Naquela manhã, ela colocou um chapéu preto. Estava muito frio para andar na rua desprotegida.
Ajeitou sua gravata na frente do espelho, levantou as meias até o joelho, retocou o batom vermelho, alisou seu sobretudo preto. Pegou sua mochila e saiu de casa. Enquanto andava até o colégio, ouvia o álbum The Stars Are Indifferent to Astronomy do Nada Surf enquanto fumava um cigarro.
No dia anterior, Peter ofereceu uma carona para ela até a escola, mas Nanna disse que não era necessário. Mas agora, enquanto o vento frio cortava sua pele e bagunçava seu cabelo, desejou ter aceitado a carona.
Alguns minutos depois, chegou ao colégio. Jogou o cigarro no chão e o apagou com a sola do coturno preto que usava em seus pés.
Entrou dentro da escola e foi até seu armário. Pegou os livros e cadernos que precisaria naquele primeiro dia de aula de volta das férias de inverno, naquele fatídico dia cinco de janeiro. Checou se o pacote de emergência de 10 gramas de maconha ainda estava escondido lá, e estavam,
Fechou o armário e foi até o auditório do colégio, onde, como sempre, o diretor daria uma pequena palestra. Enquanto andava pelos corredores, esbarrou em Lolita White, a garota que Peter havia ficado dois meses atrás.
-Garota, se toca! – Lolita exclamou para Nanna, a olhando de cima abaixo – Por que não pega os óculos do seu namoradinho, o Demarco, emprestados hein?
-Meu bem, eu tenho um leque de xingamentos em minha cabeça para te xingar, mas não estou a fim de gastar minha saliva com você. Então sai da minha frente. – Nanna disse, olhando com tédio para a garota.
-Como se eu tivesse medo de uma nerdzinha – Lolita murmurou, enquanto continuava a andar pelo corredor.
Nanna se sentou na última fileira do auditório, pensando em como odiava aquele colégio, seus colegas, os professores, o azulejo azul do chão, as carteiras, tudo lá criava um sentimento de repulsa dentro da garota. Nunca, ninguém, em toda a história do ódio com colégios, alguém odiou tanto um colégio como Nanna Vincent Mars.
Enquanto odiava mentalmente, Peter se sentou na cadeira ao lado dela.
-Olá, Nanna.
-Olá, Peter.
-Animada com a volta às aulas?
-Pode apostar que sim – Nanna ironizou, fazendo o garoto rir pelo nariz.
O tempo passava, e pouco a pouco, os outros alunos entravam e sentavam nas outras cadeiras do auditório. Todo aquele barulho juvenil dava dor de cabeça em Nanna. Quando sua cabeça já estava quase explodindo, um homem barrigudo e calvo, o diretor do colégio, brotou no palco a pedir silêncio para os alunos.
O sr. Lo Visco, o diretor, relembrou as regras do colégio, comentou sobre alguns projetos que aconteceriam até o final do ano letivo, como o Baile de Inverno e o Baile de Formatura, e desejou um bom ano para todos os estudantes mesmo que, no fundo, queria todos mortos. Em seguida, dispensou todos os alunos pelo resto do dia.
Ainda era meio-dia e meio. A lanchonete da escola estava aberta e o almoço estava sendo servido, mas Nanna preferiu não comer lá. Convidou Peter para ir ao Domino's no centro da cidade e ele aceitou. Quando estavam saindo da escola, Nanna viu o sr. Curtis conversando com o professor de matemática e a professora de filosofia. Ficou feliz em ver ele.
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Terminaram de comer a pizza de mozarela, e Peter levou Nanna de volta para a casa dela. Durante o caminho de volta, fumaram cigarros do maço de Peter, um Camels, ouvindo uma rádio que tocava apenas músicas dos anos 40 e 60
Ao parar o carro na frente de sua casa, Nanna se despediu de Peter e agradeceu pelos cigarros. Ele disse que ela nunca teria que agradecer pelos cigarros. Ela deu de ombros, saiu do carro, e seguiu até a porta.
Peter acenou um tchau para ela, antes da garota entrar. Ela não acenou de volta.
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Little Trouble Girl, Little Trouble Boy
JugendliteraturNanna Mars nunca teve amigos. Nunca. Nem ao menos um. Já teve alguns namorados, mas nunca alguma "melhor amiga para quem pudesse contar tudo e chorar vendo comédia romântica de madrugada". Não tinha realmente reparado em Peter, até que ele começou a...