Capítulo 10 - Helena

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Já havia se passado 1 dia que Kaayra estava desacordada. Estava cada vez mais preocupada com ela, pois já era para ela ter acordado... Eu e Percy nos revezávamos para ficar com ela, para estar perto quando ela acordasse. Mas nada mudava, ela continuava dormindo. As vezes se debatia na cama, algum sonho perturbando-a, e quase sempre ela falava durante os sonhos. Nunca uma única língua, as vezes falava naquela língua dos anjos, as vezes em português brasileiro, as vezes em espanhol e poucas vezes em inglês. O que ela mais falava em inglês eram nomes e sempre os mesmos: Leo, Helena, Annabeth, Hazel, Urakin e Arthur. Esses dois últimos eu não fazia a menor ideia de quem eram, mas pareciam importantes pelo jeito que ela falava.
Nós também fazíamos a limpeza das asas dela, com nós eu digo, na verdade, apenas o Percy. Como ele controla a água, é muito mais fácil ele limpar do que eu ou Will. Agora dava para ver melhor a cor, era de um azul-esverdeado, como a água do mar do Caribe, mas nas pontas e extremidades das asas, elas eram brancas, tão brancas quanto a espuma do mar.
Percy entrou na enfermaria junto de Annabeth enquanto eu estava presa em meus pensamentos, tentando entender as coisas que ela dizia.

Percy: algo de diferente?
Helena: nada... ela continua nessa, e continua murmurando.
Annabeth: e você conseguiu entender o que ela fala?
Helena: nada. A maior parte do tempo ela fala na língua dos anjos... a única coisa que ela fala em inglês são nossos nomes, o de Hazel, do Leo e de dois outros garotos que não conhecemos.
Annabeth: tenho quase certeza que isso tem a ver com a missão dela...
Percy: ela fala o meu nome também?
Helena: não... ela nunca fala seu nome, na verdade...

Isso visivelmente deixou ele magoado. Acho que era difícil saber que a irmã não chamava por ele, mas sim pela cunhada.

Percy: acha que temos que comunicar o Quíron?
Annabeth: talvez... não sei.

Kaayra estava murmurando algo em português. Eu não consegui entender, então olhei para Annabeth esperando que ela soubesse português.

Annabeth: ela tá falando algo sobre um tal de Ablon e Shamira... está dizendo algo sobre o carinho que eles transmitem a ela.
Percy: são os pais dela. Ablon, o anjo, e Shamira, a feiticeira.
Helena: como você sabe?
Percy: Poseidon me contou uma vez quando questionei sobre a família verdadeira de Kay. Perguntei a ele quando fiz minha oferenda e ele me respondeu em um sonho...
Helena: entendi...
Annabeth: ei, Lena, não se preocupe. Ela está bem, deve acordar em breve...
Helena: eu sei, é que... sinto falta de conversar com ela... você sabe, ela foi minha primeira amiga... é muito triste ver ela assim
Percy: te entendo Lena...

E ficamos em silêncio por um tempo. Vimos Will entrar, era troca de turno dos filhos de Apolo e ele fazia questão de vir para cá o máximo possível.

Will: já deu o néctar e ambrosia para ela?
Helena: sim, mas não parece ajudar muito. Seu irmão trocou as ataduras da asa dela, mas ainda parece que não cicatrizou ao redor delas.
Will: estranho... era pra ter cicatrizado já...
Percy: deve ser algo do gene dela... Nos seus livros não fala nada sobre isso, Sabidinha?
Annabeth: que eu me recorde não, os livros sobre anjos foram escritos por humanos comuns, não tem muita informação totalmente confiável...
Will: de qualquer forma, é melhor vocês irem... já estão servindo o almoço há algum tempo.
Helena: mas...
Annabeth: você precisa comer, Lena... Kaayra não iria gostar de saber que você não está se alimentando corretamente.

Isso foi golpe baixo. Eu queria continuar ali e observar as melhoras dela, estar perto quando ela acordasse, mas Annabeth estava certa... se eu parasse de me alimentar direito para ficar ali, Kaayra me mataria.
A ideia me fez rir um pouco, e acho que eles compreenderam, pois deram um riso curto também. Me despedi de Will e fui junto do casal percabeth para o refeitório, eu realmente estava faminta.
Enquanto comíamos sentados na mesa de Poseidon junto de todos os outros, eu fiquei me prendendo em lembranças. Diferente de Kaayra, que estava desde bebezinha, eu havia chegado ali um tempo depois, poucos dias de diferença (pelo o que Quíron havia dito). Eu já tinha 1 ano quando cheguei ali, não cheguei a conhecer minha mãe, mas pelo o que me foi dito ela quem me trouxe até metade do caminho. Depois um sátiro (o melhor de todos, o Grover) me pegou com ela e me trouxe ao acampamento.
Nunca me disseram também o que havia ocorrido com minha mãe, eu fazia a suposição que ela havia morrido... Mas, de qualquer forma, Kaayra se tornou minha amiga desde aquela época. Claro, ela não sabia falar, nem andar, mas eu sempre estava por perto. Tanto que eu e ela passamos boa parte do tempo juntas na casa da Tia Sally, e acabamos virando amigas até da outra irmãzinha de Percy, da qual Kaayra sentia certo ciúmes.
Lembro do aniversário de 5 anos dela. Percy convenceu a mãe a fazer uma festinha pequena com várias coisas azuis para a Kay. Tia Sally não queria fazer, pois achava que Kaayra não gostava tanto de azul igual o Percy. Mas, bem, Kay era tão viciada em azul quanto o irmão.
Meus aniversários também eram legais assim, eles nunca esqueciam. Mas diferente de Kay, o meu sempre era com coisas pretas. Ou então roxas. E nos meus sempre haviam coisas de terror, do jeitinho que eu gostava. Era incrível a vida com eles, de fato ali estava a minha família. Lembro também da minha primeira missão. Foi algo bobo até, era só para encontrar o cetro de meu pai que alguém havia roubado/ele havia perdido.
Lembro da cara da Kay quando isso aconteceu. Um misto de inveja e felicidade, isso que definia a cara dela, o que era compreensível já que ela nunca recebia missão alguma. Mas ela superou aquilo e até dava risada quando eu fazia ela lembrar daquilo. Fui tirada de meus pensamentos por um toque de Hazel.

Hazel: e então, Leninha, como você está?
Helena: bem, mas preocupada...
Hazel: calma... você sabe que ela vai ficar bem
Frank: sim, além disso, Kaayra é tão forte quanto o irmão.
Percy: não é não...
Hazel: se... *pensando na palavra certa* bobear ela é até mais forte
Percy: ei!!
Helena: é, vocês estão certos...

Terminamos de comer e fomos levantando para ir para nossas obrigações quando Nico apareceu das sombras.

Nico: ela tá acordando.

Saí correndo para enfermaria antes de todos.

Um Milagre Entre SemideusesOnde histórias criam vida. Descubra agora