A CRIATURA MAIS PURA DA TERRA

69 9 14
                                    

➷➹➷➹➷➹➷➹➷➹➷➹➷➹

Tur sabia que não era nada sensato irritar seu pai, tão pouco quando o assunto eram os seus domínios ou métodos de liderança. Sabia disso e ainda assim havia deixado claro ser contra tudo que ele julgava correto.

Era horrível ser julgado como monstro, era horrível sempre ser mencionado como alguém ruim, ou das trevas.

No mundo, alguém tinha de fazer todo o trabalho sujo, alguém precisava sujar suas mãos, alguém tinha de punir os pecados e os pecadores, alguém precisava fazê-los se arrepender e enxergar onde haviam errado, as pessoas só não eram capazes de entender isso. As pessoas só não queriam entender isso.

A maldade existia em sua essência, mas todos tinham um pouquinho de maldade dentro de si, uns só não conseguiam lidar tão bem quanto outros.

Tur sabia que tudo mudaria com sua transformação completa, mas se havia algo que desejava incondicionalmente, era não perder sua essência, sua consciência.

Se tivesse de passar por esse processo, que ele não interviesse em seus planos. No fim, só não queria se tornar um monstro ao qual todos repudiam.

[...]

Gien havia sido criado sob os ensinamentos da igreja, onde Deus deveria ser o "Ser" maior e mais poderoso de todo o mundo, o criador de tudo e todos, aquele ao qual era imensamente devoto desde criança. Não havia sequer um dia que ele não orasse aos céus e agradecesse.

Havia crescido em um orfanato de freiras, ao qual deixou para trás assim que se tornou maior de idade. Sempre foi grato aos ensinamentos das irmãs, mas não poderia se permitir ser um irresponsável que continuaria a viver de sua bondade. Foi aí que decidiu arrumar um emprego, conquistar as próprias coisas e orgulhá-las.

Gien era um garoto doce e educado que buscava sempre ajudar ao próximo. Um garoto de coração e alma puros, um garoto que jamais conheceu o mal de perto. Na Terra não existia alguém mais amado e mais admirado. Todos o conheciam como: "anjo de Deus", um título que julgava exagerado para si, um mero mortal.

Para Gien, as pessoas tinham direito de escolher o caminho de suas próprias vidas, por mais que esse caminho os levasse à atitudes que muitos julgavam como ruins. Para ele tudo tinha um motivo, uma justificativa plausível.

Eis a desvantagem de se possuir o livre arbítrio, o pecado sempre reinava por perto e o mal, era sempre um caminho de tentações e falsas facilidades. Ainda que ruim, não era sem volta.

De joelhos dobrados junto ao chão degradado pelo tempo e olhos fechados em devoção, Gien orava e reforçava sua fé. A pequena capela vinha sendo o seu lugar favorito desde garoto, o lugar que apaziguava seu coração que era sempre ansioso e frágil, o lugar que ele retirava os seus medos e dúvidas, que o deixava mais leve.

Todos os dias, por volta do mesmo horário, estaria lá com os joelhos dobrados junto ao chão.

Com as mãos unidas sobre o peito, corpo tranquilo e mente elevada aos céus, o jovem agradecia e pedia por cada uma das pessoas que viviam naquela pequena cidade, fossem ricos, pobres, brancos ou negros, homens ou mulheres, pedia por cada um, por cada planta ou animal, por cada pequeno ser com vida.

— Senhor, ouça o pedido sincero deste humilde filho. Guiai e protegei cada um dos moradores da vossa Terra, perdoai os pecadores e mostrai-lhes o caminho da luz e bondade infinita. Perdoe-os, pai, pela fragilidade e inocência, pelos erros e descrenças. Guie-os com a tua palavra sábia e lhes faça feliz. — pronunciava cada palavra suavemente, lento. O seu pedido de todos os dias nunca era para si mesmo, apenas aos outros, sempre aos outros.

HaloOnde histórias criam vida. Descubra agora