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Evan Cel Tradet

Contrariando as minhas experiências com ferimentos, um cubo de gelo não bastou para aliviar a pancada que levei no nariz e uma pequena mancha roxa se formou onde o livro acertou. Desviei o olhar do espelho e apoiei as mãos na pia, desacreditado. Meus reflexos são ótimos, e mesmo assim, ela conseguiu acertar aquele negócio na minha cara. Eu daria risada, se não fosse patético.

O que surpreende, de verdade, é perceber que Alex não é a víbora mimada que imaginei que seria. Não há o semblante de desdém nem o nariz arrebitado comum das mocinhas da alta sociedade, apenas uma garota que quer ler em paz e pede muitas desculpas, mesmo quando não há necessidade. Estalei a língua e me afastei do espelho. Estou pensando demais em questões que não interessam no momento. O que realmente importa, é que pareço ter conquistado um pouco da confiança dela.

Jasper partiu cedo para a escola, o que significa que tenho a manhã livre. Talvez, eu deva me esgueirar até a torre da igreja e encontrar Elind para relatar o que aconteceu, e pedir uma ajuda com a questão do meu nariz, porque improvisar e explicar para cada ser vivo que aparecer na minha frente como, eu, um humilde padre, consegui um roxo no nariz, vai exigir uma paciência que eu não tenho.

Mal cheguei a sala de estar quando alguém bateu na porta. Foram batidas fortes, vindas de alguém que não está disposto a esperar. Jasper jamais bateria numa porta assim, muito menos Alex. Respirei fundo e antes de caminhar até a porta, visualizei uma faca serrilhada sobre a mesa, a mesma que usei para cortar o pão do café da manhã.

Segurei a maçaneta. Se forem guardas, preciso escapar e ter ao menos tempo para alertar Elind.

Girei a maçaneta e abri a porta de uma vez, prendendo a respiração, mas ver Mason Harding plantado à minha porta arrancou o ar dos meus pulmões. O silêncio foi minha única resposta e esperei os guardas surgirem atrás dele, prontos para me prender, mas os dois homens uniformizados permaneceram estáticos, guardando o portão do cemitério. Mason sorriu, presunçoso, e usou um cumprimento de cabeça para disfarçar e me olhar de cima a baixo.

— Sr.Lawson, certo?

Já escutei a voz dele em centenas de pronunciamentos públicos. Mesmo quando as ocasiões são sérias, sua voz possui um tom natural de zombaria e sarcasmo, e agora não é exceção. Ele está sempre menosprezando os outros.

Atrás das minhas costas, fechei a mão. Eu poderia matá-lo agora. Os guardas só iriam me alcançar quando eu já tivesse rasgado a jugular. Enchi o peito com ar para afastar o impulso. Matá-lo agora traria benefício momentâneo, e o sistema inteiro precisa cair sem possibilidades de se reerguer.

— Sim... senhor.

As palavras têm um gosto amargo na minha boca, mas Mason parece gostar do meu protótipo de bajulação.

— Perdoe-me a grosseria, mas eu esperava alguém mais... velho.

— Entrei cedo para o seminário.

Inventei um resto de história para a minha encenação soar mais convincente. Alden Lawson foi para o seminário ainda adolescente depois que a mamãe prometeu que ele se tornaria padre, caso o pai sobrevivesse a uma peste. O pai não sobreviveu, mas ele foi mesmo assim. Mas não consigo dizer mais nada. Minha mandíbula está rígida.

— É admirável ter entrado para o caminho do Senhor tão cedo. — Ele estica o pescoço, olhando para dentro da casa. — Está ocupado? Tenho um assunto urgente a tratar.

Neguei com a cabeça e me afastei para que o futuro Chanceler pudesse passar. Vestido com um sobretudo preto, a presença dele na casa recaiu como uma sombra.

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⏰ Última atualização: Sep 12 ⏰

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