Atlantida 🍓🍓 (Jun Young)

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"Como Atlântida, nós submergimos."

Bae Soo
2019

O espaço vazio na cama e o repentino frio que nem mesmo três camadas de cobertores poderia suplantar, eram lembretes de que, mais uma vez, Lee Jun Young não havia voltado para casa.

O céu, que quando ensolarado fazia questão de me acordar com as luzes do sol penetrando pela janela larga do quarto, hoje estava tomado de nuvens, fazendo a manhã chegar um pouco atrasada naquele dia. Então ainda estava um pouco escuro, apesar do tom azul se distinguir do negro da madrugada, afirmando, sem palavras, que a noite já nos abandonara.

Suspirei, me deitando de barriga para cima e olhando o teto, que acumulava um pouco de mofo nas laterais, como se os fungos gostassem de devorar as coisas pelas bordas. Me lembrou um pouco dele, que adorava comer as bordas da pizza ou do kimbap, com mordiscadas, antes de partir para o meio e devorá-los.

Peguei o meu celular na mesa de cabeceira. Sem mensagens. Entrei na lista de chamadas e cliquei no primeiro número. Chamou, chamou, chamou... caixa postal. Bufei de frustração e tentei mais uma vez. Até que, finalmente, uma voz débil atendeu.

"Noona..."

Tentei engolir toda a raiva que subia pela minha garganta, como vômito. Ou, talvez fosse vômito de verdade, já que os últimos dias meu estômago vinha alternando entre fome descomunal e indigestão, mas não importava. Eu queria explodir.

"Lee Jun Young, onde você está?"

"Ah... eu tô aqui."

"Aqui onde?", perguntei entredentes.

"No Son."

"Outra vez?", indaguei, em um tom mais calmo do que eu esperava.

"Aish, foram só dois copos."

"Sua voz me diz que estes dois copos ficaram perdidos bem antes da meia-noite.", esbravejei, me levantando da cama. "Eu nem sei porque estou falando com você."

"Porque eu sou todo seu. E você é minha, noona."

Desliguei, antes que ele falasse coisas piores e com menos sentido ainda. Recolhi uma calça no varal da janela da cozinha, amaldiçoando Jun por ter de me fazer buscá-lo mais uma vez naquela droga de barraca de soju. Além dele ser bem maior do que eu e, toda vez, me fazer suar até a última gota de água do meu corpo para arrastá-lo até o nosso apartamento, a insatisfação de ter os olhos dos vizinhos fofoqueiros nos fitando era de dar náuseas.

Desci as escadas, olhando o celular: eram 5:40 da manhã, então fiz um cálculo rápido. Tinha quinze minutos para carregar Jun de volta para o apartamento, cinco para jogá-lo no chuveiro, dez para me trocar e, ao mesmo tempo, fazer uma sopa para a ressaca dele e pegar o ônibus. Eu já havia chegado atrasada no dia anterior. Não poderia repetir o erro.

O sol já ascendia depois do horizonte, e a claridade fazia parecer que havia passado muito mais tempo além dos três minutos que demorei para chegar na barraca de Son Mun Ahn. Corri um pouco mais rápido e senti os meus seios doerem." Droga, nem tempo pra colocar um sutiã eu tive!", pensei, automaticamente checando com um olhar rápido se eu não estava indecente demais. Por sorte, a camisa que dormi era larga e preta.

Jun estava debruçado sobre uma das mesinhas de metal da barraca. Uma cena um tanto ridícula, considerando a droga de cara de colegial que ele tinha. Como se fosse um aluno nota F que dormia entre as aulas de sociologia e matemática e não um adulto feito perdendo tempo com soju. Mas, de alguma forma, além de conseguir dormir ali, mal posicionado, conseguiu dividir o espaço com as muitas e muitas garrafas de vidro verde vazias.

Night Ways [One Shots]Onde histórias criam vida. Descubra agora