Eu deixei Nina. Eu me despedi de Margot, Tori, Cody, Abby e meus amigos. Todos se foram e deixaram eu e Nina. Ela por último. Nos disseram que esperariam no carro e desapareceram pelo formigueiro do aeroporto.
Olhei-a, receoso se devia ou não me aproximar, mas querendo desesperadamente. Abri um sorriso triste para ela, o que não era normal. Nina sempre me fazia dar os sorrisos mais felizes que já dei em toda a minha vida.
Ela está com um vestido amarelo cheio de flores brancas, tão leve quanto seu cabelo no vento que vinha da janela do carro enquanto vínhamos. Meu tio sugeriu levá-lo para mim na semana seguinte.
Viemos de mãos dadas por debaixo do excesso de pano que se espalhava pelo banco. Seu dedão acariciava as costas da minha mão com tanto carinho e doçura, que não queria sair dali. Queria morrer ali.
Ela está com uma jaqueta jeans minha e não usa meias coloridas. Usa all star sem meia alguma. Parece cansada e sei que não dormiu a noite porque ainda que tenha tentando esconder, ouvi seu choro do meu quarto. Bati na porta e ela não me deixou entrar.- Você quer se despedir? - Indago Adam, dando passos acanhados em sua direção.
- Sim. - Assente e engole a seco.
Paro a sua frente com olhos semicerrados e um respiro fundo. Ela me abraça com toda a força que tem dentro de si, e isso quase me faz ficar. Retribuo o abraço com todo o amor que emano por ela. Encosto nossas testas e esfrego nossos narizes. Eu quero chorar.
- Não me deixe ir, Nina. - Sussurro
A voz sai quebrada, embargada.
- Você quer ir e você tem que ir.
- Eu não tenho. - Fecho os olhos. - Não me faça ir.
O alto falante do aeroporto aviso algo sobre os portões. Não dou a mínima pra essa porra. A verdade é que quero perder o voo só para poder ficar mais um dia com ela. Só mais um dia.
- Eu te amo, Nina. Muito. - Beijo-na.
- Eu te amo, Adam. Muito.
Beijo-na de novo.
- Promete que não vai esquecer de mim? - Sorri.
- Nunca. - Ela pega minha mão.
- Eu volto para o natal. Até lá, estarei pensando se um dia você vai me aceitar de volta.
- Se, quando estiver formado, você ainda me amar, serei sua. Até lá, faça isso por você e pela sua mãe. Ela teria orgulho.
- Ela diria para eu ficar. Diria para eu não te deixar, Nina.
- Não sabemos o que ela diria.
O alto falante berra mais uma vez. É hora de ir.
- Você é o amor da minha vida. - Beijo sua testa. - Vou lembrar de você todos os dias. De nós.
- Esqueça de mim, Adam. Agora, vá. Vá embora e aproveite seu futuro.
- Eu te amo, Nina. Lembre disso.
- Eu te amo, Adam. Vou lembrar, acredite.
Eu a beijo mais uma vez e parto. Pego minha bolsa e olho para ela até não poder mais olhar. Queria poder olhar para trás até adentrar ao avião, sabendo que ela está lá. E mesmo quando eu chego em Verisya em algumas poucas horas, estou chorando.
Imaginar meus dias sem Nina, ainda que não devêssemos ser dependentes um do outro, me faz sentir acuado, sem saída.Pego o táxi para o endereço do apartamento que irei dividir com mais três pessoas, cada um com seu quarto.
Assim que adentro, após girar a chave, vejo o espaço de paredes azuis, sofá cinza, tapete também azul grosso, uma mesa de madeira, de café, com cadeiras do mesmo material. Há um aparador de carvalho onde a TV fica, perto de uma grande janela onde cortinas brancas estão suspensas no suporte.
Ainda não há ninguém, nem uma viva alma. Os outros caras chegam depois, em algumas semana.Caminho até meu quarto que, segundo a proprietária, é o da primeira porta. Abro a porta e encaro meu novo lar: paredes de um azul mais escuro, duas janelas pequenas com persianas gelo, uma cama de casal com lençóis brancos imaculados, uma mesa de cabeceira onde ficarão meus livros, certamente, e uma cômoda de frente para a cama. Também há prateleiras acima de uma mesa de estudos que fica entre as janelas estreitas e um armário embutido com portas igualmente brancas. Se parece com meu quarto, se ignorar as janelas pequenas e a ausência de caixas de papelão que nunca saem do lugar. Ah, e obviamente, a não presença da mulher que eu amo.
Deito-me a primeira coisa que faço é ligar para Nina. De início, ela não atende, mas, na segunda chamada, sua voz desesperada encontra meu peito, que logo se ver arfando de saudades.
- Nina. - Minha voz sai num sussurro demasiado desesperado.
- Adam. - Ela balbucia, como quem chorou. Embargada, a voz.
- Eu cheguei. - Abro um pequeno sorriso.
- E como é? - Diz em empolgação.
- É ok. Nada demais. - Dou os ombros. Não quero dar grandes explicações para que ela não acredite que eu amei, porque eu não amei.
- Não precisa mentir para me fazer sentir melhor.
- Eu não minto para você, Davis. Não é nada demais. Eu prefiro o seu quarto. - Sorrio. Ela ri. - Eu te amo.
- Eu te amo tanto, Adam.
- Eu não vejo a hora de te ver de novo.
E então passamos pelo menos duas horas na chamada conversando como sempre conversamos. Sobre tudo.
Nina Davis fala, fala e fala. Deposita toda a sua confiança em mim enquanto me conta as coisas mais aleatórias possíveis. Ela simplesmente transforma o que era um medo, no início de nossa história, em algo que não mais existe entre nós. O Silêncio foi exumado, não existe mais entre nós. Agora, a única coisa que nos separa é o tempo. E a distância.
FIM
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O Silêncio Entre Nós
RomansaHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...