Capítulo 11

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Eu, distante
Suas atitudes frias
E a minha mente cada vez mais vazia
Imaginando que não deveria

Manuela Freitas

Quando eu acordei no dia seguinte ao aniversário de Andrew, a cama estava fria e ele não estava lá. O medo me atingiu em cheio. Quem era a mulher da ligação? A ex dele? Porque ele ficou tão distante e sensível depois da ligação?

Me levantei, peguei minhas roupas, me enrolei em um lençol e voltei pro meu quarto. Tomei um banho e desci tomar café. Andrew também não estava lá, mais uma vez eu senti uma pontada no peito. Dona Rosa e eu conversamos amenidades enquanto comíamos, quando me levantei para ir trabalhar, ela perguntou:

- Aconteceu alguma coisa ontem? - ela pegou nossas xícaras para lavar - Além de vocês... - seu rosto carregava uma expressão confusa enquanto ela buscava a palavra certa - Você sabe o que...

- Você não o viu hoje? - ela negou com a cabeça e eu respirei fundo - Ontem ele recebeu uma ligação que o fez ficar estranho, quando eu acordei hoje ele não estava no quarto.

- Só pode ser aquela maldita garota! - Rosa deu um soco no mármore da pia e eu pulei para trás - Você é noiva e é errado estar com ele, mas eu tinha a esperença de que agora ele iria superar ela e voltar a ser o meu Andrew! - havia dor nas palavras dela e uma lágrima solitária também - Você não sabe como foi difícil ver ele acabar com a vida dele por uma patricinha! Agora ele estava até voltando a sorrir! - a torneira foi aberta e ela começou a lavar a louça, o silêncio permaneceu e eu aproveitei a oportunidade para sair.

Fui para o meu escritório e olhei a ficha das éguas prenhas, então fui para o pasto dar uma olhada nas que estavam mais perto de parir. Avistei Andrew montado em um cavalo baio, a crina branca dele voava conforme ele galopava em direção as baias. De longe eu sentia a frieza do cowboy, mas ignorei e me concentrei no trabalho.

Continuei meu trabalho e dei uma olhada nos potros. Alguns precisavam de vermífugo e outros ainda precisavam de remédio no umbigo, mas estavam todos fortes e saudáveis. Voltei ao meu escritório onde eu tenho guardado vários remédios e um bom estoque de vermífugo. Peguei o necessário e levei até o curral que eu usaria para fechar as éguas juntamente aos potros. Selei um cavalo e fiz o meu trabalho, passava da hora do almoço quando eu soltei os animais no pasto novamente e fui almoçar.

Andrew estava deitado em uma rede na varanda, ele não me olhou se quer uma vez e eu resisti a vontade de dizer alguma coisa. Pensei muito durante o almoço, é inegável que temos uma conexão, uma coisa forte e intensa, como se nos conhecêssemos anos e fossemos melhores amigos desde sempre, mas agora ele parecia distante, como se eu nem existisse, como se fossemos dois estranhos.

O pior de tudo é que isso me machuca. Eu sei que não devia mas eu me importo, era pra ser só uma transa e agora eu pareço uma adolescente apaixonada. Preciso de um choque de realidade e sei bem onde encontrar.

Subi para o quarto e liguei para Drake, que atendeu bem rápido e com uma voz irritada.

- Você disse que ia ligar!

- Eu liguei! - respondi o óbvio.

- Voce sabe que não é uma vez no mês não é?

- Me desculpa! - eu falei baixo.

- De novo? - sua voz ficou ainda mais alta - Você disse que ia mudar e não mudou Manuela! Parece até outra pessoa depois que arrumou esse emprego!

- Meu emprego não tem nada a ver com isso! - menti.

Meu emprego tem tudo a ver com isso, principalmente o meu empregador. Eu repensei em muitas coisas depois que eu vim pra cá, mas eu não posso admitir que Drake está certo.

- Não tem? Você se preocupar mais com um bando de estranhos que com seu próprio noivo!

- Eu estou aqui e você ai, quer que eu faça o que? - me arrependi assim que percebi o que tinha dito.

- Eu estou trabalhando! - eu ouvi um soco, provavelmente na mesa de seu escritório.

- E eu também! - minha voz se alterou um pouco.

- Você está simplesmente realizando um capricho seu!

- Sim, o capricho de não depender de ninguém! - eu odeio quando ele age como se meu emprego não tivesse importância e o dele sim.

- Eu sou perfeitamente capaz de bancar nós dois, e você tem uma boa herança pra receber, então você não vai depender de mim pra sempre!

- Você sabe muito bem que eu abri mão da minha herança por você! - por mais que eu evite esse assunto, Drake não desiste.

- Nós dois sabemos que ele não pode tirar o que é seu de você!

- Muito pelo contrário! Nós dois sabemos perfeitamente que ele não só pode como vai tirar isso de mim!

- Tenho bons advogados, resolvemos isso rapidinho, é só você sair do meio do mato e aceitar ser simplesmente a minha esposa!

- Com certeza o sonho de toda mulher! - eu disse irônica - Não quero a porra do seu dinheiro Drake! Entenda isso de uma vez por todas! - eu desliguei antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.

Me joguei na cama e respirei fundo tentando conter as lágrimas. Drake parece outra pessoa e eu também, não sei onde nos perdemos, não sei quando a gente parou de dar certo. Quando eu saí da Big River eu tinha certeza do que eu estava fazendo, mas agora eu já não sei se foi a melhor decisão, odeio ser controlada e é exatamente isso que o Drake está tentando fazer, me controlar, me dominar, me tornar a mulher que fica o esperando voltar do trabalho em uma cobertura de luxo vestindo roupas caras. Eu não sou assim, eu nunca conseguiria ser, antes ele não se importava, mas agora parece que é só o que ele quer de mim.

Limpei as lágrimas que insistiram em cair e voltei ao trabalho. Passei o resto do dia pensando em tudo isso, mal vi o tempo passar, quando me dei conta, o céu estava escuro e eu já estava pronta pra dormir, fingir que esse dia ruim depois de tantos bons foi só um pesadelo, amanhã tudo voltaria ao normal.

Apaixonado na VeterináriaOnde histórias criam vida. Descubra agora