcia Hayes do obscuro mundo da morte.
— Por que não gosta de comemorar o seu aniversário, afinal? — Enzo pergunta-me.
Nós estamos sentados a uma mesa reservada da Coffee Empire.
Estou bebericando meu delicioso cappuccino, enquanto tento reunir e organizar o emaranhado de minhas lembranças, da época inocente e feliz até o ponto onde tudo foi rompido e destruído, manchado e completamente distorcido.
— É complicado. — Eu sussurro.
— Você gostaria de falar sobre isso?
Levanto os meus olhos do leite vaporizado no topo de minha xícara e encontro o afetuoso olhar escuro do meu lindo professor buscando-me.
— Eu acho justo que saiba sobre o meu passado. — Eu murmuro, bebendo um pequeno gole de minha bebida. — Todas as férias de verão, eu implorava para que meus pais me levassem para Neville Hill. Você sabe, quando temos amigos especiais em um lugar. Em meu caso, eu tinha a Charlotte, o Jeferson e o Tom. Caramba, eu mal podia esperar para encontrar todos eles, correr, brincar, colher maçãs pelo pomar do bairro vizinho. Éramos tão felizes.
— Entendo. Então o menino é importante, não é mesmo?
Enzo sorveu um grande gole de seu café expresso, impassível.
— Tom é como um irmão, já te falei isso. Qual o problema?
— Refiro-me ao outro.
— Jeff?
— Oh, Anna, você não tem ideia. Ele está pouco se fodendo para está baboseira de melhores amigos para sempre. O menino quer muito mais, posso lhe garantir.
— Enzo, por favor, de onde tirou isto? Conheço Jeff desde os quatro anos de idade.
— Isto não quer dizer nada, acredite. Você sairia com um moleque como ele?
A expressão do meu professor é enigmática. Seus lábios sugerem um sorriso quase cruel, muito vago. Aonde ele quer chegar com essa conversa?
— Hum, eu acho que tenho uma queda por homens complicados e idiotas, que amam literatura e café. Não sairia com o Jeff, não neste sentido.
Eu o olho divertida, sorrindo de sua feição de horror humorado.
— É esta a descrição para mim?
— Oh, ciumento e pervertido, eu esqueci de acrescentar.
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Amores Proibidos - Vol. 1
RomanceA tempestade costuma castigar a cidade de Dreamland e não é uma novidade a nenhum de seus habitantes. Mas, atrasada para a aula de literatura do senhor Raymond - a brilhante, encantadora e jovem Anna Hayes não esperava contar que justamente naquele...