Capítulo 3 - Parte Dois - A

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Na manhã seguinte, pela primeira vez em anos, Gerard realmente acordou por conta própria. Sem despertadores ou mães esmurrando portas, apenas o sol matinal, brilhando no ângulo perfeito para encher seu quarto com a luz fraca. Ele de repente pulou para fora da cama, acordando de um pesadelo sobre aranhas com algumas viúvas-­negras medonhas, um cheiro forte e úmido nos lençóis. Por um momento ele piscou na luz, sem ter ideia de onde estava, onde ele tinha acordado. Então ele lembrou que estava preso na porra de Vermont, que ele tinha que andar até a escola, que Mikey não estava no quarto ao lado e que Gabe e Pete não estavam em nenhuma de suas aulas. Que seu dia estava se esticando desesperançoso à sua frente.

"Pooooorra", ele grunhiu em seu travesseiro e fez um esforço valente para voltar a dormir. Inutilmente. Ele abriu um olho e fuzilou a grande janela saliente com todo o ódio que cabia em seu corpo. Primeira coisa essa noite: ele iria arrumar um pote de tinta preta e cobrir toda aquela merda. 

Ele finalmente se arrastou escada abaixo e cutucou a cafeteira por um momento até aquilo parecer funcionar. Então parou, zumbizando, observando o pote encher lentamente. Ele realmente não queria lidar com todas as merdas do ensino médio hoje. Ele não estava ávido para encenar uma reprise do encontro da manhã anterior. Ele poderia ir realmente cedo e se esconder em algum lugar onde Ted não pudesse achá-­lo ou poderia ir realmente tarde e cabular geometria no último minuto.

Porra. Geometria.

Ele recolheu seu café e o depositou sobre a mesa junto com seu dever de casa, respondendo as questões em ondas trêmulas e adicionando pequenos demônios esquiando pelas laterais do papel. Ele desejou que matemática envolvesse mais desenhos e outras merdas. Eles já haviam feito aquilo duas vezes em Belleville, então ele terminou o dever bem rápido. E então não havia nada para fazer além de acabar com o café e encarar a janela e a rua malevolamente iluminada pelo sol.

Antes de sair — tarde o suficiente para perder o primeiro sinal por um minuto ou dois, ele esperava — ele olhou no espelho por um momento. Um longo hematoma arroxeado estava se formando pela sua mandíbula onde Ted havia o empurrado na caminhonete. E o canto de sua boca estava inchado, vermelho escuro e escamoso. Que atraente. Ele hesitou um momento antes de pegar seu lápis de olho Sephora preto-­carvão e contornar seus olhos, ainda mais grosso dessa vez. Nunca deixe­os ver que você está assustado, certo? 

Do lado de fora, o vento tinha finalmente diminuído e o céu estava perfeitamente limpo, o tipo de azul brilhante e sem nuvens que apenas acontecia no outono. As ruas estavam quase totalmente vazias; um carro distante passava lentamente através de uma intercessão entre dois quarteirões, mas além daquilo ninguém mais estava do lado de fora. Na casa ao lado ele podia ver uma senhora espiando-­o por entre as cortinas e fazendo gestos como se estivesse limpando a janela com um pano úmido enquanto o encarava, como se aquilo não fosse completamente assustador. Gerard fez um pequeno círculo no ar com seu dedo do meio levantado em direção à mulher, as cortinas fechando-­se imediatamente. 

"Poooooorra de cidade esquisita", Gerard reclamou para si mesmo e continuou andando.

Ainda havia um considerável grupo de estudantes pelo estacionamento quando ele chegou lá, mas nenhum sinal de Sikowski ou seus companheiros. Porém, sua caminhonete ainda estava lá, com seus chifres estupidamente chamativos. Gerard estava bastante tentado a desfigurar aquilo. Talvez cuspir na caminhonete ou algo assim.As pessoas trancam os carros, né? Deve ser melhor voltar mais tarde naquela manhã e cobrir a lataria com arcos rosas e adesivos do Orgulho Gay. O lado ruim daquilo era o fato de que o culpado pelo ato seria bastante óbvio... e então Ted iria espancá-­lo até a morte. 

Senhora Hall estava emocionada ao vê-­lo. Aparentemente o dever de casa era para quinta-­feira e ele inadvertidamente havia feito cedo demais. Porquê ele realmente precisava parecer ainda mais como um grande geek. Ted estava sendo ainda mais babaca por conta daquilo, mas o cara ao seu lado, Jaqueta de Couro #2, Isaac Barrows, ou algo assim, estava franzindo o cenho genuinamente para Gerard e reclamando que ele estava sendo um filho da puta de um exibido. Tanto faz.

Anatomy of a Fall (portuguese version)Onde histórias criam vida. Descubra agora