Doze

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A campainha tinha tocado assim que às 13 horas haviam soado no relógio da sala. Os garotos cumprimentaram seu Raul e se dirigiram até a edícula, tomando a liberdade de já montarem os instrumentos sem Julie estar presente.

Julie sabia que a banda já havia chegado - eles não eram exatamente silenciosos agora que podiam se mostrar para os vivos, além de Pedrinho ter batido a porta de seu quarto devido a empolgação dos amigos terem chegado. Ele também tinha se acostumado com a presença diária de Martin e Félix, e tê-los somente três vezes na semana agora era muito chato, principalmente pela maior parte do tempo eles estarem ensaiando com a sua irmã.

Julie só precisava terminar os dois últimos exercícios de revisão de física e poderia estar livre para ensaiar até quando pudesse, mas precisaria ter foco para isso. Ela jurava que estava tentando, mas a ansiedade de ter algo melhor para fazer do que estudar espelhos e reflexões batia forte em seu peito, quase implorando para que ela largasse o caderno.

Mas Julie é brasileira e não desiste nunca.

Insistiu por mais quinze minutos, se desligando da guitarra e do baixo, mas quando a bateria começou, ela não pôde mais continuar. Abandonando o material, Julie prendeu o cabelo e desceu até a edícula, com sua presença sendo ignorada pelos quatro garotos.

Enquanto Martin e Daniel faziam ajustes em um papel, Félix testava batidas com os pratos, tendo Pedrinho mexendo no equipamento de som.

-Não, assim não tá legal. - Martin interrompeu Félix.

-E se você tentasse algo mais rápido? - Pedrinho sugeriu, fingindo que entendia as cifras desenhadas na folha.

-Você entende de música, Pedrinho? - Daniel perguntou com interesse.

-Não, mas sempre tem uma parte de bateria pesada, não é?

-Acho que pode funcionar. - Félix ponderou. - Acompanhado da guitarra, não acha, Daniel?

-Talvez se encaixar no refrão.... - Daniel foi até a sua guitarra, passando a alça pelo pescoço e começando os primeiros acordes que já tinha decorado.

Félix seguiu Daniel, se empolgando com os tons e bumbo, dando leves batidas nos pratos, apenas para dar uma quebrada no forte som. Daniel era muito entregue à música, estando tão concentrado na melodia que sequer tinha reparado na presença da namorada na edícula. Curiosa, Julie se aproximou de Martin e tentou olhar no papel.

-Posso ver?

-Eu esperaria, se você. - Daniel recolheu o papel, imaginando que seria mais impactante pra garota ouvir pela primeira vez na voz deles.

-Mas como vou aprender se não ler?

-Foi mal, Julie, mas você não tá nessa. - Martin deu a notícia, se divertindo com a expressão de espanto no rosto dela.

-Pensei que fosse demorar mais até me expulsarem da banda.

-Eu vejo mais como um descanso para a sua voz, além de eventuais músicas da Apolo 81.

-É uma das suas antigas?

-Definitivamente não. - Daniel respondeu, anotando as cifras no papel para Félix acompanhar. - Martin, acho que se você começar e depois eu entrar ficar melhor.

-Deixa eu tentar.

Martin puxou seu baixo e começou com os acordes, tendo o seu solo por sete segundos antes de Daniel entrar junto de Félix, permanecendo na base por 42 segundos até o início do refrão chegar e ser a vez do solo de guitarra, com leves toques de pratos no fundo, para enfim chegar a parte que Pedrinho havia sugerido. O baixo acabava ficando escondido no meio de todos os instrumentos, mas se Martin parasse de tocar certamente sentiriam a sua falta.

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