Capitulo único

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Sábado 11:10

Eu sou um idiota.
De todas as formas possíveis. Ou talvez não, talvez eu só seja distraído, não é?
Não, não sei se é isso, mas talvez idiota seja um pouco demais.
Não me lembro nome dela. Eu ao menos perguntei pra ela o nome dela? Eu falei o meu nome?
Droga, não me lembro dessa parte.
Logo eu, que julgo tanto aqueles caras que ficam com meninas sem ao menos saberem o nome delas, acabei nessa situação.
Foi bom passar a noite com ela - na verdade, acho que é mais certo dizer que passar a madrugada com ela foi ótimo - ela era extremamente simpática, bonita e beijava bem pra caralho.
Mas, porra, eu nem mesmo sei o nome dela.

Sexta-feira (dia anterior) 00:50

Quando Jaehyung me disse que faria uma festinha com os amigos mais próximos para comemorar seu aniversário, não achei que teriam tantas pessoas na casa dele. Digo, a casa não estava lotada - longe disso, na verdade -, mas achei que teriam menos pessoas, umas dez no máximo? Não sei quantas achei que apareceriam, mas com certeza menos. Chuto que tinham umas 30 e poucas pessoas ali, o suficiente para se formarem umas panelinhas.
Jaehyung é popular na nossa escola, então acho que era de se esperar que várias pessoas, de diferentes grupos estivessem ali.
Tinham algumas bebidas alcoólicas na cozinha para quem quisesse, mas não sou de beber, então optei por apenas uma cerveja, que provavelmente ficaria na minha mão até o fim da noite.
Estava em uma rodinha com alguns amigos meus, alguns já alcoolizados, outros no processo, mas não conseguia acompanhar tudo que eles falavam, então estava mais quieto. Gente bêbada fala uns negócios bem nada a ver, né?
Na rodinha tinham algumas pessoas que eu não conhecia, em sua maioria meninas, isso porquê um dos meus amigos começou a namorar, fazendo com que parte das amigas da namorada dele se juntassem a gente.
E foi aí que eu puxei assunto com ela.
Ela estava do meu lado. Dava risada de algumas coisas que o pessoal falava, mas estava mais quieta. Ela segurava um copinho com líquido transparente, o que fez com a gente começasse a conversar.
- é vodka? - perguntei a ela. Não sei de onde saiu a pergunta aleatória, ou por que perguntei, mas foi o suficiente para a gente começar a conversar.
- não. - ela se virou para mim, pareceu me analisar por um instante antes de continuar. - to tentando me manter um pouco longe de bebidas alcólicas. - me mostrou o líquido do copo, virando-o para mim. - é água. Quer um pouco?
- Não, valeu. - respondi. E nesse momento, devo ter parecido curioso. Ou confuso. Ou sei lá, interessado o suficiente para ela continuar a conversa.
- cê tá afim de me perguntar o porquê, né?
- de você estar tentando se manter afastada de álcool? - ela assentiu, sorrindo. - não vou mentir, fiquei curioso. - e juro que mentalmente me perguntei o motivo.
- bebi um pouco de mais semana passada. - ela olhou para baixo, meio sem graça. - passei um pouco mal e acabei me arrependendo, então tô tentando evitar que isso aconteça de novo. - soltei uma risada fraca, o que fez com que ela voltasse a me olhar.
- um pouco?
- talvez bastante.
E nos rimos. Ficamos um estante em silêncio (entre nós, claro), tentando entender o que o pessoal na mesa estava dizendo.
- você, que também tá bebendo, tá entendendo alguma coisa que eles tão falando? - ela me perguntou.
- eu tô bebendo só uma cerveja.
- e cerveja não tem álcool?
- ah, tem. Mas não tem o mesmo efeito que a mistura de bebidas deles.
- realmente. - me respondeu e olhou minha lata por um tempo. - por que não tá bebendo a mistura deles também?
- não sou de beber muito - respondi e ela balançou a cabeça, olhado para baixo, como se me dissesse que tinha entendido.
- experiência ruim? - voltou a me olhar.
- não, acho que tá mais pra gosto ruim. - não que o gosto da cerveja seja bom, mas comparando com outras bebidas, como a vodka, até é suportável - Mas respondendo a sua pergunta, eu também não estou entendendo nada que eles tão falando.
Ela suspirou aliviada, soltando um "ufa" baixo.
- quer deixar eles aí e dar uma volta pela casa? - ela me perguntou e eu nem precisei pensar muito. Gosto dos meus amigos, mas quando bebem muito, ficam incompreensíveis e eu acabo virando o tio chato do rolê que não consegue acompanhar nada ali.
Ela cutucou a amiga do outro lado dela e sussurrou alguma coisa, provavelmente avisando que ia dar uma volta.
Quando se voltou para mim de novo, pegou meu pulso e me puxou para fora da rodinha, mas soltou logo depois. Acho que foi tipo um impulso ou algo do tipo, para ter certeza que eu estava indo atrás dela.
- conhece bem a casa do Jaehyung? - ela desacelerou o passo para que eu andasse do lado dela e eu assenti como resposta à pergunta.
- quer ir para a área externa? Na piscina?
- ah, claro. Pode ser. - ela me respondeu e fomos até lá sem falar nada, até porque o caminho era curto.
- então - tentei voltar a puxar assunto com ela. - de onde conhece o Jaehyung?
- somos do mesmo grupo de estudos, não somos muito próximos, mas nós vemos umas três, quatro vezes por semana. - ela me respondeu, levando o copo até a boca para dar mais um gole. - e você?
- sou da parte de artes, faço aulas de dança e música com ele. - ela sorriu e porra, que sorriso bonito. Agora que estávamos na área externa e a iluminação era melhor (menos pisca-pisca e afins) conseguia observá-la com mais atenção. Seus cabelos tinham um tom bem escuro e iam até pouco abaixo dos ombros e ela não estava usando muita maquiagem, só um rímel e um delineado fino.
- ah,então temos um artista por aqui - ela brincou, ainda com o sorriso no rosto. Eu ri. - deve tocar algum instrumento então, né? - colocou o cabelo atrás da orelha, mas uma mexa acabou ficando. Ela era pouco coisa mais baixa que eu, tinha um rosto lindo, o qual eu provavelmente teria notado se tivesse a visto em algum outro lugar. - ou você canta? - o sorriso dela era realmente bonito, não sei se ela tinha noção disso. Sua empolgação e curiosidade também a deixavam fofa.
- toco violão e faço aulas de canto.
- compõe também?  - ela também era muito cheirosa, não estávamos tão perto um do outro, mas eu conseguia sentir o perfume floral que ela estava usando, era forte e marcante. Não sei como descrever-lo, mas era algo próximo ao cheiro de uma rosa ou alguma outra flor que tem um cheiro forte. De qualquer forma, era agradável. 
- arrisco algumas coisas, mas nada de mais.
- ah, qual é? Só de conseguir compor já é algo. Algo grande, inclusive. - aproveitei para dar mais um gole na minha cerveja. Agora que estava ali com ela, não via um motivo para continuar segurando a latinha, que era uma boa desculpa para recusar os bebidas que meus amigos me ofereciam. - você podia me mostrar alguma algum dia, né?
- por que não? Quem sabe um dia. - deixei no ar e ela serrou os olhos, ainda sorrindo, mas sem mostrar os dentes.
- estarei esperando. - ela piscou para mim.
- e você? Estuda bastante pelo visto, né?  - parei por segundo para olhar a boca dela, tinha um formato certinho e bom marcado, apesar da iluminação estar bem mais favorável, não sabia dizer se estava usando um batom ou não.
- o que a pressão dos pais não faz, não é? - ela riu fraco.
- queria fazer algo diferente?
- ter umas aulas de desenho seria legal. - ela respondeu, um pouco cabisbaixa.
- cê curte desenhar?
- curto fazer uns rabiscos aí, não sei se podem ser chamados de desenhos. - ela brincou e eu ri fraco.
- tenho certeza que sim. - respondi. - você poderia me mostrar alguns algum dia, né? - copiei-a e ela riu, dando um soquinho no meu braço.
- por que não? Quem sabe um dia. - ela me devolveu e rimos. - a gente não pode sentar ali? - ela apontou para a borda da piscina, queria molhar os pés, apesar do frio. - ah, você tá de calça. Vamos sentar ali, então.
E ela apontou para um banco de madeira, do outro lado da piscina. Assenti e ela pegou meu pulso de novo.
Jogamos minha lata e o copo dela, já vazios, em um lixo e fomos até o banco.
A área externa não estava vazia, mas também não estava tao cheia quanto a sala. Só tinha um grupo de cinco pessoas ali, não atrapalharia a nossa conversa, nem nada do tipo.
E a gente ficou lá por um bom tempo, conversando sobre várias coisas.
Ela me contou que a cor favorita dela era amarelo, que amava ler, e que era melhor ainda quando lia enquanto toava chá, que é mais produtiva a noite, então gosta de ir dormir as seis da manhã quando está de férias para poder ver o sol nascer. Também me falou que trabalho em uma loja de maquiagem aos finais de semana, que sua comida favorita é bibimbap e que é alérgica a qualquer tipo de frutos do mar, que tem um irmão mais novo e uma mais velha que vai ser casar no próximo mês.
Ela me contou que quando pequena fez balé, mas quando cresceu os pais a tiraram, porque achavam que era uma distração e eu acabei contando da vez em que eu caí do palco durante uma apresentação dança e acabei torcendo o tornoselo. Ela também me contou de quando foi pro Japão sem saber falar japonês e acabou aprendendo na marra e eu contei de quando me mudei para a Coreia do Sul, com uns 13 anos e, apesar de estar acostumado a falar coreano com meus pais, tive que aprender quase tudo de novo, já que não conhecia gírias e coisas do tipo.
Foi depois de muita conversa que reparamos o quão próximos estávamos - conhecíamos bastante um do outros e estávamos sentados bem perto. Além disso, da mesma forma que eu olhava para a boca dela algumas vezes, as vezes também a pegava olhando para a minha. Naquele momento, pude sentir o cheiro do perfume dela mais forte do que em qualquer momento da noite, acho que eu também prestei mais atenção nisso, porque queria me lembrar dele depois.
Ficamos quietos por um tempo. Só olhando um para o outro. E foi quando eu me aproximei mais.
  - posso? - perguntei, e nem precisei falar mais nada para que ela entendesse que eu queria beija-la.
De qualquer forma, ela não me respondeu. Digo, ela não falou nada, porque logo em seguida, me puxou pela nuca e me beijou.
Nossos lábios se encontraram e coloquei as mãos na cintura dela, ora ou outra apertando-a com um pouco mais de força (o suficiente para que ela sentisse, sem machucá-la) e ela, que já tinha uma das mãos em minha nuca, alternava a outra entre acariciar a minha bochecha ou passar os dedos pelos meus cabelos.
E porra, ela beijava bem para caralho. Poderia ficar ali com ela por um bom tempo.
Na verdade, acho que eu só queria ficar ali com ela, fosse beijando-a ou continuando a nossa conversa.
Eu só queria poder continuar na a companhia dela.
Quando paramos de nos beijar ela se levantou e, por um momento, achei que ela fosse embora, mas em seguida ela se posicionou entre as minhas pernas, agora precisando abaixar a cabeça para me olhar e voltou a me beijar.
E eu juro que quando entrei na casa de Jaehyung a última coisa que achei que aconteceria era isso. Achei que a noite ia ser entediante, que passaria horas tentando entender ou fingindo entender as piadas dos meus amigos bêbados, que seguraria a tal latinha de cerveja para fingir estar tomando algo e que seria o primeiro a ir embora. Mas no final, ali estava eu, com aquele garota maravilhosa, podendo e querendo ouvi-la falar sobre qualquer coisa por horas, sem nem querer interrompê-la.
Ela tinha aquela voz suave, o toque delicado e aquele beijo que, não sei dizer se foi o melhor da minha vida, mas, porra, foi bom demais.

Sábado 11:10
Nos dormimos na casa do Jaehyung mesmo, assim como grande parte das pessoas. Eu dormi em um colchão e ela em outro, mas quando acordei, acho que já era tarde, ela não estava mais ali.
O colchão ao meu lado já estava arrumado, o cobertor dobrado e o travesseiro empilhado em cima.
Mas eu ainda não sei o nome dela.
Porra, Mark, como você conversou com ela por tantas horas e não perguntou o nome dela?
Me levantei do meu colchão e, assim como ela, dobrei meu cobertor e deixei-o junto com o travesseiro.
Peguei meu celular, a blusa que estava vestindo na noite anterior e procurei pelo Jaehyung, para agradecê-lo pela "festinha" de ontem e para dar tchau, mas ele ainda estava dormindo. Achei melhor ir embora direto e mandar uma mensagem para ele.
Qualquer coisa, nós vamos se ver durante a semana e aí posso agradecê-lo.
Posso perguntar para ele sobre a garota de ontem também, não posso? Acho que sim.
Sai pela porta da frente e peguei um ônibus para voltar para a minha casa.
Foi só quando eu já estava sentado dentro do ônibus que eu reparei na capinha transparente do meu celular,  na parte de dentro tinha um pedaço de papel rasgado, com alguns números escritos nele. Tirei a capa do celular e o peguei.
Ele estava dobrado e na parte de dentro, com letras pequenas e delicadas, talvez escritas às pressas estava:
"Ei, bom dia! Queria ter encontrado com você (acordado, claro) antes de ir embora, mas tive que sair correndo, porque se não meus pais me matariam por ter voltado mais tarde ainda inda pra casa.
Não trocamos números e eu nem mesmo sei seu nome, aí do outro lado do papel está meu número.
Meu nome é Minyoung e foi um prazer te conhecer, _________ (imagine seu nome escrito aqui ;) )
Se quiser me chamar para conversar, você tem o meu número."
Caralho, eu poderia pular de alegria agora.
Ela chama Minyoung, porra!
Não vou precisar perguntar sobre ela pro Jaehyung, porque sei o nome dela.
Minyoung.
Tenho contato dela também. Porra, eu tenho o contato dela!
Desbloqueio meu celular e insiro o número escrito no papel, nomeando o contato com o nome dela. Logo em seguida já entro no aplicativo de mensagens e escrevo uma.
"Ei, bom dia! Minyoung, aqui é o garoto da noite passada, obg por me passar o seu contato.
Meu nome é Mark ;)"
E aperto para mandar.

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I don't even know her name; {Mark Lee}Onde histórias criam vida. Descubra agora