Afogar

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Olá pessoal, voltei com o ponto de vista do Wanyin, caso você não tenha lido existe a one shot com ponto de vista do Xichen chamado "Tocar", deem uma olhada por favor. 

Música tema: Maria Bethânia - "Eu Que Não Sei Quase Nada do Mar" - Ouçam por favor. Créditos a maravilhosa @Kindgato por me mostrar essa música. 

Também postada no AO3.


~*~


Jiang Wanyin demorou para descobrir o que era se afogar.

Como uma criança de Yunmeng, já saiu do ventre amando a água, ainda bebê seus pequenos e gordinhos braços se agitavam quando via um dos lagos de lótus, até mesmo os seus primeiros passos foram em direção à um deles (local que virou o lugar de descanso de sua mãe), se você precisasse encontrá-lo bastava ir até um dos lagos.

A água era sua felicidade, sua melhor amiga depois dos cachorrinhos, que depois lhe foram tirados, quando estava submerso não ouvia as brigas, restava apenas a calmaria, por isso ele ficou confuso quando sua mãe o puxou do grande lago quando era pequeno, ele não entendia porque ela estava gritando, estava atordoado demais para entender, até que ela o abraçou e disse:

-Você poderia ter se afogado.

Aquela palavra ficou gravada em sua mente, ele nunca a tinha ouvido antes, então resolveu perguntar:

-A-Li, o que é afogar?

A pergunta pegou sua irmã de surpresa, tanto que ela parou de descascar as sementes de lótus.

-Afogar é quando você morre na água A-Cheng.

Morrer na água? O pequeno não sabia que era possível morrer na água, a água era tão gentil, sempre lhe abraçava quando ele se sentia sozinho, então ele tomou uma decisão.

-Então eu quero me afogar.

Parecia perfeito, mas ele não entendeu porque YanLi ficou tão brava.

Algumas semanas depois ele viu o que significava se afogar.

Era um dia muito quente, e ele e os outros garotos estavam nadando até que seu irmão começou a fazer movimentos engraçados dentro da água, Wanyin nunca tinha visto aquilo, era uma nova brincadeira?

-A-Xian está se afogando. - sua irmã gritou.

Então aquilo era se afogar, mas porque parecia tão dolorido? A água não gostava do seu irmão e estava o machucando? Seu irmão se debatia e de repente seu pai o tirou da água, batendo no peito até que cuspisse água, logo seu irmão começou a puxar o ar com desespero. A próxima coisa que sentiu foi seu corpo sendo puxado da água com força, e o seu pai gritando com ele.

-O que pensa que está fazendo? Você quer matá-lo?

Ele não queria matar o irmão, por quê ele pensava que ele queria?

Seu pai disse mais alguma coisa antes de soltá-lo, mas ele não ouviu, só conseguia pensar em como aquela foi a única vez que seu pai realmente o olhou.

Ele sempre se perguntava como eram os olhos do pai de perto e agora se arrepende, pois aqueles olhos diziam que o homem desejava que fosse ele no lugar do irmão.

Se afogou pela primeira vez depois que perdeu tudo.

Sentiu as ondas de desespero entrarem em seus pulmões o impedindo de respirar, fazendo todo seu corpo torcer, ele tentava se agarrar em algo, mas não havia nada, nada para ajudá-lo, nenhuma mão para puxá-lo, sem que percebesse as lágrimas começaram a cair de seus olhos, e ele chorou.

Estava sozinho.

Todos tinham o abandonado.

Wanyin estava se afogando, só que no seco, se afogava dentro do seu quarto e o oceano era a dor em seu peito.

E ele pensou que fosse morrer, que era melhor estar morto, que queria estar morto, mas então ele ouviu.

Aquele choro.

E voltou a respirar.

Ele não podia morrer, Jin Ling ainda estava ali, ele não poderia abandoná-lo, ele não se afogaria, afinal Jin Ling sempre foi seu último suspiro, aquilo que o puxava à superfície.

Foi então que percebeu que não precisava estar na água para se afogar.

Que haviam vários modos de se afogar.

E acima de tudo, nunca pensou que ele o afogaria daquele modo.

A primeira coisa que sentiu foi ansiedade e nervosismo, seu coração batia descompassado e seu corpo tremia. Tudo começou devagar, as ondas tomaram conta de seu corpo lentamente, o embalando carinhosamente, aquilo ia se arrastando pela sua pele, mas aquela onda não era fria, pelo contrário era quente como o sol que queima o Pier Lótus no verão.

E então a primeira onda veio, forte, enchendo seus pulmões e tomando seu ar. Seu corpo sacudiu e suas mãos agarraram algo macio. Quando Cheng pensou que poderia respirar ela veio de novo, e de novo, e de novo até que o oxigênio abandonasse totalmente seu corpo que queimava como nunca.

Sentia que fosse explodir.

Então juntou seu último suspiro e o chamou.

-Xi...Xichen.

O homem parou seus movimentos e ergueu a cabeça. Aqueles olhos estavam fervendo como se tivesse encontrado um grande tesouro, e então Xichen sorriu, retirando os dedos que abriam seu corpo, sua respiração também estava descompassada e então ele diz algo e começa a lhe tocar com a boca.

O novo toque enviou novas ondas pelo seu corpo, essas eram quentes e úmidas e o abalou a ponto de se esquecer como se respira, mas Xichen não ligava para sua falta de ar, continuava lhe tocando com as mãos e os dedos como um de seus instrumentos.

E quando pensou que não poderia afundar mais, a boca dele grudou na sua roubando totalmente o seu fôlego, acariciando sua língua com a dele, fazendo-o sentir seu gosto. Wanyin percebeu que queria mais, queria que o Xichen o deixasse submerso, que o levasse totalmente, que suas ondas o preenchessem até que seu pulmão falhasse e ele quebrasse.

Queria se afogar em Xichen, se envolver com todo o seu ser que o outro o levasse até a borda.

E foi o que pediu.

Naquele momento quando Xichen lhe olhou com os olhos cálidos ele percebeu que estava completo.

Xichen acatou seu pedido, o preenchendo completamente e Jiang pensou que fosse colapsar, seu corpo entrou em combustão e aquelas ondas agora mais fundas e intensas o fizeram clamar alto.

Aqueles braços juntaram os retalhos de seu corpo e os transformou em uma obra de arte, ele o acariciou por fora e por dentro, despejando seu amor dentro de si a ponto dele achar que não iria caber. Ele não merecia, não merecia Lan Xichen, era indigno desse amor, mas Xichen o fazia se sentir merecedor.

Queria que Xichen o empurrasse até o limite, que descobrisse todos os segredos de seu corpo, que o afogasse até que tudo o que restasse fosse seu nome nos lábios.

E ele o fez.

Fez até que seu corpo transbordasse.

Xichen o inundou com o seu amor e depois o tomou em seus braços e acariciou até que a escuridão o tomou.

Jiang Wanyin nunca pensou que pudesse se afogar no fogo.

Mas Xichen fazia o impossível acontecer.

A vida inteira ele esteve se afogando e pela primeira vez aquilo não o machucava.

Ele não estava mais sozinho depois de tudo.



E então?

Leiam também o ponto de vista do Xichen "Tocar".

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