A Mansão de Churchill

Capítulo 14

Cantiga para não morrer

"Quando você for se embora,

moça branca como a neve,

me leve.

Se acaso você não possa

me carregar pela mão,

menina branca de neve,

me leve no coração.

Se no coração não possa

por acaso me levar,

moça de sonho e de neve,

me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa

por tanta coisa que leve

já viva em seu pensamento,

menina branca de neve,

me leve no esquecimento."

Ferreira Gullar

Ѽ

1896

Fugir em certas situações é inevitável. Quando ele negou beijá-la não pôde continuar naquele lugar. No entanto foi inevitável não esperar que ele ainda assim a seguisse. Mas sua sombra foi a única companhia que teve por entre os corredores obscuros da mansão. Sua sombra e sua vergonha.

"Peça. Peça qualquer coisa e eu o farei."

E ele poderia fazer qualquer coisa, menos beijá-la. O estômago de Eliza se contorce em uma mistura de arrependimento e cacos do seu coração já tão partido. Melhor se o mesmo não tivesse feito tal proposta. Pelos céus! Onde estava com a cabeça ao fazer tal pedido ao homem que és irmão do que se casará?! Somente uma mulher vil e torpe age com tanta ardilosidade.

Ela o ama, com toda sua alma e coração. O ama mais do que gostaria de admitir, mas que o faz mesmo assim neste momento.

 

— Eu o amo. Mesmo não tendo conhecimento sobre tal sentimento, agora o sei, amo o senhor William Hiddleston e sempre o amarei.

Suas palavras soam como uma maldição que estava antes escondida a sete chaves. Se Eliza conhecesse a profecia entenderia o que sua pequena confissão realmente significa e mais, talvez assim entendesse porque ele negou beijá-la quando todo seu corpo clamava por isso.

Um fino sopro percorre pelo corredor lhe causando um leve arrepio na espinha. Rapidamente a jovem checa todo o ambiente a procura de uma janela aberta, mas todas estão trancadas. Não precisa vasculhar o lugar novamente, já sentiu o medo percorrer sua espinha outrora. Um medo sufocante que a faz querer gritar por socorro. Poderia ignorar esta sensação facilmente se não morasse há tanto tempo na mansão. Não há vento entre as paredes velhas e carregadas. O ar neste ambiente é pesado e sombrio. Somente quando as almas presas na casa se revelam é que um frio soprar toca a face de quem estiver por perto.