Nas entranhas de uma mente perturbada

4 1 1
                                    

Já estava acordado há muito, mas não se percebia como tal, tudo parecia como um sonho, meio confuso, memórias perdidas o invadiam, quase como um devaneio. Reconhecia ter problemas com recordar, então não estranha a posição que se encontrava. Se via agora na casa de uma de suas irmãs, que muito tempo não via, depois do divórcio dos seus pais, a distância de todos veio com tanta força, já era, mesmo antes, um rapaz que negligenciava a família, mas seu pai tentava unir a todos.

Agora com a separação, nunca esteve tão distante de todos, mas por algum motivo, que não podia recordar no momento, estava lá, uma das visitas casuais que gostava de fazer nos tempos de outrora, agora sem seu pai, pois com o mesmo não falava há tanto tempo, mesmo que existisse uma vontade reatar a relação. Nada lhe fazia sentido naquela situação, nesta cena inusitada estava apenas sua mãe, irmã e sobrinho, percebia a falta das outras filhas de sua irmã, mas não perguntava onde as mesmas estavam, sua irmã era casada, mas seu marido não fazia falta alguma, não sabia o porquê.

Naquela pequena sala, pois nas condições financeiras que sua irmã se encontrava, um pequeno imóvel era tudo que poderiam possuir, caindo aos pedaços pelo tempo nada gentil, o rapaz pode perceber, ao olhar pela janela, que a velha camioneta de seu pai estava estacionada no quintal, já desgastada e com o vidro quebrado, surgiu-lhe uma curiosidade e um receio de que seu pai fosse aparecer.

- O pai vai aparecer por aqui? Por que a camioneta dele está aqui? – disse o rapaz quase que atônito, mas distante demais para perceber as próprias palavras

A mãe e o sobrinho permaneciam na sala, e remanesciam em silêncio, talvez o assunto fosse delicado demais para falar abertamente, talvez não competisse a eles a resposta dessa pergunta.

- O está de passagem por aqui também, algum problema nisso? – a irmã falou com algum peso e ira na voz, pois tinha muito apreço pelo próprio pai e sabia que seu irmão não o via com bons olhos. "Como um filho pode não amar seu pai?" pensava a mesma, sem se fixar muito, mas saindo de sua paz habitual.

Agora que o rapaz sabia que seu pai estava por ali, sua paz estava por esvair, não queria, pois encontrar o mesmo, como a muito não queria e não o fazia. Para descontrair desse mórbido pensamento, decidiu então brincar com seu sobrinho, que em sua última viagem, era muito mais jovem, mas que não recusaria jogar algo com seu tio, se o mesmo pedisse.

- Que tal se jogarmos um vídeo game? Ainda possuis algum? – disse o rapaz ao seu sobrinho, mas sentia que os ânimos não estavam mais como antes, tudo desandava, e a imagem da caminhoneta estacionada lhe causava ainda grande aflição. Sua irmã havia se retirado da sala, pois para ir ao quarto talvez, isso ele não poderia dizer com certeza, mas não sabia onde ela estava.

Não consegue se recordar de seu sobrinho lhe respondendo algo com palavras, mas sabe que o mesmo aceitou, sabia que aceitaria, o mesmo criara uma devoção grande pelo rapaz, como alguém exemplar e grandioso, como uma figura a ser seguida. Então se vão a jogar, naquela mesma sala, com um vídeo game antigo, mas que tinha capacidade de causar boas risadas e para poder passar o tempo, numa velha televisão, pois era isso que o dinheiro podia pagar.

Mas como algo estava errado, e o rapaz sentia que estava, seu humor abruptamente muda, e entra numa briga com o seu sobrinho, talvez com carinho, talvez com raiva, mas começa como que a bater no mesmo.

Nisso sua mãe tenta interferir, de maneira amigável, pois a mesma era passiva e não gostava de brigar ou berrar em momento algo, tenta com palavras doces parar a discussão, comenta algo sobre a televisão, mas as palavras na cabeça do rapaz estão muito desconexas para que se lembre exatamente o que aconteceu, só pode se lembrar da briga, de como era violento, como aquilo lhe causava raiva e como a camioneta estacionada não parava de lhe incomodar. Mas um medo era muito maior, não sabe porque, mas tinha medo que sua irmã viesse defender seu filho, pois as mães, que amam os filhos vão querer defende-los, então no rapaz veio o medo de que fosse sofrer as consequências da briga por parte de sua irmã.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 04, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Nas entranhas de uma mente perturbadaOnde histórias criam vida. Descubra agora