Um Milagre Entre Semideuses

Capítulo 6 - Helena

Finalmente era a hora de comer. A hora do jantar. Fui pro pavilhão refeitório junto de meu irmão e nos sentamos junto do Percy, da Annabeth e do Will. Espera... onde está a Kaayra!?
Logo que percebi isso já olhei sugestivamente para o Percy e ele fingiu não ver meu olhar, apesar de ele próprio não estar muito feliz. Fiz, então, a suposição de que eles brigaram e que ela ia demorar para vir, ou então estava sentada na mesa de Poseidon original. Ah, espera... a gente estava nela.

Helena: Percy, cadê--
Percy: no chalé...não quis vir comer...
Helena: vou ir falar com ela então. Ela não pode ficar sem comer.
Percy: ela quer ficar sozinha...
Nico: ela descobriu a verdade então?
Helena: que verdade?
Percy: sim...descobriu...

Ainda estava tentando entender quando Quíron apareceu, deu os avisos e pediu para fazermos nossas oferendas. Fui até a fogueira e joguei parte de minha comida em uma oferenda a meu pai, Hades, e voltei para a mesa.

Annabeth: Cabeça de Alga, não acha melhor levar ela até sua casa? Ela sempre gostou de visitar sua mãe...
Percy: aí que está... Ela disse que quer ficar sozinha o máximo possível.
Will: isso não é saudável... nem esconder a verdade foi saudável.
Helena *quase gritando com eles*: vocês podem me explicar o que Hades é essa verdade que deixou ela tão mal!?!?
Nico: Eu explico depois.
Helena: não. Eu quero saber agora. Eu TENHO que ajudar ela de alguma forma!
Percy: Ei, calma aí Lena. A gente explica...
Annabeth: Kaayra não é exatamente uma semideusa... Ela na verdade é filha de uma humana e um anjo. Poseidon apenas deu parte do próprio sangue para poder trazer ela para um lugar seguro para ela viver.

Fiquei atônita com isso. Eu e Kay vivemos juntas desde quase sempre e para mim ela sempre fora apenas uma semideusa que, mesmo sendo filha dos 3 grandes, sempre foi extremamente simples.

Nico: desculpe por esconder isso de você, Lena, mas você e Kaayra são tão próximas que Quíron tinha medo de que você contasse a ela antes da hora...
Helena: antes da hora?
Will: o pai de sangue da Kaayra queria manter ela segura de toda forma; quanto menos ela soubesse, mais segura estaria.
Helena: é idiotice guardar um segredo desses por 15 anos, sabiam?!
Will: eu concordo com você, mas só fizemos o que pediram...

Eles guardaram um segredo desses por todo esse tempo... nunca mencionaram nada para mim nem para ela... isso me deixou irritada no momento. Parei de conversar e apenas comi.

*******

Na hora da fogueira, Kaayra apareceu e se sentou ao meu lado em silêncio. A loja do acampamento ainda estava aberta, então fui até lá e comprei um saco de marshmellow para ela comer, mas não consegui ler o rótulo, então não sabia se ela podia mesmo comer ou não. Voltei para fogueira e dei a ela. Ela ficou em silêncio, olhou o rótulo e abriu o pacote.

Helena: você pode comer?
Kaayra *falando baixo*: não fala nada sobre ter leite ou não... fala apenas que pode conter...então, melhor arriscar do que passar fome...

Ficamos em silêncio, o que era estranhamente reconfortante, comendo os marshmellows. Queria conversar com ela, mas não sabia o que dizer... na verdade não fazia a menor ideia. Percy e Annabeth aproximaram da gente em meio às outras pessoas.

Percy: está melhor maninha?
Kaayra: sei lá... coisa demais para absorver... na verdade queria ficar sozinha no chalé...mas a fome apertou, então vim pra cá...
Helena: eles me contaram...eu...sinto muito por terem escondido isso de você...

Ela deu de ombros e voltou a comer em silêncio. O chalé de Apolo começou a cantar ao redor da fogueira e, o que era fora do comum, Kaayra não os acompanhou. Acho que aquilo havia realmente mexido com ela. E foi aí que tudo aconteceu.
Rachel estava sentada mais próxima da fogueira, perto de Quíron, mas de repente ela se levantou e ficou ainda mais próxima do fogo, virada de frente para onde eu e Kaayra estávamos e ela parecia olhar diretamente para Kay. Os olhos ficaram roxo escuro e de sua boca começou a sair uma fumaça da mesma cor. Todos, até Quíron, estavam surpresos com aquilo e com certo medo. E então, Rachel começou a falar. Mas ela não falava com a voz do oráculo de Delfos, ela falava com uma voz feminina e meio metálica, ou algo do tipo.

Rachel: O anjo do mar caminha pelo escuro
Suas lembranças estão num poço sem fundo
Na mata encontrará as respostas
Sobre as vozes misteriosas
Descerá dos céus a ajuda
Que salvará a sua busca

Uma profecia. Uma profecia sobre um anjo do mar. Uma profecia sobre Kaayra.
E mesmo já dizendo a profecia, Rachel continuou a falar com aquela voz feminina metálica, mas agora apontava diretamente para Kaayra.

Rachel: Vosso pai celestial necessita de tua ajuda. Não podes negar auxílio a ele. Apenas você pode ajudá-lo, anjo do mar.

E então ela apagou. Quíron correu para ampará-la antes que caísse no chão. Todos estávamos atônitos e em total silêncio, só era possível ouvir o crepitar da fogueira. Kaayra deixou o saco de marshmellow cair, ela tremia muito ao meu lado. Segurei as mãos dela e a olhei nos olhos que estavam expressando total terror.
Os outros campistas começaram a olhar para nós duas e a cochichar entre si, todos estavam achando muito difícil de acreditar em tudo aquilo.

Quíron: hora de recolher! Vão todos para os seus chalés. Conselheiros, para a Casa Grande comigo. Kaayra, venha também.

Kaayra não conseguiu nem pronunciar as palavras, apenas fez que sim. Os campistas começaram a ir para seus chalés enquanto os conselheiros seguiam Quíron para a Casa Grande. Percy e Annabeth esperavam por Kaayra lá embaixo.

Helena: Ei, Olhos de Areia, você tem que ir numa reunião dos conselheiros...

Ela tentou falar mas não conseguia. Estava tremendo e estava muito assustada. Ajudei ela a levantar e fui com ela até o irmão.

Percy: calma, Cachinhos do Mar... vai ficar tudo bem... Eu e Annabeth estaremos do seu lado.
Kaayra *sussurrando*: não quero ir...
Annabeth: você precisa ir... prometo que ficará tudo bem...
Helena: vai... eu vou até o seu chalé pelas sombras, se quiser.

Ela fez que sim e seguiu o irmão para Casa Grande. Mesmo tentando reconfortar ela, todos sabíamos que algo ruim podia acontecer.