Então é Natal... E o que você fez?

Então é Natal...

O ano de 2020 acabou com a minha vida, não sei se ele foi tão terrível como meu primeiro beijo, mas beirou isso aí.

Eu estou a exato dez meses preso no meu apartamento, tem embalgens de comida e salgadinho por todo lado, minha televisão fica o dia todo ligada no modo video-game, meu tanquinho que antes estava cheios de gominhos, está mais caído que os seios da minha avó... Ah minha avó! Que saudades que eu 'tô daquela velhinha que vivia enchendo meu saco para eu comer mais um pouquinho, pois segundo ela, estava tão magrinho e desnutrido. Agora eu só a vejo por video-chamada e é sempre a mesma coisa: ela chora falando que está morrendo de saudades de abraçar o neto querido - vulgo, eu.

Acho que comecei meio errado, certo? Você provavelmente não deve estar entendendo bunfulhas nenhuma, então vamos lá: me chamo Jeon Jungkook, tenho vinte três anos, estava no auge da minha faculdade de fotografia, mas aí um vírus filho da puta desgraçado - desculpa, me exaltei - abordou o mundo e agora 'tá todo mundo sendo refém dele, todos estão presos dentro de suas casas.

Lembro que no início de tudo, eu até estava gostando de ficar o dia todo em casa, sem fazer nada, levantando na hora que eu quisesse, comendo na hora que quisesse, fazendo as aulas na hora que quisesse.

Mas agora, quase dez meses depois, eu estou prestes a arrancar meus próprios cabelos de tanta crise histérica que  estava tendo.

Mas agora, parecia que as coisas entrariam nos eixos: a vacina ainda não foi totalmente desenvolvida, mas a Coreia já está com muito menos casos do que quando começou e eu agradeço imensamente por isso; apenas agora as pessoas estão conseguindo sair para retomar seus empregos, as poucas crianças estão começando a voltar as suas escolinhas e eu... Bom, eu ainda estou acompanhando minha faculdade pelo EAD e graças a Deus, as coisas até agora estão dando certo.

Hoje é dia vinte e três de dezembro e eu estou saindo para fazer algumas, compras, afinal, o Natal está quase batendo na porta.

Eu estou também terminando meu último trabalho para a faculdade que é: fotografar aquilo que você ama. O professor nos deu um bom prazo, posso entrega-lo até o Ano Novo, então ele fechará a minha nota e eu finalmente estarei livre de aulas, por pelo menos um mês.

Ajeito a touca sobre minha cabeça e ajeito bem o casaco grosso que me cobre, está muito frio.

Antes de entrar no mercado, uma moça vem medir minha temperatura corporal e colocar um pouco de álcool-em-gel em minhas mãos, para só assim, eu poder entrar dentro do mercado, todas as pessoas ao meu redor usam máscaras, todas bem discretas.

Vou para a seção de vinho e coloco duas garrafas do melhor que eu encontrei dentro do carrinho e sigo empurrando a frente, pego algumas cervejas e só.

Saio da seção e vou para outras, atrás de carne, arroz, feijão, amoras, limões e etc... Tudo que eu preciso para uma seia  de Natal.

Sigo em direção ao caixa e vou retirando minhas coisas de dentro do carrinho, deixando na esteira para que a mulher do caixa fosse passando as compras. E então que o vejo.

Subindo em um palco improvisado ali no meio do mercado, está sem máscara, mas em compensação ele segura um microfone sem fio nas mãos pequenas.

Seus cabelos são pretos, ele usa um suéter com listras horizontais da cor vinho e branco. Usa uma calça jeans da cor azul claro e em seus pés um all star preto.

Timidamente vejo ele levar o microfone para perto dos lábios e com um pigarreio começar a falar:

- Sei que esse ano não foi fácil para nenhum de nós. - Sua voz doce e melodiosa, mas ao mesmo tempo tímida, sooa pelos altos-falantes do mercado e muitas pessoas param para prestar atenção no garoto baixinho em cima do palco. - Mas uma canção de Natal pode deixar nossos corações um pouco mais quentinhos, com a esperança de que um novo ano próspero e repleto de felicidade esteja chegando. - Ele sorriu e logo a melodia de uma grande e famosa música natalina começa a sooar ele começa a cantar e minha nossa, sua voz é linda.