Capítulo 16: O céu

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O Senhor Nelson finamente acordou, encarando o céu vermelho e esfumaçado.
- Vermelho e esfumaçado?
Ele se levantou devagar, com uma leve dor na cabeça e nas costas, suas pernas tremendo e seu ouvido zumbindo. O banco estava à sua esquerda, com outro livro encima dele. Ele pegou o livro, tinha a mesma capa do que estava ali antes, porém em um estado melhor, mais novo e sem marcas. O som de algo saindo do lado às suas costas foi ouvido pelo Senhor Nelson. Ele se virou e uma forte luz encheu seus olhos. Ao retomar a visão, ele viu uma grande onda vindo em sua direção. A onda o engoliu...
O Senhor Nelson acordou novamente, sentado no lugar de sempre, em sua cafeteria preferida, com um prato à sua frente e um copo ao lado. O prato tinha panquecas com xarope de bordo e manteiga, o copo estava até a borda com chá mate, ele odiava ambos, para ele eram intragáveis. Ele levantou o rosto para chamar uma garçonete, porém não havia ninguém, o local estava completamente vazio.
Ele olhou pela vitrine e o sol lhe cegou momentaneamente. A rua estava deserta, completamente vazia de qualquer tipo de vida. O Senhor Nelson se levantou e correu para fora, mas ao abrir a porta caiu em um breu completo, mergulhando na escuridão de cabeça.
O Senhor Nelson acordou novamente, sentado no banco de praça, porém ainda estava no meio do breu, com uma luz caindo por cima de si e do banco como vapor. Ele se relaxou no banco, seu corpo todo estava dolorido e seus olhos doendo, e a cabeça pulsando como se o sangue passasse por ela rápido como uma bala.
O Senhor Nelson ouviu passos. Uma silhueta apareceu no meio do breu, uma fina linha lhe fazia a silhueta como que iluminado por trás.
- É solitário não?
A voz soou rouca e um eco, como que de uma sala grande, se ouviu.
- Hum? O que quer dizer?
O Senhor Nelson respondeu olhando para a silhueta. A voz lhe parecia nostálgica, como que de alguém que fizera parte de sua vida, porém não lembrava de quem. Era uma voz grave de um homem alto, grande e já meio velho.
- Aqui... Sua mente. Nada além de escuridão; vazio. Nenhuma pessoa, nenhuma lembrança, nenhuma memória.
O Senhor Nelson se levantou e encarou o que parecia ser o rosto, e sentiu sua cabeça doer.
- O que quer dizer com isso? Eu tenho muitas memórias, muitas pessoas importantes que guardo em minha mente. Muitas memórias boas de toda a minha vida... Eu... Eu tenho... Eu tenho?
- Não, você não tem. É apenas uma casca. Como um museu vazio.
- Museu...? Por que um museu?
A silhueta se virou e começou a andar para longe.
- Você deveria saber, não? Afinal... É uma memória muito importante sua.
O Senhor Nelson tentou correr até a silhueta.
- Espere. O que quer dizer com isso? Por que não consigo lembrar de nada?
O Senhor Nelson correu pelo espaço vazio. Não via nada, não sentia nada, mas conseguia ouvir os seus passos ressoando por esse espaço vazio. Ele andou continuamente com os seus passos ficando mais pesados, sua respiração ficava mais fria assim como o ar à sua volta. Em um dado momento ele parou e, por costume, procurou algo em que se apoiar. Encostou em um cilindro de ferro e secou o suor da testa com o braço. Quando o tirou de sua frente estava encostado em um poste comum, em uma rua nevada, vazia numa madrugada. E em sua frente estava um enorme prédio. Ele reconhecia esse prédio. Era um museu de sua cidade natal...

Luzes no EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora