A Cirurgia

10 1 0
                                    


Nuria estava sentada na pequena varanda do apartamento encarando o celular, abria um aplicativo atrás do outro buscando distração para sua preocupação. Passava fotos, enviava mensagens puxando assunto com amigos, curtia textos, mas os minutos pareciam se arrastar e sua concentração a abandonara.

Enquanto isso sua irmã gêmea, Nara, lavava a louça do almoço ouvindo música nos fones sem fio. Ouvia-se a música ecoar em seus ouvidos, mas ela também parecia alheia as suas ocupações. Os cabelos negros cacheados presos em um coque meio frouxo, quase soltando-se, e indo de encontro ao seu pescoço suado.

O ventilador de teto parecia muito barulhento hoje e pouco eficaz contra o calor. Nuria se remexeu na sacada e deitou-se do piso frio. Se remexeu novamente pouco confortável e virou de bruços. Soltou o celular e olhou para a irmã ainda na pia. "Será que ela também estava preocupada?" pensou.

Seus cabelos cacheados estavam trançados, mas também ameaçavam se soltar e alguns fios já se uniam a sua pele molhada. Se remexeu outra vez e sentou-se. Olhou para tela do celular outra vez. "Não se passou nem um minuto" Suspirou.

Colocando a última louça no escorredor, Nara virou-se secando as mãos e teve a atenção da irmã. Tirou um dos fones e anunciou que iria tomar um banho para se refrescar.

"Boa ideia, acho que depois também vou" respondeu Nuria.

Nara então sumiu pelo corredor e Nuria foi se deitar no tapete da sala embaixo do ventilador de teto. Mas imediatamente se arrependeu.

O vento descia quente, e suas costas colaram como velcro no tapete. Usava apenas um top e um short curto. Levantou-se imediatamente e resmungou. Na mesinha de centro se apoiou nos cotovelos e encaixou o queixo nas mãos. Respirou fundo tentando manter o mau humor sob controle e começou a sondar o aparador da televisão atrás de algo para se distrair. Primeiro algumas revistas e livros sobre dança, mas estava sem concentração para ler, viu alguns dvds que nem lembrava que tinha, mas também descartou, e na ponta do movél estava o bambu da sorte de sua irmã, primeira coisa que ela comprou quando mudaram para o apartamento. "Será que foi regado hoje? Talvez se eu lhe der água, ele nos dê um pouquinho de sorte para hoje."

Antes de terminar seus pensamentos já estava de pé e foi em direção a cozinha. Quando chegava a pia seu celular tocou. Uma onda de energia tomou seu corpo e ela voltou aos tropeços para a sala.

"Julia respondeu seu comentário"

Soltou um gincho de raiva e se jogou no sofá. Nenhuma notícia chegava e suspeitava que logo seria ela a ir para o hospital se continuasse nesse desespero.

Nara saia do banho ainda enrolada na toalha e secando os cabelos. Sentou-se na cama e encarou o espelho a sua frente. Deixou os braços caírem lentamente no seu colo. Sentia dificuldade para respirar, algo parecia obstruir sua garganta. Puxou o ar e encheu os pulmões, mas o caroço ainda estava ali. Seus lábios começaram a tremer e se curvar. Baixou a cabeça e apertou a toalha nas mãos. "Não sou assim, não sou assim. Eu sou forte, não tenho razão para estar assim" repetia para si sem parar.

Levantou-se da cama abruptamente, secou as lágrimas que começavam a se formar no canto dos olhos e não olhou mais para o espelho. Foi até o guarda-roupa e escolheu um vestido de alças finas. Esfregou o rosto com as duas mãos como se apagasse algo e foi até a penteadeira cuidar dos cabelos.

Logo seu semblante estava impassível novamente. Respirou fundo e foi para a sala e se assustou com o que encontrou.

Nuria estava sentada no chão olhando para o celular aos prantos.

Nara correu ao seu encontro e a abraçou. "Recebeu notícias?"

Nuria balançou a cabeça negativamente e deixou a irmã confusa. Respirou fundo e levou as mãos ao rosto para secar as lágrimas. Pegou o celular e mostrou a tela para a irmã.

Quem te amaOnde histórias criam vida. Descubra agora